“... Sin importar si era la intención o no, la política ambiental en Europa se convirtió en una poderosa herramienta para proteger a los fabricantes de automóviles europeos”.
Esta é a conclusão do artigo do El País, sugerindo a manipulação da regulação ambiental europeia para atender interesses comerciais de fabricantes de veículos europeus.
No Brasil, a história dos carros leves a diesel pode ser encarada como uma extensão do movimento das montadoras europeias, que ostentam, bem hasteada, a bandeira das mudanças climáticas lá no velho mundo. Mas seria essa bandeira aplicável ao caso brasileiro? Então vejamos.
Com um poderoso lobby chamado "Aprove Diesel", as montadoras europeias, já faz alguns anos, estão alvoroçadas tentando trazer para o Brasil os automóveis leves a diesel, e para isso, querem abolir a lei que proíbe carros de passeio diesel por aqui.
Entretanto - especialmente depois da fraude da VW - parece que haverá resistência por parte de ambientalistas, porque o diesel tem altas emissões de material particulado - MP cancerígeno e óxidos de nitrogênio - NOx, e nossa legislação ainda não tem os rigorosos limites máximos da Europa: o Euro 6.
Nosso diesel ainda não tem ultra baixo teor de enxofre (10ppm) em todo território (ainda tem muito diesel com 500ppm), o que pode danificar permanentemente os sistemas de controle de emissão dos motores diesel (reatores de uréia - SCR e filtros de partículas - DPFs, entre outros).
Lei não é cumprida
E também, porque ainda não temos a inspeção veicular obrigatória anual. Os governantes estaduais não cumprem o artigo 104 da lei 9.503/1997 - CTB - há 19 anos - e sem sanções! Ora veja .... como é fácil governar como imperadores, sem ter que cumprir leis! Mas, mesmo quando tivermos a inspeção veicular - se um dia a sociedade acordar ou acontecer um milagre na área política ou no sistema judiciário - ela ainda não seria capaz de identificar veículos leves a diesel com problemas nesses filtros avançados.
Além de tudo isso, o diesel sempre foi subsidiado pelo governo federal, e se não é hoje, eventualmente, pode voltar a ser, a qualquer tempo. Como o carro a diesel é mais caro, será comprado principalmente pelos mais abastados. Assim, não faz nenhum sentido o subsídio com dinheiro público para indivíduos da elite rodarem por aí sozinhos dentro de carros com dois mil kg ou mais.
Quer mais? O carro a diesel é o virtual concorrente do carro flex, que usa álcool puro ou gasolina com 27,5% de álcool anidro, dependendo do preço relativo do combustível renovável. Por isso, como o concorrente do diesel não é o carro movido a gasolina pura aqui no Brasil, a máxima de que os carros a diesel - pouco mais mais eficientes que aqueles com motores do ciclo Otto - produzem menos emissões de CO2 fóssil, por aqui não vale, somente na Europa. Cá no Brasil, os flex, tanto movidos a gasolina e principalmente, quando movidos a etanol puro, dão de "sete a um" no carro a diesel, em termos de emissões fósseis evitadas.
Portanto, o chapéu das vantagens do diesel no combate às mudanças climáticas, cantadas em verso e prosa pelas montadoras europeias, jamais servirá na cabeça brasileira, como querem fazer acreditar os voluntariosos adeptos do lobby do automóvel a diesel.
Quer subsidiar os mais ricos, piorar a qualidade do ar, aquecer o planeta e enterrar de vez o Proálcool? Aprove Diesel!
*Olimpio Alvares é diretor da L'Avis Eco-Service, especialista em transporte sustentável, inspeção técnica e emissões veiculares; é membro fundador da Comissão de Meio Ambiente da Associação Nacional de Transportes Públicos - ANTP, diretor de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Associação Brasileira de Teletrabalho e Teleatividades - Sobratt e ex-gerente da área de controle de emissões de veículos em uso da Cetesb
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