Faz um ano que, de uma hora para outra, e sem consulta prévia, a população de Teresina tem presenciado, entre atônita e revoltada, os tratores da Prefeitura chegando nas praças públicas da cidade para, depois de cercá-las com tapumes, promover ali o corte indiscriminado de árvores.
As praças, tradicionais redutos de sombra e tranquilidade dentro da tórrida capital do Piauí, foram justamente (e infelizmente) os locais escolhidos pela prefeitura de Teresina para a construção de 8 novos terminais de integração de ônibus. Os recursos para estas obras vieram do Ministério das Cidades e totalizam R$ 350 milhões. Mas, o que em princípio pode parecer uma boa notícia, já que são investimentos na melhoria da mobilidade urbana, virou um pesadelo para a população da cidade.
O impacto ambiental provocado pelas três obras já implantadas - Terminal do Dirceu Arcoverde, Bela Vista (veja foto) e Buenos Aires - tem levado à mobilização de cada vez mais pessoas que buscam resistir à investida contra o verde e a qualidade de vida. Muitos se organizam para evitar que a devastação prossiga nos próximos projetos de terminais a serem executados.
Terminal Bela Vista, após destruição das árvores. Foto: OcuparPraça
É o caso da maior praça pública do bairro Parque Piauí (Praça Reiberg), na zona sul da cidade, que foi cercada pela prefeitura, levando a comunidade a se unir contra a derrubada de centenas de árvores, muitas de grande porte e que há trinta anos foram plantadas pelos próprios moradores. Eles se queixam de não ter sido consultados pela prefeitura sobre a obra e criticam a escolha de uma área preservada, ponto de encontro da comunidade.
Organizados no movimento OcupaPraça, e apoiados por outros coletivos da cidade, os moradores derrubaram os tapumes que isolavam a praça, e lá permanecem acampados há mais de um mês. O impasse entre população e prefeitura prossegue, mesmo após uma reunião com a Superintendência Municipal de Transporte e Trânsito (Strans).
Uma ação popular foi movida para que o Ministério Público examine os impactos ambientais da obra, e também a promotoria de Justiça investiga a regularidade da construção de um terminal de ônibus na praça no Parque Piauí.
Por sua vez, a prefeitura tenta apaziguar os ânimos afirmando que a retirada de árvores para construção do terminal será compensada pelo plantio de novos espécimes e que não está fechada à análise de novos locais para a implantação do terminal.
"A exigência dos teresinenses é que a prefeitura garanta que os projetos e o dinheiro sejam gastos com obras que sustentáveis, que justifiquem o título de 'cidade verde' de Teresina", afirma Luan Rusvell, membro do coletivo VemProMeio, e que há um ano luta contra outra obra urbana, a da Ponte do Meio, que também prevê o corte de árvores grandes nos acessos. Também como resultado da mobilização, desde maio esta obra está embargada pelo Ministério Público. E assim deve ficar, se a determinação e coragem da população prevalecer nas decisões.
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