Ao fim do processo de implantação de dez novas composições, a capacidade do metrô de Belo Horizonte passará dos atuais 220 mil usuários ao dia para 350 mil. Fora dos trilhos, porém, a estrutura do sistema continuará a mesma. A reportagem percorreu as estações para mostrar problemas que poderão ser evidenciados pelo aumento de 60% na demanda.
Passarelas estreitas, plataformas que não suportam o volume de pessoas e falta de espaço para o embarque e desembarque, além de insegurança, são algumas das queixas. Na Estação Eldorado, por exemplo, o aperto é rotina para quem utiliza o sistema, especialmente nos horários de pico. Pela manhã, o empurra-empurra na plataforma ganha corpo na hora de embarcar. É tanta gente que há risco de acidentes.
“Todos os dias, os funcionários fecham parte das catracas por causa da quantidade de gente. É um absurdo”, relata a estudante Jéssica Antunes, de 23 anos. À noite, quando o fluxo de pessoas se inverte, a briga é por um espaço na estreita escada rolante. “Tenho medo de ser empurrada e acabar machucando”, diz a fisioterapeuta Ametista Franco, de 46 anos.
Aperto
Ainda no Eldorado, o acesso da estação à rua Jequitibás, onde muita gente continua o trajeto de ônibus, beira o absurdo. A rampa é estreita e causa longas filas. A Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) garante que o fechamento de catraca ocorre em situações extremas, para controlar o fluxo de passageiros em casos de anomalias no sistema.
No outro extremo da Linha 1 do metrô, mais problemas de acessibilidade. Escadas rolantes em constante manutenção e elevadores interditados obrigam passageiros da Estação Vilarinho a se espremerem em uma única escada. Falhas comuns também à Estação Vila Oeste. “O trânsito fica limitado com o sobe e desce de pessoas. Faltam melhorias”, diz o office-boy Fernando Santos, de 20 anos.
Insegurança
Aperfeiçoar um serviço é sempre muito bem-vindo, mas de nada adianta se o cidadão tem medo de utilizá-lo. No entorno de algumas estações, passarelas pouco iluminadas aumentam a sensação de insegurança. A funcionária pública Amanda Santos, de 32 anos, evita usar o transporte pela Estação Santa Efigênia. “Fui vítima de roubo na passarela. No dia, o segurança do metrô estava de papo dentro da estação”, lembra.
A escadaria escondida na Estação Carlos Prates expõe os usuários a todo tipo de sorte. “Não tem visibilidade pela Via Expressa. Virou local de uso de drogas e banheiro público”, diz a nutricionista Michelle de Paiva, de 34 anos. Em nota, a CBTU informou que tem investido em melhorias no acesso às plataformas, saguões e banheiros. A empresa ressalta que as áreas externas são de responsabilidade da Segurança Pública.
Passageiros elogiam conforto e aguardam novas composições
Passageiros do metrô aprovaram as novas composições, em circulação há quase um mês. Eles ressaltam o ganho em conforto. “Os novos vagões são amplos. Não tem mais aperto durante a viagem”, afirma a servidora pública Dayane Chamy. Com capacidade para transportar até 1.300 passageiros, os novos trens são mais modernos e oferecem ar-condicionado, janelas e portas mais largas, circuito fechado de vídeo com câmera de segurança interna e externa, além de sonorização digital e 32 monitores por trem para a comunicação com os passageiros.
“A viagem ficou mais segura, principalmente para pessoas como eu, que têm deficiência visual. Sei que agora o maquinista pode me ver entrar e sair do vagão”, diz o estudante Sérgio Sampaio, de 29 anos.
Demora
Apenas duas das dez composições previstas estão em testes com passageiros, das 9h às 17h. Não há data exata de quando todas estarão em circulação. De acordo com a CBTU, as novas composições serão integradas ao sistema de forma gradativa na programação do horário do metrô. “Espero que a CBTU coloque todos os novos trens em operação depressa. Quem anda no sistema não troca por nada”, afirma a estudante Bruna Rodrigues, de 26 anos.
A administradora Rafaia Bueno de Assis, de 33 anos, ainda não teve oportunidade de viajar na nova composição, mas acredita que a modernização traz melhorias para os passageiros. “O metrô de BH precisa inovar para que mais pessoas fiquem atraídas e passem a utilizá-lo. Quem sabe, assim, diminui a quantidade de carros nas ruas”, avalia.
Cadeiras reduzidas
Mesmo com a aprovação, usuários dizem que, apesar das novas composições serem mais espaçosas, os bancos estão com o tamanho dos assentos reduzidos. “Quem é mais cheinho passa apertado. Houve diminuição da quantidade de bancos, apesar de terem respeitado as cadeiras para idosos, deficientes e gestantes”, afirma o professor Sérgio Diniz, de 48 anos.
Em nota, a CBTU informou que o trem conta com 22 assentos preferenciais para gestantes, idosos, obesos e passageiros com mobilidade reduzida, além de área reservada a pessoas com cadeira de roda.
Saída para o metrô pode estar em PPP
Uma parceria público privada (PPP) voltada à administração do metrô de Belo Horizonte pode ser a alternativa que faltava para alavancar as obras de ampliação e melhoria do sistema. A expectativa é a de que um acordo entre os governos federal e estadual seja concluído até o fim do ano. O tema foi debatido nessa terça (6) em audiência pública na Câmara dos Deputados, em Brasília.
Segundo a gerente de projetos da Secretaria Nacional de Transporte e da Mobilidade Urbana, Paula Coelho da Nóbrega, primeiro é preciso descentralizar a gestão, passando da União para o governo do Estado, processo ainda em análise pelos ministérios do Planejamento e das Cidades. “Após escolher o gestor do sistema, teremos a definição de como a administração será feita, seja unicamente pelo Estado ou em PPP. A ideia é a de que o metrô saia da responsabilidade do governo federal”.
Ainda de acordo com Paula, cidades como Fortaleza (CE) e Salvador (BA) são exemplos de bons resultados. “A primeira está com sistema gerenciado pelo governo estadual e a segunda com parceria público privada”.
Argumento
Autor do requerimento da audiência pública, o deputado Laudívio Carvalho (PMDB) defende que o governo do Estado assuma uma gestão compartilhada com o governo Federal. “Minas, sozinha, não tem dinheiro para administrar o sistema. O que não podemos deixar é que a população fique esperando por obras que não saem do papel”.
Na avaliação do Sindicato dos Metroviários (Sindmetro), a transferência de gestão do metrô para a iniciativa privada pode representar piora na qualidade do serviço, “pois esta só visa o lucro”. Em nota, a Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas (Setop) informou que a transferência da operação do metrô ainda está em análise.
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