Quem são as pessoas que utilizam a bicicleta como meio de transporte nas grandes cidades brasileiras? Em quantos dias da semana elas pedalam? O que as fazem pedalar mais? Quais as suas dificuldades? Essas são perguntas que estão sendo respondidas pela pesquisa inédita “Perfil do Ciclista brasileiro”, um esforço conjunto de nove organizações que atuam na promoção da bicicleta, o Observatório das Metrópoles e o Programa de Pós-Graduação em Urbanismo (PROURB/UFRJ).
Pesquisadores foram às ruas durante o mês de agosto e abordaram usuários de bicicletas que as utilizam como modal de transporte pelo menos uma vez por semana em 10 cidades brasileiras: São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Salvador, Recife, Brasília, Manaus, Aracajú e Niterói.
Os resultados preliminares do levantamento mostram uma maior concentração de ciclistas na faixa etária de 25 a 34 anos (36,4%), seguida pelo grupo de 35 a 44 anos (24,2%).
Nas dez cidades pesquisadas, pessoas que pedalam mais de cinco dias da semana compõem a grande maioria: 73,6%. Nesse quesito, o maior percentual mais alto foi constatado no Rio de Janeiro, onde 81,4% das pessoas entrevistadas afirmaram pedalar 5, 6 ou 7 dias por semana.
Chama a atenção também a diferença entre as duas maiores cidades do país quanto à quantidade de pessoas que realizam a integração entre a bicicleta e outro meio de transporte. No conjunto das dez cidades pesquisadas 25,7% dos entrevistados disseram realizar algum tipo de integração com outro meio. No Rio de Janeiro, esse percentual chegou a 34,4%, enquanto que em São Paulo foi de 27,7%.
Entre os ciclistas entrevistados predominam pessoas com renda entre 1 e 2 salários mínimos (entre R$ 788,00 a R$ 1576,00). No conjunto das 10 cidades 30% das pessoas estão nessa faixa de renda.
Considerando todas elas, o tempo médio de deslocamento é de 30 minutos. A pesquisa mostra ainda que homens têm tempo médio de 31 minutos, enquanto as mulheres levam em média 25 minutos em seus deslocamentos de bicicleta.
Homens também apresentam propensão maior para pedalar mais dias por semana; 30% deles disseram utilizar a bicicleta todos os dias da semana; enquanto que entre as mulheres, esse percentual chegou a 18,7%. Essa diferença é ainda maior no Rio de Janeiro, onde mais de 41% dos homens afirmaram pedalar em todos os dias semana. Já entre as mulheres o percentual é 22%.
A pesquisa também revela que 20% das pessoas disseram ter sofrido algum acidente de bicicleta nos 12 meses anteriores à pesquisa.
Segundo Juciano Rodrigues, pesquisador do Observatório das Metrópoles, esse levantamento pode gerar evidências empíricas importantes e inéditas sobre como as pessoas utilizam a bicicleta para seus deslocamentos diários e qual o papel desse modo de transporte desempenha no sistema de mobilidade local e no acesso ao sistema de mobilidade urbana em cada cidade.
Para o diretor de Participação da Ciclocidade, Daniel Guth, a pesquisa vai ajudar a aprofundar o entendimento sobre o usuário de bicicleta e pode contribuir para a formulação de políticas públicas para esse tipo de transporte. “Políticas de mobilidade para a bicicleta só podem ser formuladas a partir da compreensão da cultura e do comportamento do ciclista, das suas demandas. O levantamento, nesse sentido, traz informações inéditas para o país, e poderá fortalecer ainda mais o debate sobre estruturas cicloviárias nas grandes cidades”.
Os resultados finais da pesquisa “Perfil do Ciclista brasileiro” serão divulgados em um seminário nacional no Rio de Janeiro na última semana de novembro. O encontro contará com a participação do Observatório das Metrópoles e PROURB, e membros de todas as organizações envolvidas – Mobicidade, Ciclocidade, Transporte Ativo, BH em Ciclo, Salvador vai de Bike, Ameciclo, Rodas da Paz, Pedala Manaus e Ciclo Urbano, que utilizarão os dados da pesquisa para mostrar os resultados de cada cidade.
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