No primeiro dia oficial da Avenida Paulista aberta para ciclistas e pedestres, o secretário municipal de Transportes Jilmar Tatto afirmou que a Prefeitura pretende fechar para carros pelo menos uma via de cada uma das 32 Subprefeituras até novembro deste ano. "Isso é um programa da Prefeitura para abertura de ruas. A ideia é abrir pelo menos uma em cada Subprefeitura e depois ir avaliando, ir ajustando, conforme a necessidade e o pedido da comunidade", disse.
Segundo Tatto, a Secretaria das Subprefeituras está realizando audiências públicas para discutir o assunto a pedido do Ministério Público e a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) está fazendo estudo da parte técnica das alternativas várias.
Cadastro dos moradores
O secretário também disse que há possibilidade da criação de um cadastro das placas dos veículos de moradores da Avenida Paulista. "Nós estamos monitorando a entrada e saída dos moradores. Estamos avaliando a possibilidade de cadastrar os veículos desses moradores". Para Tatto, o ideal seria que os moradores da via entrassem em contato com a CET para discutir o assunto e avisar caso necessitem sair. O número 1188 foi disponibilizado para o caso. "É um direito do morador", disse.
As ruas da Consolação e Brigadeiro Luís Antônio ficam abertas para os carros cruzarem, já a abertura da Rua Augusta está sendo avaliada. "Nos primeiros domingos ela vai ficar fechada para os carros, mas a CET está monitorando para ver a possibilidade de abrir para o carro atravessar", disse.
Espaço dividido
Tatto foi para a pista da Paulista de bicicleta, andando um trecho na parte sem ciclovia. O secretário acredita que, nas próximas vezes o ideal é recomendar que os ciclistas usem apenas o espaço das ciclofaixas e ciclovias. "No primeiro momento, talvez, orientar para o ciclista ficar na ciclovia ou ciclofaixa para ver se dá certo, porque eu acho que é mais seguro para o pedestre".
O vento gelado do início de uma manhã nublada e com temperatura perto dos 17ºC não impediu que ciclistas e skatistas comparecessem ao primeiro dia oficial da Avenida Paulista aberta neste domingo (18). Perto das 9h, a via ficou livre para pedestres, ciclistas e skatistas. Ficará fechada para carros e ônibus até as 17h em todos os domingos.
O trânsito foi desviado para vias no entorno, como a Alameda Santos, mas a reportagem não presenciou congestionamento. A ciclofaixa com cones foi montada, mas funcionários da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) informaram que toda a via estava livre para todos e que a ideia é transformar em um "parque grande". Por isso, a recomendação é para os ciclistas ficarem atentos ao fluxo de pessoas na via.
Bem cedo, às 4h, chegou Ernando Leo de Lima, de 51 anos. Há quatro anos ele trabalha como vigia de bicicletas. "Acho bom que seja fechado de vez. Não sou contra", disse. Ele fica cuidando de um estoque de 100 bikes para aluguel que serão repostas ao longo do dia. Um único "carro" apareceu neste domingo na Paulista. Enzo Deng, de 3 anos, é o motorista do carro. Ele estava com a mãe, Renata Deng, e o pai, Charles Deng.
Segundo a família, ele ganhou a miniatura da Audi da avó, mas não tinha muito espaço para andar em casa. "A gente é a favor [da abertura]. É uma opção de lazer a mais, que já existe em outras cidades, como no Rio", contou a mãe. Algumas mães e seus filhos pequenos aproveitaram a abertura da Paulista para realizar um ato a favor da amamentação. Priscila Kotzent, de 28 anos, disse que poder ocupar a via faz toda a diferença. "Hoje a gente está atraindo os olhos de todos aqui, mesmo nesse friozinho. A princípio, a gente ia ficar no Masp, mas como a paulista está fechada para carros, decidimos vir para a rua e isso fez toda a diferença. Completou o cenário", disse.
Cadeiras de praia também tiveram seu espaço na Avenida Paulista. A ideia veio dos movimentos Minha Sampa, Paulista Aberta e SampaPé. Ana Lívia Arida, de 31 anos, faz parte do Movimento Minha Sampa e afirmou que é hora de olhar a Paulista de um jeito diferente. "É um pouco inevitável associar o asfalto à praia do paulistano. Mas, agora temos que ver de um jeito diferente e positivo. O objetivo é que as pessoas possam curtir esse espaço de um outro jeito. Sentar, conversar, ler um livro e trazer mais um espaço de lazer aos paulistanos", disse.
