BRTs para melhorar mobilidade na Baixada Fluminense

Governo do Rio e Fetranspor querem que corredores de ônibus na Via Dutra e Washington Luís entrem nas negociações das concessões destas rodovias

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Fonte: O Dia  |  Autor: Gustavo Ribeiro  |  Postado em: 25 de abril de 2016

Os projetos para a Região Metropolitana

Os projetos para a Região Metropolitana

créditos: Agência O Dia

 

Pelo menos um dos dez projetos de BRT propostos em 2014 pela Fetranspor (Federação das empresas de ônibus) para toda a Região Metropolitana do Rio tem chance de virar realidade em meio às discussões sobre a prorrogação da licitação da Via Dutra. Como contrapartida para prorrogar o contrato com a CCR, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) avalia a possibilidade de exigir que a empresa se responsabilize pela construção de um corredor de ônibus para conectar os passageiros da Baixada com o BRT Transbrasil, que vai ligar Deodoro ao Centro do Rio a partir de 2017.

 

A proposta foi uma das apresentadas nas audiências públicas realizadas pela ANTT com o objetivo de colher sugestões para a revisão do contrato e seria uma alternativa para expandir a rede de transporte, levando em conta o contexto de crise financeira que abala estado e municípios.

 

Os desafios para a criação de uma rede integrada de transportes para a Região Metropolitana, após os Jogos Olímpicos, foram o tema de debate realizado pelo DIA na última semana. Participaram o superintendente da Câmara Metropolitana, Gerard Fischgold, a diretora-executiva do Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento no Brasil (ITDP Brasil), Clarisse Linke, o secretário de Transportes de Nova Iguaçu, Rubens Borborema, e a gerente de Mobilidade Urbana da Fetranspor, Richele Cabral.

 

Os participantes defenderam que a medida seja estendida à concessionária de outra rodovia federal que corta o Grande Rio, a Washington Luís, quando se iniciarem as discussões sobre a revisão do contrato, previstas para o ano que vem.

 

Richele Cabral, da Fetranspor, destacou que esses BRTs são importantes porque permitiriam que os passageiros da Baixada que trabalham no Rio não fizessem baldeação para utilizar o Transbrasil, reduzindo o tempo de viagem, já que o sistema BRT não disputa espaço com o trânsito.

 

“As pessoas que moram em outras cidades da Região Metropolitana passam todos os dias nessas rodovias para trabalhar no Rio. Elas viriam no BRT da Dutra ou da Washington Luís e já entrariam no Transbrasil através do próprio sistema BRT da Baixada”, disse Richele.

 

O estudo da Fetranspor estima que o BRT da Dutra, orçado em R$ 180 milhões, tem uma demanda de 100 mil passageiros por dia e potencial para reduzir 30% do tempo de viagem. O projeto prevê um corredor de 23 quilômetros, cortando os municípios de Japeri, Nova Iguaçu, Mesquita e Nilópolis, integrado ao sistema de trens. O BRT da Washington Luís ligaria o Arco Metropolitano, em Caxias, também ao Transbrasil. A demanda é de 130 mil passageiros por dia, com 16 quilômetros e capacidade de reduzir em 30% o tempo de deslocamento. O custo é de R$ 125 milhões.

 

Richele ressaltou que outro BRT importante para a Baixada é o da Via Light, criando mais uma ligação com o Transbrasil. “No entanto, para que esse projeto seja viável, é necessário antes estender a Via Light (que termina na Pavuna) até a Avenida Brasil”, alertou Rubens Borborema, de Nova Iguaçu.

 

O superintendente da Câmara Metropolitana, órgão criado pelo governo estadual para articular gestão compartilhada com os municípios, avaliou que o legado olímpico ficou restrito à capital quando o governo optou pela Linha 4 do metrô em vez da extensão da Linha 2 até a Praça 15. Segundo ele, a região não foi ouvida sobre os projetos.

 

Segundo a ANTT, o período de envio de contribuições visando à proposta de inclusão de novos investimentos no contrato de concessão da Dutra terminou dia 22 de abril. O próximo passo será análise pela ANTT das sugestões. O órgão esclareceu que ainda não tem previsão a prorrogação do contrato com a concessionária que administra a Washington Luís.

 

Especialistas defendem faixa seletiva na Ponte Rio-Niterói

Uma medida considerada importante por todos os debatedores para melhorar a mobilidade na Região Metropolitana é a reserva de uma faixa seletiva na Ponte Rio-Niterói para poupar os usuários de transporte público de engarrafamentos e permitir a conexão entre o Transbrasil e futuros corredores do Leste Fluminense.

