Cleber de Jesus, de 32 anos, mal lembra da última vez que usou outro meio de transporte que não a bicicleta. “Esse ano, ainda não andei dez vezes de ônibus. Não troco minha bike por moto nenhuma”, disse ele, que trabalha montando bicicletas há 10 anos em sua casa, na Piedade. Quando tem que resolver um compromisso em um local que não permite a entrada da magrela, como uma ida ao banco, a alternativa é ficar atento e observar ela de longe. “Tenho que descer ligado para que ninguém roube enquanto eu não estiver por perto”, relata.
O montador ainda não sabe, mas vai ganhar alternativas seguras para estacionar sua bike. No próximo sábado (3), Salvador vai receber a Estação Bike Farol da Barra. O local vai abrigar um bicicletário funcionando em um contêiner de 15 m de comprimento. No local, os ciclistas poderão guardar suas bikes com segurança, utlizando as 44 vagas disponíveis distribuídas em dois andares.
A iniciativa é uma parceria do banco Itaú com a prefeitura, e o orçamento não foi divulgado Empresa Salvador Turismo (Saltur), responsável pelo projeto. O bicicletário foi desenvolvido e será operado pela Compartibike, empresa especializada em soluções sustentáveis de mobilidade urbana.
Localizado bem ao lado do Farol da Barra, o bicicletário funcionará entre 6h e 0h, todos os dias. Para se cadastrar, basta apresentação de documento com foto, número do CPF e estar com a bicicleta presente para registro com foto.
Pernoite
Cada usuário pode guardar, em seu cadastro, até três bicicletas, que podem pernoitar até 72h no local. Esgotado o tempo, as bikes serão levadas para um galpão.
Segundo o presidente da Saltur, Isaac Edington, o projeto busca “facilitar a vida dos usuários de bicicleta, fazendo com que cada vez mais pessoas deixem de utilizar o carro”. “Existe uma pressão social para o uso do carro nesse local, e esta é mais uma alternativa de locomoção”, disse.
O projeto deve resolver o problema do auxiliar de serviços gerais Luciano da Conceição, de 33 anos. “Gosto de ir pra praia de bicicleta mas só posso ir pra do Cantagalo porque é onde tenho um colega, dono de um bar, que fica olhando a bike enquanto dou um mergulho”, relatou o ciclista.
Se houvesse um lugar para guardar sua bicicleta em outras praias da capital, Luciano poderia diversificar os passeios. “Se tivesse como deixar minha bicicleta na Barra, por exemplo, eu iria mais pra lá, que é uma praia que eu gosto muito”, comentou.
De acordo com o presidente da Saltur, outro bicicletário está em fase de estudo e tem grandes chances de ser instalado na Ribeira, próximo ao terminal marítimo e o fim de linha dos ônibus.
Ampliação
A instalação do bicicletário na Barra faz parte das comemorações referentes aos dois anos do Movimento Salvador Vai de Bike (MSVB). Edington explica que a cidade é a quinta capital brasileira a implantar o sistema de bicicletas compartilhadas e uma série de medidas continuam sendo tomadas para ampliar a infraestrutura cicloviária e criar oportunidades de desenvolver a cultura da bike na população.
Outra novidade anunciada pela prefeitura é a ampliação das ciclofaixas de lazer da cidade, formando um total de 12,1 km dessas faixas para uso nos finais de semana e feriados.
Atualmente, são três ciclofaixas de lazer: uma entre o Parque da Cidade e a Otávio Mangabeira; outra entre o Pelourinho e o Campo Grande; e uma que é montada entre a Barra e a Ondina. Com a ampliação, a ciclofaixa que vem do Parque da Cidade se estenderá até a Avenida Magalhães Neto, chegando à Otávio Mangabeira e depois passando por toda a Avenida Paulo VI. A outra ampliação será da faixa que liga o Terreiro de Jesus e o Largo da Vitória.
Expectativa
Morador do Engenho Velho da Federação, o estudante Enzo Belmonte, de 16 anos, tem se preocupado com a questão da mobilidade na capital. “Andar de bicicleta é mais saudável e não polui o ar. Eu queria ir para a escola pedalando, mas os motoristas não respeitam os ciclistas e faltam ciclovias e lugares para guardar a bicicleta”, queixa-se.
Apesar da reclamação, Edington enxerga importantes avanços na discussão sobre o uso do meio de transporte. “Com o movimento (Salvador Vai de Bike), tiramos o ciclista da invisibilidade. A bicicleta se tornou uma pauta importante da cidade, e isto é muito bom. Hoje se fala no assunto e se cobra iniciativas”, afirma.
“Quando começamos este trabalho, diziam que nunca daria certo porque a cidade tem muitas ladeiras. Hoje, colocamos elas (bicicletas) dentro do Elevador Lacerda e de planos inclinados, como o Gonçalves, Liberdade, Pilar e Subúrbio”, cita o presidente da Saltur.
Leia também:
Em Salvador, ativistas defendem verba do Fundurb para o sistema cicloviário
Conheça o novo bicicletário da av. Paulista, em São Paulo
Bicicletários em Brasília: bons e maus exemplos