Muita gente que circula apressada pela plataforma da estação Carioca do Metrô Rio e viaja apertado em trens, tanto da Linha 1 quanto da Linha 2, não tem ideia de que 15 metros abaixo está esquecida há mais de 35 anos uma possível saída para ajudar a desafogar o sistema. Trata-se de uma plataforma abandonada desde 1979, construída no nível original da Linha 2, que deveria se estender até a Praça 15.
“O mais incrível é que falta muito pouco para desafogar o sistema. Somente 3,7 km de trilhos. E duas estações: Praça da Cruz Vermelha e Praça Quinze”, destaca o estudante de arquitetura Atílio Flegner.
Flegner, o engenheiro Luiz Henrique Barroso e o jornalista Miguel Gonzalez visitaram, junto com o engenheiro Fernando MacDowell, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio (PUC) e ex-diretor do Metrô, a estação "fantasma" na sexta-feira (13) e ficaram surpresos com o que encontraram, como revelou reportagem publicada no jornal "O Dia".
“A estrutura para a extensão da Linha 2, a plataforma dos passageiros, escadas e acessos estão praticamente prontos. Tem trechos que já receberam acabamento de pastilha nas paredes. A obra está parada desde a década de 1980 por falta de investimentos. O que é mais incrível é que o governo do estado preferiu investir na construção da estação Cidade Nova e na Linha 4 até a Barra da Tijuca”, lamenta o estudante.
Flegner, Barroso e Gonzalez há tempos se interessam pelo transporte público e em seus blogs levantam questões como a necessidade de se melhorar a mobilidade urbana, o que inclui investir em transporte de massa como o metrô. Eles tentaram fazer a visita durante dois anos. A autorização aconteceu depois que eles tiveram um encontro com o secretário de Estado de Transportes, Carlos Roberto Osório.
Túneis da estação estão praticamente intactos (Foto: Luis Henrique Barroso / Arquivo pessoal)
"Nós nos interessamos pelas melhorias na mobilidade da cidade. Somos ciclistas e defendemos o uso do transporte público. Nos conhecemos frequentando encontros de discussão sobre o tema", explicou o estudante de engenharia Luiz Henrique Barroso.
“A estação Cidade Nova criou a chamada Linha 1A, o que para a gente não passa de uma gambiarra, pois ela nivela as duas linhas do metrô, atravancando o sistema. Por isso, quando um trem quebra numa linha interfere e até paralisa a outra linha. Se o trajeto original da Linha 2 tivesse sido mantido, as linhas seriam independentes e a transferência de passageiros poderia ocorrer tanto no Estácio quanto na Carioca”, explica Flegner.
Barroso defende a conclusão da expansão da obra da Linha 2 e diz que o objetivo da visita à estação inacabada foi chamar a atenção da sociedade. A visita deles durou cerca de uma hora. As fotos foram feitas com ajuda de lanternas com dificuldade para identificar o que estavam vendo.
Vigas da construção da estação estão aparentes (Foto: Luis Henrique Barroso / Arquivo pessoal)
"A conclusão da obra incrementaria o transporte de 400 mil passageiros. Não dá para expandir nenhuma linha do Metrô antes de completar a obra. Ela é primordial", disse.
Aluno de MacDowell na PUC, Flegner cita um artigo publicado pelo professor na revista do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (CREA-RJ), em 2009, no qual ele afirma que se o projeto original da Linha 2 tivesse sido mantido, os intervalos entre os trens seriam menores e os trens teriam mais vagões podendo transportar cerca de 60 mil passageiros dia.
No artigo, MacDowell diz que a Linha 1A “congelou” a Linha 2, que foi projetada para ter intervalos de aproximadamente 2 minutos entre as viagens e trens com oito vagões. Mas como a Linha 1 corre nos mesmos trilhos, os intervalos entre os trens nas duas linhas são de aproximadamente 4 minutos e os trens têm apenas seis vagões.
O G1 entrou em contato com a secretaria de Transportes. A secretaria não respondeu aos questionamentos e apenas informou que, nesta quarta-feira (18), o secretário fará uma coletiva, na estação Carioca, sobre a expansão da linha 2 até a Praça 15.
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