 

Antes da última licitação da Ponte, realizada em 2015, o governo estadual sugeriu à ANTT que incluísse a construção de um BRT nas exigências do grupo vencedor, mas o pedido foi rejeitado. A agência reguladora apontou como motivos para a recusa, na ocasião, questões de segurança e impacto no trânsito.

 

“Perdemos uma grande oportunidade, mas não desistimos que pelo menos uma faixa seletiva seja utilizada nas horas de pico quando a gente tiver os BRTs da RJ-104 (Niterói-Itaboraí, via Alameda São Boaventura)e do eixo Niterói-Itaboraí (também propostas pela Fetranspor)”, afirmou Richele Cabral.

 

Para Richele, a resistência em relação à faixa seletiva é da concessionária Ecoponte, que poderia perder parte da arrecadação se os donos de carros passassem a usar ônibus, motivados pela redução do tempo de viagem.

 

Clarisse Linke, diretora do ITDP Brasil, criticou que os passageiros de transporte coletivo sejam punidos para beneficiar os automóveis, que perderiam uma faixa em cada sentido se o projeto fosse executado. E cobrou que o poder público exerça o papel de definir regras para seus prestadores de serviço. “É uma loucura pensar que esta seja uma decisão da concessionária. Se a gente tivesse uma autoridade de transporte, capacidade de tomada de decisão, não seria escolha do setor privado. A gente está falando de transporte para a população. É interesse público.”

 

A Ecoponte informou que não está em estudo faixa preferencial porque a medida não está prevista no contrato de concessão, válido até 2045. “A faixa seletiva da Ponte não pode esperar”, reforçou Gerard Fischgold, da Câmara.

 

Nova Iguaçu quer implementar corredores BRS

Após licitar recentemente as linhas de ônibus municipais, saindo na frente das outras cidades da Baixada, Nova Iguaçu quer se espelhar no Rio e criar faixas preferenciais para o transporte público até o fim deste ano nas redondezas do terminal rodoviário. O objetivo é melhorar o trânsito na região e o fluxo de entrada e saída de coletivos na rodoviária.

 

Segundo o secretário municipal de Transporte, Rubens Borborema, a Avenida Marechal Floriano Peixoto, uma das principais do centro da cidade, e a Rua Dom Walmor são algumas das vias que receberão as faixas.

 

O contrato de licitação dos ônibus de Nova Iguaçu prevê ainda a construção de terminais pela cidade, que serão ligados por linhas troncais dos bairros periféricos até o Centro, semelhante ao processo de racionalização das linhas da Zona Sul do Rio. “Vamos ter corredores em Nova Iguaçu que vão fazer essa linha troncal da periferia até o Centro do município e evitar que se tenha inúmeras linhas passando pelo mesmo ponto. Se vai ser BRT ou BRS, vai ser discutido mais à frente”, explicou Borborema.

 

Outro projeto é fazer a licitação, também neste ano, das linhas de vans do município. Ainda segundo Borborema, Nova Iguaçu formalizou à ANTT, no processo de prorrogação do contrato da concessionária da Dutra, pedido para criação de pistas laterais nos trechos da rodovia que cortam a cidade e que só contam com faixa central, além de um viaduto ou passagem subterrânea em Comendador Soares, fazendo sequência ao viaduto da Avenida Barros Junior.

 

Empregos perto das moradias

O município do Rio tem 6,5 milhões de habitantes e concentra 75% dos empregos da Região Metropolitana. As demais 20 cidades, juntas, reúnem 6 milhões de pessoas e apenas 25% dos postos de trabalho. Só em Japeri, 47% da população se desloca 77 quilômetros diariamente para trabalhar no Rio.

 

Clarisse Linke, do ITDP, defende que expandir a rede de transporte não é suficiente para resolver os problemas da mobilidade. Tão importante, na opinião dela, é estimular empregos e serviços nessas “cidades dormitório”, para evitar que as pessoas precisem se deslocar tanto.

 

A Câmara Metropolitana contratou um estudo que vai diagnosticar possibilidades de desenvolvimento de novas centralidades, ou seja, regiões com potencial de expansão de serviços, indústrias e empregos.“Temos que aproximar o trabalho à casa do trabalhador. A gente está punindo o cara quando o coloca de três a quatro horas em um transporte”, disse Gerard Fischgold. O estudo será concluído em 18 meses.

 

Novas fontes de financiamento para expandir a malha de transporte foram sugeridas como alternativas à crise econômica, como a criação de um fundo a partir de uma sobretaxa da gasolina e de pedágios urbanos. “Quem usa o carro todo dia sobrecarrega o trânsito e polui mais o ar, então tem que contribuir de alguma forma para a coletividade”, defendeu Clarisse, cobrando melhoria dos serviços de transporte coletivo.

 

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