Há pontos do Recife em que faixas de pedestres fazem falta, levando quem se locomove a pé a se arriscar. Foto: Alfeu Tavares/Folha de Pernambuco
De todos os momentos do trajeto, o da travessia é o que mais expõe quem se desloca a pé. É quando se desce da calçada para ficar no mesmo nível dos veículos. A faixa de pedestre é o local mais adequado. O problema é que nem sempre está onde é necessária.
A manutenção delas ou a construção de passarelas são iniciativas nem sempre levadas à frente pelo poder público. Diante de estatísticas alarmantes, como as que revelam um atropelamento a cada sete minutos no Brasil, discussões como essas voltam à tona no Dia Mundial do Pedestre, celebrado nesta segunda-feira (8). É a luta por um trânsito mais humanizado.
Apesar das seis mil faixas de pedestres espalhadas pelo Recife, ainda há pontos hostis à mobilidade a pé. E não é pura má vontade em seguir até o local de travessia mais seguro. Há lugares em que essa é uma tarefa inglória.
O trecho inicial da avenida Domingos Ferreira, no Pina, Zona Sul do Recife, é um deles. Em 2004, quando o fluxo foi invertido na via, uma parte do canteiro central foi removida. Em 2013, o equipamento sofreu um novo recuo para facilitar a saída de um shopping da região. Os pedestres, que tinham um refúgio entre uma pista e outra, agora se arriscam para atravessar seis faixas de rolamento de uma só vez, sem semáforo ou qualquer proteção.
Mesmo com o perigo, é a opção escolhida por quem não quer caminhar quase meio quilômetro até as faixas de pedestres mais próximas. “Se colocassem alguma faixa ou sinal, seria melhor. É um lugar de muitos estabelecimentos, onde as pessoas precisam passar. Já teve acidente aqui”, conta o recepcionista Riteclife Costa, 31, que costuma atravessar no local.
Na Ponte Estaiada, num dos acessos à Via Mangue, também há risco. “A ponte tinha uma área só para pedestre. Depois, construíram tudo isso aqui e esqueceram quem precisa atravessar”, diz o carroceiro Márcio da Silva, 35. No local, pichações numa mureta de proteção expõem o descaso: “E o pedestre? Atravessa voando?” A promessa é de uma passarela, que, segundo a URB, será licitada ainda neste ano.
Soluções
Experiências adotadas em outras cidades, inclusive brasileiras, mostram soluções simples e com baixo custo. Elas misturam contagem de tráfego, redução de velocidade, sinalização e rigor na fiscalização.
Em março, Curitiba ganhou “calçadas verdes”, extensões dos passeios públicos demarcadas em áreas ociosas de ruas e avenidas, no mesmo nível dos veículos. São pedaços de cruzamentos e canteiros à disposição dos carros, mas pouco utilizados nas manobras. Passam, então, a ser usados por pedestres como refúgios, aproximando os dois lados de uma travessia. Para manter a segurança, são pintados de verde e recebem tachões. A iniciativa é testada em zonas de baixa velocidade.
Outra iniciativa, essa de São Paulo, é a implantação de faixas de pedestres diagonais. Inspirados em modelos japoneses, os equipamentos simplificam o ir e vir em cruzamentos com muitos semáforos. Reduzem o tempo de travessia e até inibem pessoas “apressadinhas” de se arriscarem.
Calçadas verdes em Curitiba. Lucilia Guimarães/IPPUC Curitiba
Inspiradas em modelos de Nova York, as “calçadas verdes” chegaram a Curitiba (PR) em março deste ano. São refúgios para pedestres durante a travessia instalados em pontos antes ociosos.
Ficam em cruzamentos ou perto de calçadas físicas. São demarcados de verde para chamar a atenção, já que a cor é pouco usada em sinalizações de trânsito.
“Martelos” urbanos
O modelo é comum nas ruas de Lyon, na França. Nas esquinas, as calçadas são projetadas para a via - num formato parecido com o da ponta de um martelo -, resguardando a área de travessia. O objetivo é inibir que veículos estacionem sobre a faixa. É associada à redução de velocidade.
Faixas diagonais em São Paulo. Foto: Fernando Pereira/Prefeitura de São Paulo
Adotadas em São Paulo, as faixas de pedestres diagonais reduzem o tempo de travessia em cruzamentos com semáforos diversos. Assim, passa a ser desnecessário seguir para um lado da via e esperar um segundo tempo semafórico para poder completar o percurso até a outra esquina, inibindo posturas arriscadas de pedestres mais “apressadinhos”.
O plano recifense para travessias
No Recife, soluções são pensadas no Plano de Mobilidade, previsto para o fim do ano. Elas passam por propostas como as de criação de ilhas de travessias e pela conversão de canteiros ociosos em pontos de refúgio. O remodelamento de calçadas é outra estratégia. A ideia é alargá-las nas esquinas, projetando-as para a via. Os “martelos urbanos”, como são conhecidos, asseguram que nenhum veículo estacione na área de travessia.
Conforme o secretário-executivo do Instituto Pelópidas Silveira (ICPS) e coordenador do plano, Sideney Schreiner, além de propostas de mudanças geométricas em vias, a redução da velocidade dos veículos também é avaliada, inclusive a possibilidade de implantação de mais Zonas 30, como no Bairro do Recife.
“Hoje, a concepção se baseia no limite de velocidade. Queremos ampliar, estabelecendo diretrizes para travessias, definindo onde serão implantadas plataformas elevadas e fiscalização eletrônica”, diz. A ideia é que a iniciativa se concretize no entorno de escolas e mercados. É estudada ainda a implantação de mais passarelas e semáforos de pedestres.
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