Estrangeiros sofrem para tentar chegar às arenas da Olimpíada por transporte público

A 18 dias do megaevento, casal de americanos e italiano hospedados no RJ enfrentam desinformação, sistema de integração falho e falta de mapa unificado dos modais

Notícias
 

Fonte: CBN  |  Autor: Gabriel Sabóia  |  Postado em: 18 de julho de 2016

 

Falta de informação nos pontos, e de agentes preparados: um sufoco para os estrangeiros. Foto: Prefeitura do Rio 

 

A missão do casal de americanos Portia e Desmond Wilson era ir da Lapa, na Região Central do Rio, até o Parque Olímpico da Barra, na Zona Oeste, a uma distância de 45 km. A primeira parada foi num posto de informações turísticas, perto do albergue onde estão hospedados. Eram 11h35.

 

Portia: Nós queremos ir para o Parque Olímpico.

Atendente: Você precisa pegar os ônibus 233 ou 361, do outro lado dos Arcos, à direita.

 

O que parecia uma informação oficial confiável foi o primeiro obstáculo: uma linha havia sido extinta e a outra não passava mais naquele ponto. O casal demorou 40 minutos para descobrir que havia sido vítima da reordenação recente dos itinerários dos ônibus municipais, o que ainda confunde os cariocas e até agentes da prefeitura. E sem um painel de informações, orientar-se no transporte público vira uma missão quase impossível para quem é de fora.

 

Desmond: Quando você tem um mapa no ponto de ônibus, você pode consultar sem ficar olhando um mapa de papel, o que deixa claro que você é turista e torna maior a possibilidade de roubos. Uma boa opção seria um aplicativo ou site que mostrasse todo o sistema de transportes no celular. Deixaria tudo mais discreto e a busca mais rápida"

 

O medo de serem identificados como turistas se justifica. Enquanto esperavam pelo ônibus que nunca passou, Desmond e Portia viram um homem ter um cordão roubado por um assaltante nos Arcos da Lapa:

 

 Portia: Nunca vi nada parecido. Um assalto no meio do dia, a poucos metros da polícia. Estou em choque.

 

Depois de procurarem uma nova rota no Google Maps, ao meio-dia e meia eles embarcaram no primeiro ônibus. No caminho, contaram com a ajuda de passageiros para descobrir onde deveriam fazer a baldeação para a Zona Oeste. Às 14h28, o casal finalmente chegou ao Alvorada, principal terminal rodoviário da Barra, bairro que concentra a maior parte das modalidades olímpicas. Mas para conseguir informações só com muita mímica e ajuda de um tradutor no celular.

 

Portia: Bom dia, você fala inglês?

Atendente: Não.

Portia: Como eu faço para ir para o Parque Olímpico?

Atendente: Parque Olímpico? Olimpíada?

 

Às 15h10, três horas e 35 minutos depois de ter iniciado a viagem, o casal finalmente chegou ao Parque Olímpico, cansado e com a sensação de dever cumprido com uma dose extra de sacrifício.

 

Portia: O Rio é uma cidade fanástica, com belas vistas, mas ainda tem várias coisas que podem melhorar. Como ponto positivo, achei os ônibus do BRT bastante rápidos e limpos. Melhores até do que os dos Estados Unidos.

 

Turista italiano

Já o desafio do italiano Fábio Crescenzi parecia simples. Ele deveria sair do bairro mais turístico do Rio, Copacabana, na Zona Sul, e chegar ao Estádio Olímpico, na Zona Norte. A distância de 20 km é menos da metade percorrida pelos americanos Portia e Desmond, que foram da Lapa, na Região Central, até o Parque Olímpico, na Zona Oeste, em três horas e trinta e cinco minutos. Fábio partiu às 10h30. Sem encontrar informação nos pontos de ônibus, ele contou com a sorte de encontrar um jornaleiro que falava italiano.

 

Fábio: Você também é italiano? Bom dia! Preciso ir para o Estádio Olímpico João Havelange!

Jornaleiro: Você precisa pegar um trem na Central do Brasil, mas antes, precisa pegar um ônibus até lá.

Fábio: Qual o número?

Jornaleiro: 125.

 

A sorte dele virou logo depois: a linha recomendada, a 125, havia mudado de nome para Troncal 1. Fábio foi salvo por outros passageiros no ponto de ônibus e levou 40 minutos até a Central, mas chegando lá só encontrou placas em português. Ao pedir informações, um agente do sistema ferroviário anotou num pedaço de papel que ele deveria saltar no Engenho de Dentro.

 

Fábio embarcou em sua viagem final às 11h40 e se impressionou com a limpeza e a temperatura agradável do vagão, mas chamou atenção o fato de não haver um mapa com o itinerário de paradas nem aviso sonoro com o nome das estações. Por volta do meio dia, ele saltou na estação Olímpica do Engenho de Dentro. Tempo de viagem: uma hora e meia. Para ele, a simpatia do carioca continua sendo o trunfo para a realização dos jogos.

 

Fábio: A simpatia do brasileiro foi a melhor parte da viagem, mas o turista precisará ter sorte, pois faltam sinalização e informação.

 

A Supervia informou que vai trabalhar com agentes bilíngues nas principais estações de embarque e desembarque de torcedores durante a Olimpíada e que a sinalização será revista nos próximos dias. Já a RioÔnibus prometeu atualizar a sinalização dos pontos de parada com informações em português e inglês na Zona Sul e nas áreas olímpicas da cidade.

 

Ouça a reportagem na íntegra no site da rádio CBN.

 

Leia também:

Trecho olímpico do metrô do Rio ganha nova estação e novos testes

Justiça manda climatizar toda a frota de ônibus do Rio até o fim do ano

Ciclovia do Parque Olímpico do Rio tem poste no meio do caminho

Comentários

Nenhum comentário até o momento. Seja o primeiro!!!

Clique aqui e deixe seu comentário