Da esquerda para a direita, Simone Villas -Boas e Rafael Rigaud, ambos do Mobilidade Urbana Freguesia; e Carolina Queiroz, do Ciclo Rota Jacarepaguá. Foto: Zeca Gonçalves / Agência O Globo
Nos últimos anos, o bairro de Jacarepaguá foi impactado por iniciativas governamentais que tinham como objetivo promover uma melhora na mobilidade urbana da região. Desde a implantação do BRT Transcarioca, em 2014, foram muitas as mudanças que influenciaram diretamente o vai e vem de moradores. A racionalização de linhas de ônibus e, mais recentemente, a chegada do corredor Transolímpico — que liga o Recreio a Deodoro, cruzando Jacarepaguá — são exemplos de esforços do poder público para abrir os caminhos de um trânsito cada vez mais saturado.
Para parte dos moradores, no entanto, ainda há muito o que fazer para que haja melhor mobilidade dentro do bairro e um deslocamento mais eficaz para outras regiões da cidade. Muitos estão organizando projetos e pedidos que reivindicam novas opções de transporte, criação de ciclovias e ciclofaixas, retorno de linhas de ônibus extintas, além da chegada do tão sonhado metrô.
O movimento Mobilidade Urbana Freguesia é responsável por uma petição on-line com mais de 1.300 assinaturas que pede a chegada da malha metroviária a Jacarepaguá. Segundo Rafael Rigaud, integrante do grupo, quando o número de adesões chegar a dois mil, o documento será enviado para a prefeitura. Ele acredita que os últimos investimentos públicos na área não são suficientes para atender moradores de todas as regiões do bairro.
"Os BRTs Transcarioca e Transolímpico não contemplam a Freguesia e o Pechincha, que continuam com poucas opções de transporte coletivo para atender um número cada vez maior de moradores. Eles acabam optando pelo carro e geram engarrafamentos cada vez mais frequentes", diz Rigaud.
O texto sugere a construção de uma estação no Largo da Freguesia e uma ligação subterrânea a uma futura estação na Alvorada, na Barra. Pede ainda ciclovias e a implantação de linhas de ônibus que interliguem diretamente o bairro à Barra e ao Méier. Com relação aos frequentes pedidos da população pela chegada do metrô, o governo do estado diz que novas expansões, incluindo para Jacarepaguá, estão previstas dentro do Plano Diretor Metroviário, em fase de elaboração pela Secretaria de Estado de Transportes (Setrans).
Preocupados com o aumento do fluxo de veículos nas ruas, alguns procuram alternativas ao carro. Arquiteta e urbanista, Carolina Queiroz, moradora da Taquara, é uma das organizadoras do Ciclo Rota Jacarepaguá, movimento que defende a criação de uma infraestrutura cicloviária no bairro. A proposta consiste na elaboração e implementação de um plano cicloviário para conectar Jacarepaguá à Barra e ao Recreio.
"Sabemos que não há como colocar ciclovias em todas as ruas, mas as ciclofaixas são mais fáceis de serem concretizadas. O que temos em Jacarepaguá são calçadas pintadas de vermelho, compartilhadas com pedestre. Temos que desmistificar o comportamento sobre o uso do carro porque tem um custo para o ambiente", diz.
De acordo com a Secretaria municipal de Meio Ambiente (SMAC), Jacarepaguá tem 20 quilômetros de ciclovias interligadoras, número considerado insuficiente por integrantes do Ciclo Rota. A SMAC confirma, no entanto, que estão previstos projetos de ampliação da malha cicloviária para o próximo ano.
Segundo a secretaria, o Plano Diretor Cicloviário está elaborando os traçados para a implantação de ciclovias em trechos solicitados por moradores. Mas, ao ser questionada, não soube informar quais ruas receberão os investimentos.
Um dos pontos mais controversos e que vem causando um acalorado debate é a proposta da Associação de Moradores e Amigos da Freguesia (Amaf) de criar novas vagas de estacionamento para automóveis no bairro. Intitulado Vaga Livre, o projeto vem enfrentando resistência. Para Simone Villas-Boas, do movimento Mobilidade Urbana Freguesia, se concretizada, a iniciativa tende a estimular o uso do carro por parte da população e, consequentemente, contribuir para o aumento dos engarrafamentos.
"As ruas da Freguesia não foram projetadas para absorver esse número grande de carros que já circula. O bairro vem sofrendo com o aumento desenfreado de novos empreendimentos habitacionais desconsiderando-se qualquer estudo preliminar de impacto, seja ambiental ou de tráfego. Em vez de vagas, lutamos por uma rede de transporte eficiente. Queremos a volta de linhas de ônibus suprimidas, integração com o metrô em toda Jacarepaguá e o próprio metrô, que já deveria ter chegado há anos por aqui", reivindica Simone, que vê no projeto da Amaf um retrocesso na mobilidade da região.
