De olho no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que acontece no final de outubro, alunos de um cursinho popular pré-vestibular em Embu das Artes, na Grande São Paulo, participaram no último sábado (17) de uma atividade especial: palestras e debates com especialistas sobre assuntos atuais, como mobilidade urbana, água (recursos hídricos), e família.
O evento aconteceu na Escola Municipal Paulo Freire, e foi promovido pela Secretaria Municipal de Educação. Para falar sobre mobilidade urbana sustentável, a convidada foi a arquiteta e urbanista Irene Quintáns, colaboradora do Mobilize Brasil (blog Passos e Espaços).
Carros: muito espaço para pouca gente
Na sua palestra, Irene Quintáns tratou de trânsito, mobilidade e acessibilidade nas grandes metrópoles. Historicamente, ela mostrou que muitas transformações na cidade de São Paulo tiveram como base uma inversão de tendência do crescimento populacional, que fez com que habitantes do meio rural migrassem para os centros urbanos. Em 1881, 55% da população viviam no campo e 45% nas cidades, e hoje 85% residem em centros urbanos, explicou.
Esse aumento populacional trouxe reflexos na mobilidade urbana, disse. Segundo a urbanista, 30% das viagens na capital paulista são feitas por veículos particulares, que ocupam 90% do espaço urbano e recebem a maior parte do investimento do poder público. Essa divisão do espaço, diz a especialista, é injusta e poderia ser melhor equacionada, democraticamente, e voltada para o interesse social da maioria.
Irene aponta a superlotação do transporte público como algo que caminha na contramão de modelos eficientes como os vistos hoje em cidades da Europa e, no país, numa cidade como Curitiba: "Definitivamente, o carro não é o meio ideal para o dia a dia, e as cidades não suportam mais”, sentenciou, revelando que surgem cerca de 150 mil novos veículos por ano na capital paulista.
Soluções? Para a arquiteta, elas passam por: ampliação do metrô, das faixas de ônibus, de ciclovias e da intermodalidade (integração de metrô, ônibus, trem etc.), além da melhoria da mobilidade aos pedestres (que respondem por cerca de 44% dos deslocamentos) e da abertura de espaços públicos para a população - como o que se vê no Minhocão e agora também na Avenida Paulista aos domingos.
De modo geral, defende a arquiteta, é preciso haver a priorização do pedestre e da bicicleta (como determina a Política Nacional de Mobilidade) e um maior número de soluções que incentivem o transporte público, que precisa se tornar mais confortável e rápido, e assim tem força para retirar o excesso de veículos das vias.
"O que procurei fazer foi uma atividade dinâmica com os jovens, para ajudá-los a entender melhor conceitos como o de redistribuição do espaço urbano. O resultado foi interessante e divertido", revela Quintáns.
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