Após anos de predomínio dos motoboys, as entregas de documentos e pequenas cargas com bicicletas já se tornam comuns nas grandes cidades brasileiras. Elas são silenciosas, não fazem fumaça e também são rápidas. Veja a entrevista com os diretores da EcoBike Courier, uma empresa de logística urbana sustentável.
Por que bicicletas nas entregas urbanas? Não será apenas um modismo?
Cristian Trentin: A bicicleta é mais ágil no trânsito, mas a EcoBike Courier não trabalha apenas com bikes. Somos uma empresa de logística sustentável e procuramos integrar as bicicletas com outros modos de transporte.
René Bérenger: Bicicletas são os veículos mais versáteis para uso nos centros urbanos e os desafios intermodais mostram - todos os anos - essa vantagem. O uso da bike é um recurso poderoso para melhorar a qualidade de vida nas cidades, com a redução das emissões de gases poluentes, além de contribuir para desafogar o trânsito. O ciclista ganha em saúde e a sociedade ganha em segurança, porque os acidentes com bicicletas são mínimos se comparados, por exemplo, com as motocicletas.
Que tipos de entregas são realizadas? Até que peso e volume? A que distância das bases de operação?
Cristian Trentin: Somos uma solução de logística urbana e, desta forma, as entregas vão de documentos até produtos perecíveis. Numa mochila, podemos transportar, no máximo, 6 kg. Volumes maiores e mais pesados exigem acessórios conectados à bicicleta ou o uso de outros modos de transporte. Mas, nosso foco é quase exclusivamente o leve e levíssimo, sempre com objetivo de manter um padrão de atendimento, rastreabilidade das entregas e respostas rápidas para o nossos clientes. Por exemplo, você pode nos contratar para enviar um documento ou uma encomenda para a Europa e nós realizamos todos os procedimentos para que isso ocorra, usando o transporte por aviões, rodoviário e hidroviário. Essa integração é possível e necessária quando falamos de logística em um mundo globalizado.
Há algum diferencial nas bicicletas utilizadas? Elas são eletroassistidas?
Cristian Trentin: Cada ciclista escolhe a bicicleta na qual se sinta mais confortável e disposto para realizar o trabalho. No entanto, algumas operações demandam veículos elétricos, ou até mesmo as motos elétricas. O veículo depende do tipo de contrato, tempos para realizar cada operação, carga, distância e outras variáveis. Mas, sempre usamos meios não poluentes. Um bom exemplo é uma operação no Rio de Janeiro, para a qual optamos por um entregador que vai a pé aos locais, um "foot courier".
Quem são os bikers couriers? Há algum treinamento para eles?
René Bérenger: No Rio de Janeiro, nossos colaboradores têm entre 20 e 30 anos, todos com nível superior. Os ciclistas precisam ter um bom preparo físico, mas o mais importante é que tenham experiência em pedalar no meio urbano. Todos os colaboradores têm plano de saúde e seguro de vida. O treinamento é obrigatório, com ênfase na qualidade do atendimento, além de conhecimentos sobre a cidade, seus bairros e sistema viário e aulas específicas sobre leis e normas de trânsito.
É possível calcular as emissões de gases de efeito estufa economizadas graças ao trabalho de entregas com bicicletas?
René Bérenger: Sim, em média a cada quilômetro rodado são poupados 0,0729 kg de CO², que é a emissão de uma motocicleta comum de entregas.
Com a construção das redes de ciclovias e ciclofaixas o número de ciclistas tem aumentado nas cidades brasileiras. Quais seriam as cidades com maior vocação para ter a bicicleta como ferramenta de transporte?
Cristian Trentin: Todas as cidades podem fazer uso da bicicleta como um dos principais meios de transporte. Porém, o crescimento das ciclovias e ciclofaixas é ótimo para nosso modelo de negócio, pois percebemos que quanto mais pessoas usarem a bicicleta, maiores serão os adeptos e incentivadores das entregas sustentáveis. Outro ponto muito importante é que com um maior número de ciclistas nas ruas, a convivência com os motoristas se torna mais tranquila e respeitosa.
Como vocês vêem o futuro do mercado de entregas urbanas com bikes e outros veículos aqui no Brasil?
Cristian Trentin: A logística fracionada é um grande desafio nos grandes centros, por questões de custo, mobilidade e prazo. Como a EcoBike Courier é a maior empresa do país nesse setor, nós ganhamos mercado constantemente por meio de parcerias com grandes players dos segmentos de cosméticos, farmacêutico, e-commerce e operadores logísticos. Nossa estimativa é que nos próximos cinco anos vamos crescer nas principais cidades do Brasil, o que permitirá uma capilaridade e escalabilidade de atendimento ainda maior.
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