Para quando é a travessia a pé e de bicicleta da Ponte 25 de Abril?
As nuvens dispersas recortam-se sobre o azul do céu. Refletidos em toda largura do rio, os raios solares vertem uma luz dourada sobre o casario que desce até ao Tejo. Para quem vem do Sul, a chegada a Lisboa é quase sempre um momento mágico. Seja quando o avião sobrevoa a Caparica, para se fazer à pista no aeroporto da Portela, seja quando se atravessa o rio de cacilheiro (barcos que ligam as duas margens do rio Tejo) ou quando se vem de carro pela Ponte 25 de Abril. Perto do pôr do sol, a vista sobre Lisboa é a recompensa que faz esquecer qualquer engarrafamento no acesso ao tabuleiro da ponte. Fá-lo, aliás, a qualquer hora do dia. E é dali que se tem a melhor perspetiva sobre a cidade.
Roí-me de inveja, no outro dia, ao saber que, na madrugada de domingo (30) três ingleses foram apanhados a escalar a ponte. Dizia-se que queriam fotografar. Invejei-lhes o momento único que a escalada pode ter-lhes proporcionado. Espero que tenham desfrutado bem o momento antes de a polícia os surpreender.
A notícia trouxe-me à memória uma outra. No verão, foi anunciada a construção de um elevador, que a partir da base do pilar de Alcântara, sobe uns 70 metros de altura, até um pólo expositivo que contará a história daquela obra. Isso a coincidir com os 50 anos da inauguração da travessia sobre o Tejo, que se assinalam em agosto do próximo ano.
Mas um elevador, que visa apenas criar mais um ponto turístico na cidade, parece-me manifestamente pouco. Falta-lhe ambição e é pobrezinho, a fazer lembrar o Portugal dos Pequenitos. Uma construção com o valor histórico e paisagístico da Ponte 25 de Abril, sem a qual já não imaginamos Lisboa, merece algo melhor do que um mero miradouro para inglês ver as vistas. Os lisboetas e os almadenses merecem mais.
Já que se quer acrescentar algo à mera utilidade funcional de unir duas margens do rio, seria mais interessante recuperar um projeto antigo do arquiteto Manuel Graça Dias, que concebeu uma nunca concretizada passagem pedonal nesta ponte.
Ponte 25 de Abril, em Lisboa. Foto: tvi24
O que não faltaram, nos últimos anos, foram propostas e ideias (por exemplo, aqui) neste sentido, incluindo duas petições que reuniram milhares de assinaturas. Essas iniciativas, que acrescentam uma ciclovia à ideia inicial, esbarraram sempre no desinteresse das entidades que gerem a ponte e na indiferença das autarquias de Almada e Lisboa. Argumenta-se com os ventos fortes, as questões de segurança e ainda eventuais tentativas de suicídio. Mas nunca nenhuma das entidades se deu ao trabalho de estudar a ideia de uma forma séria e consistente.
Os seus defensores apresentam soluções, aparentemente viáveis, para os problemas técnicos invocados, incluindo algumas relacionadas com financiamentos, dando sugestões de como aproveitar fundos europeus para pagar um projeto que contribuiria para a sustentabilidade ambiental e o lazer da população, e que, como ponto de atração turística, seria seguramente mais sexy do que um miradouro. Não é por acaso que a Golden Gate Bridge, em São Francisco da Califórnia, a ponte irmã da nossa 25 de Abril, atravessável a pé e de bicicleta, é um dos locais mais visitados dessa cidade norte-americana.
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