Enquanto muitos pais acreditam que não é seguro permitir crianças de 5 anos de idade irem de bicicleta para o jardim de infância, pais e administradores escolares na cidade de Odense, na Dinamarca, acreditam que, na verdade, é o contrário.
Como relata o Washington Post, uma escola primária na pequena cidade dinamarquesa chega ao ponto de proibir que os pais dirijam para a escola, dizendo que a presença de carros não é segura para as centenas de estudantes que chegam diariamente de bicicleta, a pé ou em skates.
O Diretor Lars Christian Eriksen começa cada novo ano dizendo aos pais que seus pequeninos deveriam pedalar para o jardim. “Andar de bicicleta afeta o caráter da criança”, disse Eriksen ao jornal. “Eles obtêm um bom resultado na escola porque vão de bicicleta. É bom para o cérebro do aluno.”
Sua escola não é de todo incomum em Odense, uma cidade com uma população de cerca de 200.000 pessoas, onde 4 em cada 5 estudantes pedalam, caminham ou patinam para a escola. Alguns acompanham seus pais, enquanto outros simplesmente andam com irmãos ou amigos.
É difícil imaginar uma comunidade que deixa seus filhos saírem desacompanhados em bicicletas. Enquanto ir de bicicleta ou a pé para a escola era comum nos anos 60, a taxa de crianças ciclistas despencou ao longo das últimas décadas. Quase 50% das crianças e adolescentes americanos andavam de bicicleta ou a pé para a escola em 1969, mas esse número caiu para 13% em 2009. Enquanto isso, as taxas de obesidade infantil subiram ao longo dos últimos 40 anos. Aproximadamente 25 milhões de crianças e adolescentes nos EUA – mais de 33% – estão acima do peso ou obesas.
Um aspecto dessa tendência pode ser atribuída à mudança de normas parentais e o declínio da independência das crianças norte-americanas e jovens, assim como à infraestrutura e cultura de segurança rodoviária. Em Odense, há 339 milhas (545 km) de ciclovias protegidas em toda a malha de 621 milhas (1.000 km) de ruas no total. Acrescente isso a uma forte cultura nacional da bicicleta, que vê como responsabilidade dos condutores manter os ciclistas seguros, e você terá a capacidade de enviar seus filhos por conta própria com a relativa certeza que eles vão ser capazes de andar com segurança para a escola.
Eriksen disse ao Post que em mais de 11 anos na escola ele só conseguia se lembrar de dois ou três casos em que os alunos foram atingidos por um carro, e em todos os casos, as lesões foram leves.
Comparativamente, a esmagadora maioria das crianças norte-americanas residem em comunidades com insuficiente ou uma completa falta de infraestrutura cicloviária adequada. Em 1980, o percentual de vítimas de acidentes fatais de trânsito (crianças com menos de 16 anos de idade) foi um assustador 54,8%, o que, felizmente, caiu para 8,2% em 2013. Mas 8,2% ainda é uma porcentagem muito alta para a maioria dos pais se sentirem confortáveis, por isso as taxas de crianças que pedalam e caminham para a escola aumentam a um ritmo lento.
A falta de atividade física entre crianças tem sido associada à obesidade infantil, à dificuldade em se concentrar, e até à transtornos de ansiedade e depressão. Integrando a atividade física nos trajetos ao ir e voltar da escola não só seria benéfico do ponto de vista da saúde física, mas a partir de um ponto de vista social também.
O trabalho de organizações como a Active & Safe Routes to School e PeopleForBikes tem feito muito para aumentar a viabilidade de caminhadas e pedaladas em muitas comunidades, mas ainda há muito a ser feito. Cidades como Odense servem de inspiração para o tipo de comunidade que poderíamos ter, e as vidas independentes e ativas que poderíamos permitir que nossos filhos levassem.
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