O desafio das grandes cidades brasileiras, de oferecer mais mobilidade aos cidadãos, vem provocando mais um debate na capital paulista. O motivo é a mais nova proposta da Prefeitura para resolver a dificuldade de andar nas calçadas de São Paulo. O executivo municipal decidiu ampliar o espaço para quem anda a pé numa importante avenida no bairro da Liberdade (região central) onde a calçada é estreita demais para a quantidade de pedestres. Porém, essa ampliação do espaço a pedestres não se deu pelo alargamento das calçadas, mas sim pela destinação de parte do viário para o trânsito exclusivo de pessoas a pé.
Pela nova proposta, o leito carroçável da avenida deixa de ser apenas 'cinza asfalto' para ganhar o 'verde pedestre'. “Essa calçada na Liberdade fica lotada mesmo, porque é um local para onde vai todo mundo quando sai do serviço ou está indo para a faculdade “, contou a auxiliar de serviços gerais Maria José Chagas Guilherme.
Já a aposentada Amaly Farah disse à reportagem do Jornal Nacional que nem tinha percebido a faixa. "Vi que eles estavam arrumando aí, mas não sabia o que que era. Agora sim, vejo que está pintada de verde, não é mesmo?".
A cor verde foi escolhida pela prefeitura para caracterizar no espaço da rua a extensão da calçada. A nova faixa pintada no asfalto tem 780 metros. E está sendo considerada pela administração como um teste para ver se a segurança dos pedestres aumenta em lugares assim, onde as pessoas já vem andando mesmo pela rua, por falta de espaço na calçada.
“O que nós vamos observar durante o período de operação deste projeto piloto é o quanto as pessoas se apropriam desse espaço. O quanto ele é funcional de fato, o quanto resolve o problema. E o passo seguinte é um alargamento de calçada, que implica em projetos mais complexos”, destaca Ronaldo Tonobohn, superintendente de Planejamentos e Projetos da Prefeitura. Segundo ele, é uma solução mais barata e mais rápida do que alargar calçadas. Mas é também mais polêmico, reconhece.
Anthony Philip Gold, consultor em mobilidade urbana, lembra que há diversos lugares em São Paulo onde o pedestre sai para andar na rua mesmo. "Não é que eles gostem de aventura não, é pura falta de opção", denuncia. Há calçadas que parecem uma trilha, diz: “Se a gente olha para a calçada, tem uma fileira de árvores, postes etc. Estes elementos, que estão aí, acabam protegendo os pedestres, já que afastam os veículos de subir na calçada". Já sobre a faixa verde, diz Gold: "Nesse caso, a única coisa entre eu e os veículos é essa tartaruga, que realmente não oferece muita proteção”, critica. Gold gosta de lembrar que "até mesmo quem anda pouco a pé é pedestre em algum momento do dia".
Para mostrar como os pedestres enxergam, a equipe de repórteres do Jornal Nacional assumiu esse papel e usou um óculos. Por causa do aperto, dos buracos, do carro em cima da calçada, sim, constataram, eles andam pela rua. E se a faixa do bairro da Liberdade passar no teste, outros locais de São Paulo poderão ficar assim, mais verdes (não confundir com o verde das árvores).
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