Uma maiores preocupações dos pais no início de um ano letivo é o transporte dos filhos à escola; seja especializado ou público, e tenham os jovens qualquer idade, o fundamental é garantir um acesso seguro até o colégio. A reportagem do jornal eletrônico Nexo que reproduzimos a seguir trata desse tema.
Longe de serem infundadas as preocupações dos pais com a ida de seus filhos à escola. Basta olhar as estatísticas de 2013 do Ministério da Saúde, revelando que 536 crianças de até 14 anos morreram vítimas de atropelamentos, e de 2014, quando mais de 6 mil foram hospitalizadas por esse motivo. Os dados foram fornecidos pela ONG Criança Segura.
Ao mesmo tempo, muitos pais acreditam que é preciso incentivar a autonomia da criança e fazê-la aprender a “se virar” a partir de uma certa idade, sabendo usar o transporte público e se locomover pela cidade onde mora. Qual é a idade certa para isso? Que cuidados tomar?
A equipe do Nexo conversou sobre o assunto com dois especialistas: Gabriela Guida de Freitas, coordenadora nacional da Criança Segura, e o pediatra Carlos Eduardo Corrêa, graduado pela USP e um dos criadores do Espaço Nascente, que realiza atividades para pais e filhos no bairro do Sumaré, em São Paulo. Eles deram as dicas e recomendações listadas abaixo:
Como saber se a criança está preparada para ir sozinha à escola, a pé ou de transporte público?
Para Corrêa, os pais precisam avaliar o nível de concentração e de percepção da criança. “Uma criança mais dispersiva pode se atrapalhar. Uma criança muito disponível, que confia muito nos outros, pode ser complicado”, diz. Ele aconselha observar sinais de que ela está pronta, reparando na sua relação com outras pessoas. “Ela tem que ser ensinada que existe gente que é legal e gente que não é legal”.
Gabriela, do Criança Segura, diz que não é recomendado que uma criança com menos de dez anos ande sozinha pela rua. “A supervisão de um adulto é vital até que a criança demonstre habilidades e capacidade de julgamento do trânsito.”
A coordenadora lembra que as crianças têm dificuldade de julgar a velocidade dos carros, a distância entre elas e os veículos e a direção dos sons no trânsito. “Elas pensam que os carros podem parar instantaneamente ou que, se elas podem ver o carro, o motorista também pode vê-las.” A especialista lembra que os adultos devem ensinar às crianças um comportamento de pedestre seguro e praticá-lo, para servir de exemplo.
Quais as recomendações para o uso do transporte público?
Os dois especialistas defendem o contato das crianças com o transporte público. Para Gabriela seu uso “é interessante e diminui os riscos referentes a acidentes de trânsito”.
Além dos cuidados gerais com a rua, mencionados acima, existe uma série de orientações específicas na hora de pegar metrô e ônibus.
O pediatra recomenda avaliar a segurança e a distância, incluindo trajetos a pé depois de descer do ônibus ou metrô. “Checar se a criança irá atravessar ruas e avenidas onde não há sinalização e semáforos”, acrescenta Gabriela.
Para Corrêa, vale checar se o horário da utilização será de pico. “Pode não ser legal enfiar uma criança em um ônibus ou metrô lotado”. Por outro lado, Corrêa lembra que na rua a maior parte da população é “acolhedora” com crianças.
Ir de bicicleta para a escola é válido?
O pediatra Corrêa acredita que o uso dessa modalidade deve crescer, uma vez que em várias cidades brasileiras a bicicleta está deixando de ser vista apenas como opção de lazer.
Vários países europeus já contam com iniciativas oficiais de incentivo ao uso da bicicleta como transporte escolar. No Brasil, desde 2010, a bicicleta aparece como alternativa de veículo escolar no portal do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação), órgão federal que cuida de ações e programas da educação básica em áreas como alimentação e o transporte escolar.
Existe também um projeto da Prefeitura de São Paulo que pretende colocar 4,6 mil bicicletas à disposição de alunos de 45 Centros Educacionais Unificados (CEUs) para que façam o trajeto entre casa e escola. Monitores cuidarão da segurança dos alunos ao longo do trajeto, que será feito em esquema de comboio.
A segurança mais uma vez é um cuidado essencial. “Um dos maiores em caso de acidente de bicicleta é a lesão na cabeça, que pode levar à morte ou deixar sequelas permanentes”, lembra Gabriela. O capacete reduz em até 85% os riscos, de acordo com ela. Por fim, o trajeto da pedalada deve ser avaliado também, se conta com grande movimento, se passa por avenidas e se há ciclovia ou ciclofaixa.
O uso do transporte escolar deve levar em conta quais cuidados?
Para muitos pais, a opção mais fácil e mais segura será sempre a perua, van ou ônibus escolar. Apesar disso, há uma série de pontos a serem observados antes de entregar seu filho aos cuidados de um prestador de serviço.
Para conduzir um veículo escolar, segundo o Código de Trânsito Brasileiro, uma pessoa deve ter idade superior a 21 anos, habilitação para veículos na categoria D, aprovação em exame psicotécnico específico, curso de Formação de Condutor de Transporte Escolar, matrícula específica no Detran, não ter cometido falta grave ou gravíssima nos últimos doze meses e certidão negativa de antecedentes criminais.
Depois de averiguar o motorista, parte-se para o veículo que será usado, observando condições de higiene, número e estado dos cintos de segurança e cadeirinha apropriada. O uso da cadeirinha ainda não é obrigatório, entretanto. O início da exigência foi adiado recentemente para fevereiro de 2017, segundo resolução do Contran.
Gabriela, do Criança Segura, lembra ainda que é importante se informar se o veículo possui seguro contra acidentes e apresentação adequada, “com pintura de faixa horizontal na cor amarela nas laterais e na traseira, contendo a palavra ESCOLAR na cor preta”.
Por fim, todo veículo deve contar com um monitor que supervisiona os pequenos durante o trajeto e no embarque e desembarque. O Código de Trânsito não estabelece uma idade mínima para o uso do transporte escolar.
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