Imagine a região metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) com metrô ligando Nova Lima a Confins e Betim a Sabará. Em paralelo, o antigo trem de passageiros revitalizado e funcionando a todo vapor, sob trilhos já existentes ou em novos traçados. Para completar, além do tão esperado Rodoanel, alças viárias ainda mais amplas circulando as 34 cidades da região e conectando polos importantes de Minas Gerais.
Esse “mundo perfeito” em termos de mobilidade urbana mais parece um sonho inalcançável diante de uma realidade bem diferente – em que apenas uma linha de metrô atende a população da capital e de Contagem e em que o Anel Rodoviário, atualmente via urbana, está saturado. O cenário ideal, no entanto, está projetado para 2050 no Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado da Região Metropolitana de Belo Horizonte (PDDI-RMBH).
O documento, já aprovado pelo Conselho Deliberativo de Desenvolvimento Metropolitano, serve para nortear decisões do Estado e dos municípios. É dele que sairão as principais diretrizes para a construção do Plano de Mobilidade da Região Metropolitana, atualmente em licitação pelo governo do Estado, que irá atualizar e detalhar os projetos elaborados anteriormente e apontar o que realmente deve ser feito.
Mas qual seria o plano de mobilidade ideal? De acordo com o PDDI, isso passa por uma reestruturação que vai além do transporte e envolve a organização territorial. “Temos previsão de descentralização da metrópole. Hoje, Belo Horizonte é o único grande centro, e há uma forte dependência dos municípios pelos serviços ali oferecidos, o que cria uma série de dificuldades de mobilidade, poluição e tempo”, diz a diretora geral da Agência RMBH, Flávia Mourão.
A proposta é induzir o desenvolvimento de três novos centros que já têm tendência para isso: Nova Lima, Betim e Ribeirão das Neves. Em Nova Lima, segundo Flávia, o projeto urbanístico C-Sul, que vislumbra transformar a lagoa dos Ingleses em uma espécie de minicidade, já seguiu as diretrizes do PDDI.
Em proporção um pouco menor, são projetados também os subcentros, como Venda Nova (capital), São Benedito (Santa Luzia) e Morro Alto (Vespasiano) – veja detalhes ao lado. Para fortalecer esses polos, os sistemas de transporte (rodovias, linhas de trem, metrô) têm papel fundamental. “Objetivo não é esvaziar o centro de BH, mas proporcionar o desenvolvimento de outros centros. E o que vai induzir a reorganização do espaço é o sistema de transporte”, argumenta Flávia.
Trilhos
Para ligar BH aos centros metropolitanos e também aos subcentros que sejam limítrofes, o PDDI sugeriu o metrô pelo desempenho dos sistemas sobre trilhos, embora isso possa ser alterado para o BRT ou outros modais de alta capacidade. Dentro desse “ideal imaginário”, inserido nas 1.538 páginas do PDDI, foram definidas cinco linhas de metrô, em 225 km.
O plano vislumbra ainda a ativação, a curto prazo, do trem de passageiros, aproveitando a malha ferroviária já existente. São 300 km de trilhos atravessando 19 municípios.
Outra expansão para o desenvolvimento metropolitano seria da malha rodoviária. O PDDI aponta a construção, para 2023, dos rodoanéis Norte, Sul e Leste, que formariam o Anel de Integração Metropolitana. O Plano Diretor ainda prevê a implantação de um Anel maior, chamado de Anel do Entorno Metropolitano (até 2050).
Plano diretor
Entenda. O PDDI foi elaborado por pesquisadores da UFMG e outras instituições de ensino e concluído em 2011. Acompanhado do Macrozoneamento, deve seguir este ano para Assembleia.
Análise: Muita teoria para pouca prática
Em 1974, a então Secretaria de Estado de Planejamento e Coordenação Geral elaborou o Modelo Metropolitano de Transporte Integrado (Momti), já pensando em formas de conexão entre os sistemas da capital e seu entorno. Hoje, 42 anos depois, esse e outros 28 estudos são usados como referência para a elaboração do Plano de Mobilidade da Região Metropolitana, que está sendo licitado.
Na prática, no entanto, a produção não acompanha a teoria. Até hoje não há um sistema completo de integração física e tarifária dos transportes da região metropolitana, fora as grandes obras que não saíram do papel. “O que incomoda é o fato de não termos dinheiro. Estamos passando por mais uma crise, que adiou muitos projetos, como o Rodoanel”, justifica a diretora geral da Agência RMBH, Flávia Mourão.
O Plano de Mobilidade deverá seguir as diretrizes do Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado da Região Metropolitana de Belo Horizonte (PDDI-RMBH), que, embora ainda precise passar por aprovação da Assembleia Legislativa, “já tem força de lei”, segundo Flávia.
Entretanto, o professor do Departamento de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Nilson Tadeu, que participou da construção do PDDI, critica o fato de o Plano Diretor não ter informações atualizadas, como o Move. “Fizeram o Plano Diretor antes da pesquisa de origem e destino. No fim, gastaram uma fortuna para nada”, comenta Tadeu. Flávia Mourão defende, por outro lado, que o PDDI é um projeto em permanente atualização.
“Estamos em uma caminhada de cem anos”, completa a diretora geral sobre as perspectivas de realização das propostas. Além do Plano de Mobilidade, a Agência RMBH está finalizando um termo de referência para contratar a instituição que fará o Plano Logístico de Distribuição de Cargas da região metropolitana. (LC)
Saiba mais
Edital: cinco empresas apresentaram proposta na licitação do Plano de Mobilidade da capital e estão sob análise. A meta é concluir a concorrência em outubro. Com valor de R$ 4,4 milhões, o contrato terá execução de 15 meses.
Promessas: os projetos básicos para modernização e expansão das linhas 1, 2 e 3 do metrô estão concluídos e entregues ao governo federal. O da Linha 4 (Nova Eldorado/Betim), que inclui metrô e VLT, está em elaboração. Já o Rodoanel está em fase de revisão de projetos.
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