Ricardo Oliva, arquiteto e ator, de 28 anos, o Senhor Coxinha, também compareceu na Paulista aberta. Ele encarnou o personagem para criticar o que chama de grupo mais "conservador" de São Paulo, que é contra algumas mudanças na cidade. Ele criou um canal nas redes sociais com o mesmo nome - Senhor Coxinha. A fantasia, de arame e espuma, custou cerca de R$ 100.
"Vou criar uma fantasia, um figurino de uma coxinha grande, e vou reproduzir o discurso dessa galera que tem o pensamento conservador, que tudo o que acontece na cidade - que pra mim é evolução - quer voltar atrás. Pessoal que só pensa no carro e no carro em primeiro lugar", disse. A Paulista também recebeu um protesto pelo povo palestino. Em um dos cartazes havia a frase: "Embargo, militar à Israel já! Frente em defesa do povo palestino".
A Prefeitura avaliou que, nos dois testes já realizados em junho e agosto, não houve impacto significativo para o trânsito. O fechamento para veículos já tinha ocorrido no dia 28 de junho, para a inauguração da ciclovia da avenida, e em 23 de agosto, para a inauguração da ciclovia da Avenida Bernardino de Campos, continuação da Paulista na região do Paraíso. A administração também realizou audiências públicas para discutir o fechamento da Paulista para carros.
O secretário de Direitos Humanos, Eduardo Suplicy, passeou a pé na Avenida Paulista no início da tarde. Enquanto caminhava, perguntava para os pedestres se todos estavam gostando da via fechada para veículos. "Ministério Público deveria estar aqui para ver isso", disse.A decisão foi tomada pela administração municipal apesar da polêmica com o Ministério Público de São Paulo.
O Ministério Público disse, em nota divulgada nesta quinta-feira (15), que encaminhará nova recomendação ao prefeito Fernando Haddad (PT) para que ele “reveja seu posicionamento” com relação ao fechamento da Avenida Paulista aos domingos. A nota também diz que “a atual gestão prefere adotar posições radicais” e que o MP “pretende soluções alternativas que realmente democratizem a utilização dos espaços públicos, de forma a maximizar sua utilização e minimizar seus danos e impactos à cidade e sua população, buscando harmonizar os interesses dos mais diversos setores da população”.
Um documento firmado com o órgão em 2007 previa que a avenida seria fechada apenas três vezes por ano – o que normalmente acontece no Réveillon, na corrida de São Silvestre e na Parada Gay. Recentemente, a Promotoria vinha propondo que uma faixa da via ficasse liberada para os veículos – proposta que não foi aceita pela Prefeitura.
Haddad afirmou nesta quinta que todos os estudos foram realizados nas imediações, incluindo a Avenida Doutor Arnaldo, e também que todas as exisgências do Ministério Público foram atendidas. "Esse final de semana, no domingo, já vamos abrir para pedestres, ciclistas, skatistas, enfim, vamos viver uma nova fase da Paulista aos domingos", disse. O prefeito já havia afirmado em diferentes oportunidades que o fechamento da Paulista se trata de uma medida de política pública com objetivo de a população se apropriar da cidade e de aumentar os espaços de lazer.
Acesso de moradores
Segundo a Prefeitura de São Paulo, o acesso dos moradores locais às suas residências será garantido, além do acesso a todos os hospitais da região. "Os moradores serão acompanhados por agentes da CET até a primeira esquina onde possa haver a conversão e terão que respeitar a velocidade máxima de 10 km/h", segundo a administração. Com relação aos hospitais, a maioria dos acessos será por ruas transversais, e no caso do Santa Catarina e do Clube Homs, haverá faixa de acesso exclusiva.
"A operação será planejada e sinalizada para garantir a segurança de todos que forem ao local, além da fluidez do trânsito na região", diz a prefeitura. A Avenida Paulista é a primeira entre as demais ruas que deverão ser abertas aos domingos. A previsão é que outros bairros da cidade, onde ocorrem audiências públicas, tenham uma rua para lazer aos domingos.
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