Não importa quantas faixas de tráfego sejam construídas, todas elas em breve estarão congestionadas por mais carros
Uma nova ponte foi inaugurada em Teresina, Piauí, para melhorar a circulação do trânsito entre o Centro e área Leste da cidade. Aberta ao tráfego nesta quarta-feira (9), a obra foi anunciada pelo governo do estado como "uma das maiores e mais aguardadas intervenções de mobilidade urbana de Teresina". Na verdade trata-se de um "anexo" que acrescenta mais três faixas de tráfego a outras duas pontes existentes sobre o rio Poti. Daí o apelido, "Ponte do Meio".
Apesar do tom otimista do anúncio governamental, moradores da região, ambientalistas e ativistas de mobilidade urbana afirmam que a ponte é apenas mais um estímulo ao transporte individual motorizado na capital piauiense. Como já explicamos aqui no Mobilize, não importa quantas faixas de tráfego sejam construídas, todas elas em breve estarão congestionadas por mais carros. O fenômeno é conhecido desde os anos 1940, mas foi medido e explicado apenas em 1990 por engenheiros de tráfego da Califórnia, nos EUA: há sempre uma demanda reprimida de motoristas potenciais, algo em torno de 30%, que voltam a dirigir pelas ruas assim que surgem as notícias de melhoria no tráfego. Resultado: novos congestionamentos. É um tipo de obsolescência planejada.
O episódio de Teresina tem mais alguns agravantes, segundo o artigo do ativista Luan Rusvell. Com a obra da nova ponte, os espaços para pedestres e ciclistas foram reduzidos e há agora uma grande pressão para que um passeio arborizado seja removido para dar lugar a mais pistas na avenida que recebe o tráfego adicional. Cabe lembrar que a capital do Piauí ostenta temperaturas em torno de 40 graus durante todo o ano. E menos árvores significam mais calor e mais carros com ar-condicionado lançando mais calor ainda para as ruas! Em agosto passado, na mesma cidade, dezenas de árvores centenárias foram eliminadas para a construção de um terminal de ônibus.
As duas obras desafinam o discurso adotado pelas autoridades de Teresina no Plano de Mobilidade Urbana anunciado em fevereiro deste ano e que previa planos de calçadas, ampliação da rede cicloviária e, ironicamente, um plano diretor de arborização.
Seja em Teresina, Salvador, Rio ou São Paulo, destruir o tecido urbano em nome de uma urgência qualquer não parece ser um caminho sustentável. Obras urbanas exigem maturação de longo prazo, com estudos e debates que envolvam governos, universidades, empresas e moradores. Sim, é preciso renovar as cidades, garantir a circulação de pessoas e cargas, mas sem matar a vida das ruas, essência de qualquer ajuntamento que se pretenda urbano.
Marcos de Sousa
Editor do Mobilize Brasil