A conjuntura da política econômica brasileira continua desfavorável ao transporte público de passageiros – uma das forças motoras do desenvolvimento do país. Números do Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA) mostram que em dez anos o custo de manutenção do transporte coletivo cresceu 93,9%, o que significa dizer, que em uma década, os gastos no transporte de massa aumentaram quatro vezes mais em relação aos do veículo particular.
O Brasil anda mesmo na contramão dos países desenvolvidos, onde o custo é elevado para quem utiliza o carro particular como forma de subsidiar parte dos gastos com o coletivo. Em nosso país, se faz exatamente o contrário: barateamos a manutenção do veículo individual, oferecemos incentivos fiscais para sua aquisição e nos esforçamos ao máximo para dar trafegabilidade a estes carros em nossas cidades.
Já para o transporte coletivo, elevam-se os custos da manutenção e, salvo honrosas exceções, pouco se faz para implantar faixas exclusivas e corredores de ônibus, e nem se fala em sistemas sobre trilhos, como os trens metrôs e VLTs.
No mínimo, temos que garantir que os ônibus - que ocupam apenas 30% do espaço urbano e transportam mais de 70% da população - trafeguem com eficácia.
Em relação às tarifas, a realidade é ainda bem mais complexa. Segundo os empresários, o setor de transportes vem acumulando defasagem ano a ano, visto que os valores tarifários fixados, revisados e reajustados pelo poder público, não têm acompanhado os aumentos dos custos de operação, que envolvem mão de obra, impostos, despesas administrativas, combustíveis, lubrificantes, pneus e peças de reposição. Ainda segundo os empresários, apenas o combustível (óleo diesel) e os salários de trabalhadores representam 50% de todos os gastos de operação. Estes componentes têm sofrido majoração de preços, o que torna quase inevitável o aumento das tarifas, salvo se o poder público subsidiar parte das tarifas, tal como é feito em todas as grandes cidades do mundo e também em algumas capitais brasileiras.
De qualquer forma, sabe-se que ônibus parado no trânsito aumenta significativamente o custo de operação do sistema de transporte. Assim, quanto maior a velocidade do ônibus, menor o custo para o poder público e para o passageiro. Conclusão: precisamos urgentemente das faixas e corredores exclusivos, que são intervenções de baixo custo para os municípios e de total e eficaz relevância para a sociedade.
* Josinaldo Neves é jornalista e radialista, apresentador do programa "Mobilidade Urbana", na Rádio Cariri de Campina Grande e mestrando em Desenvolvimento Regional na UEPB. Este artigo não representa necessariamente a opinião do Mobilize Brasil.
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