Guilherme Azeredo (à esquerda) e Jorge da Costa, presidente e vice da Associação de Moradores e Amigos da Freguesia em calçada considerada ideal para instalação de vaga. Foto: Marcelo de Jesus / Agência O Globo
Camila Queiroz, do Ciclo Rota Jacarepaguá, critica o Vaga Livre e se diz contra o avanço do projeto.
"O que estão querendo fazer vai na contramão da política pública atual. No Centro, acabaram com 1.500 vagas e estão priorizando novas alternativas de transporte, como o VLT. É uma tendência mundial. Quando se cria uma vaga, você gera uma demanda, estimula o cidadão a sair de casa com o carro até para distâncias curtas", opina.
Um dos pontos em defesa da criação de novas vagas é a possibilidade de oferecer estacionamento a visitantes de prédios comerciais e residenciais, assim como facilitar o trabalho de carga e descarga. Jorge da Costa, vice-presidente da Associação de Moradores e Amigos da Freguesia (Amaf), explica que a medida visa a atender a demanda nas áreas adjacentes ao centro da Freguesia. Ele acredita que a criação das novas vagas não estimularia o uso de carros por parte dos moradores.
"A ideia não é oferecer estacionamento ao morador. Nossa preocupação é com quem vem de fora, não tem onde parar e acaba tendo o carro rebocado. Se conseguirmos criar 40 vagas já é muito. Propomos colocá-las apenas onde seja possível", diz o vice-presidente da Amaf, que reclama da ineficiência do transporte público na região e ressalta a necessidade de opções de transporte de massa, como o metrô.
A subprefeitura da Barra e Jacarepaguá informa que ainda não recebeu nenhum pedido da Amaf para a criação de novas vagas na Freguesia, mas se posiciona a favor da criação de baias de estacionamento e da regulamentação de vagas por período único, ou frações de duas ou quatro horas, dentro do sistema Rio Rotativo.
Nos próximos meses serão criadas vagas na Rua Geminiano Góis com a construção de novas baias. Projeto semelhante foi formulado para a Estrada do Gabinal e será implantado em breve. De acordo com a subprefeitura, a criação das baias viria atender a pedido dos comerciantes que, nos últimos anos, têm sido afetados pela falta de vagas na região em função do aumento do número de moradores e veículos.
Outro item que continua a gerar reclamações de moradores de Jacarepaguá é o processo de racionalização de linhas de ônibus no bairro, promovido pela prefeitura em razão da implementação do BRT. De acordo com usuários, linhas consideradas fundamentais foram extintas, o que prejudica a mobilidade de quem opta pelo transporte público. Para a corretora de imóveis Daniela Dias, também do movimento Mobilidade Urbana Freguesia, conexões diretas com bairros da Zona Norte foram sacrificadas em prol dos ônibus articulados.
"A prefeitura hoje nos obriga a usar o BRT. Quem sai da Freguesia e deseja ir até o Madureira Shopping precisa pegar três conduções. Problema parecido de quem sai do Pechincha para o Recreio. Antes tínhamos ônibus direto, mas com a extinção da linha 753 somos obrigados a descer na Alvorada e pegar o BRT Transcarioca, que já está saturado, e o Transolímpico, que para nós não serve", reclama a moradora da Taquara, que também pede o retorno das linhas 734 (Rio das Pedras x Mercadão de Madureira) e 766 (Cardoso Fontes x Madureira Shopping).
A secretaria municipal de Transportes (SMTR) não informa sobre um possível retorno das linhas 753, 734 ou 766. No entanto, diz que vem promovendo desde o mês passado ajustes em linhas que circulam por Jacarepaguá, mais precisamente pelas áreas do Camorim e da Gardênia Azul. O 636, que antes ia da Praça Seca até a Saens Peña, na Tijuca, voltou a operar no dia 11 de julho com o itinerário prolongado até a Gardênia Azul, onde passou a fazer ponto final. Com objetivo de melhorar a ligação de Jacarepaguá com a Zona Norte, a linha 611 teve o trajeto estendido de Curicica ao Camorim, com destino a Del Castilho, fazendo a ligação com a linha 2 do metrô.
Um dossiê elaborado por integrantes do movimento Mobilidade Urbana Freguesia foi entregue em 2015 à subprefeitura com propostas que visam à mobilidade do pedestre. Entre as propostas estão maior fiscalização das calçadas para coibir o comércio e o estacionamento irregular. Morador da Freguesia, o aposentado Cândido Oliveira encontra dificuldades para empurrar a cadeira de rodas do filho Rafael, diagnosticado com paralisia cerebral.
"Um grave problema é a falta de educação de motoristas. Além de carros estacionados irregularmente, ainda tenho que desviar de calçadas esburacadas", lamenta.
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