As ladeiras do bairro Cruzeiro e os morros da avenida do Contorno, na Savassi, ambos na região Centro-Sul de Belo Horizonte, estão entre as áreas de acesso difícil e que geram desafios de mobilidade para a capital mineira.
Diante disso, a elaboração de um mapa que aponta a real declividade da cidade vai auxiliar nos deslocamentos por essas regiões e ajudar o poder público a criar ferramentas para melhorar o acesso em locais com subidas e descidas acentuadas. A criação de ciclovias e de novas rotas para os ônibus pode ser um dos beneficiados.
Chamado de Mapa das Declividades, o projeto foi desenvolvido pelo Instituto de Geociências da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em parceria com a Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans) e o Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (IPTD). Detalhes e resultados de todo o mapeamento serão apresentados oficialmente no dia 5 de julho.
Segundo o professor do curso de mestrado em geotecnia e transportes da UFMG, Rodrigo Affonso de Albuquerque Nobrega, que desenvolveu o mapa, o estudo cria um banco de dados – que ficará disponível no site da prefeitura – e mostra a declividade real de mais de 58 mil quarteirões da capital. O mapa é, segundo seu idealizador, pioneiro no Brasil.
A iniciativa surgiu após encontros do Observatório de Mobilidade Urbana de 2015, promovidos pela BHTrans. Nos debates, foi definido que esse tipo de projeto poderia ajudar a entender as reais condições de declividade da cidade, como os pontos de maior e menor inclinação.
“Belo Horizonte está aprimorando sua base de dados, e o mapa é o subsídio inicial para se criarem projetos de melhoria de acesso. Sabendo as condições de declive, você pode criar projetos para ciclovias, acessibilidade, além de rotas alternativas para o transporte público”, diz a diretora de programas do IPTD, Ana Nassar.
De acordo com a assessoria de comunicação da BHTrans, o projeto ainda será analisado pela autarquia.
Estudo
Segundo Rodrigo Nobrega, o projeto foi desenvolvido nos últimos três meses e teve como base os mapas de topografia e das vias de Belo Horizonte, disponibilizados pela prefeitura. Ao analisar os dados, o pesquisador conseguiu fazer os cálculos de inclinação dos mais de 58 mil trechos presentes em BH e detalhar os pontos de maior ou menor declividade. Ele, no entanto, não informou nomes de vias.
“Temos ruas na cidade que vão de 8% de inclinação, um valor baixo, a algo entre 20% a 25%, índice bem elevado. O que se fez foi um mapa que cruza os dados já existentes e auxilia na gestão e no planejamento da cidade, que pode até trocar uma rota de coleta de lixo, por exemplo, para ruas menos íngremes”, detalhou o pesquisador.
Mesmo ainda sem muitas informações sobre a iniciativa, alguns coletivos de Belo Horizonte, como o BH em Ciclo, projeto que defende o uso de bicicletas na capital, já se mostram favoráveis ao mapa.
“O estudo pode auxiliar na criação de ciclovias. Podemos pegar as malhas existentes e cruzar com os dados, podendo alterar e criar trechos futuros, já com essa base”, avaliou a membro do BH em Ciclo, Amanda Corradi.
Por uma capital mais acessível
Os vencedores do concurso Acessibilidade para Todos em BH, da ONG WRI Brasil Cidades Sustentáveis, em parceria com a BHTrans, foram premiados anteontem. A ideia era buscar ajuda para superar problemas de acessibilidade em BH. A possibilidade de implantar as propostas será analisada pela BHTrans. Havia três categorias: trechos com alta declividade, com calçadas estreitas e em estação de integração de transporte coletivo. O prêmio é uma viagem ao México.
Cidades já usaram dados para melhorias
Estudos de cidades como Lisboa, em Portugal, e São Francisco, nos Estados Unidos, serviram como base para a produção do Mapa das Declividades. Ambas têm topografia acidentada e grande quantidade de ladeiras. Por isso, as prefeituras locais decidiram avaliar e identificar as reais condições do terreno para melhorar o acesso.
“No caso de Lisboa, fizeram malhas cicloviárias nos trechos de declives menos acentuados, e, nas regiões com maior elevação, a prefeitura fez uma integração com o bondinho”, disse o professor do curso de mestrado em geotecnia e transportes da UFMG Rodrigo Nobrega.
Avaliação
Na visão de Márcio Aguiar, professor de engenharia de transporte e trânsito da Universidade Fumec, o mapa pode ajudar BH a se adequar ao Código de Posturas da cidade, que determina o limite de inclinação em até 15%.
A cidade já está pronta, então o mapa pode ajudar nessa adequação. Em ruas em que a elevação é superior a 15%, pode-se modificar o tráfego, pensar novos itinerários para ônibus, estabelecer melhores rotas de ciclovias. É uma iniciativa interessante”, avaliou.
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