Como gerir a demanda para melhorar a mobilidade urbana nas cidades

Painel no Congresso Internacional Cidades & Transportes discutiu o papel dos setores público e privado no incentivo de opções mais sustentáveis de transporte

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Fonte: WRI Cidades Sustentáveis  |  Autor: WRI Cidades Sustentáveis  |  Postado em: 11 de setembro de 2015

Gestão da demanda foi tema do encontro

Gestão da demanda foi tema do encontro

créditos: Luke Garcia

 

O que seria necessário, em termos de infraestrutura, se todos os participantes viessem de carro para o Congresso?” Com esta provocação, Todd Litman, Pesquisador do Victoria Transport Policy Institute (Canadá), foi o primeiro palestrante a falar na sessão “Gestão de Demanda de Viagens em Contraposição ao Congestionamento” que ocorreu na tarde desta quinta-feira.

 

Para transportar os cerca de 1.000 participantes à Cidade das Artes, palco do Congresso Internacional Cidades & Transportes, seria necessário dedicar uma faixa de rodovia durante uma hora, além de 4 a 5 hectares de espaço para estacionar todos estes automóveis. Para as pessoas ainda seria necessário arcar com os custos para possuir uma carteira de motorista, um automóvel e pagar pelo combustível e demais impostos. O uso do automóvel ainda implica externalidade negativas para toda a cidade, tais como, poluição e segurança viária.

 

Mas “o que seria necessário para convencer as pessoas a mudarem de hábito? O que seria necessário para vocês desejarem utilizar o ônibus?”, continuou a provocar Litman. Um serviço de qualidade, que seja confiável, com estações que possuem informações ao usuário, tarifa integrada debitada diretamente do smartphone, ônibus confortáveis e com Wi-Fi nos quais se possa utilizar melhor o tempo gasto nos deslocamentos, foram alguns dos elementos elencados pelo especialista. Mas apenas qualificar as opções mais sustentáveis de transporte não basta, também é necessário implantar medidas que desestimulem o uso do automóvel, conclui. “Foi através da combinação dessas medidas que Ken Livingstone melhorou a mobilidade urbana de Londres, conforme palestra de abertura do Congresso” acrescentou Laura Valente, Consultora Sênior de Sustentabilidade Urbana do WRI Brasil, moderadora do painel.

 

Seguindo a linha de ações do poder público, Ramon Victor Cesar, presidente da BHTrans de Belo Horizonte, comentou o que estava sendo feito em sua cidade. O plano de mobilidade urbana elaborado em 2007 já compreendia questões de Gestão de Demanda de Viagens (GDV). Entre as medidas, estava a qualificação do serviço de transporte coletivo através da implantação dos corredores de BRT, MOVE. Inaugurado no ano passado, o sistema contribuiu para o aumento de 1% do número de passageiros e reverteu um quadro de constante queda. Além disso, a cidade está adicionando medidas que estimulem opções sustentáveis de transporte dentro do leque de políticas mitigadoras a serem implantadas por grandes empreendimentos como universidade, shopping centers e complexos corporativos, finalizou Ramon.

 

Medidas de GDV também devem ser aplicadas diretamente por organizações. No Brasil, 50% dos deslocamentos diário realizados têm como motivo o trabalho, reforçando a responsabilidade das instituições na situação da mobilidade urbana das cidades. “Na Cidade do México e São Paulo, boa parte das empresas oferece vagas de estacionamento de graça, auxílio combustível e, às vezes, até mesmo um veículo corporativo. Mas, se você opta por abdicar destes benefícios, não recebe nada”, frisou Diego Cañales, Colaborador em Inovação de Dados e Ferramentas, WRI Ross Center for Sustainable Cities. As organizações precisam informar as opções de transporte com as quais seus funcionários podem se deslocar até o local de trabalho, promover o uso da bicicleta, do ônibus fretado, da carona ou, até mesmo, eliminar a necessidade de deslocamento através do teletrabalho, comentou Cañales.

 

E as organizações não precisam de muito para ser convencidas. Segundo Roberto Gregório, presidente da URBS de Curitiba, questões como o custo do terreno para a construção de estacionamentos em detrimento de sua melhor utilização e o impacto do tempo e do custo dos deslocamentos casa-trabalho na produtividade e qualidade de vida dos funcionários, são motivos que fazem GDV ser uma ideia atrativa para as organizações. Grasielle Esposito, Intendente da Cidade Administrativa de Minas Gerais, trouxe os desafios enfrentados diariamente pelos servidores do Estado no deslocamento ao trabalho. Antigamente alocados em diversos prédios na zona central de Belo Horizonte, os 17 mil funcionários foram transferidos para um único complexo com a promessa de oportunizar uma maior interação entre eles. Contudo isso também teve um revés: a Cidade Administrativa está localizada a 20 quilômetros do centro da cidade. Isso fez com que muitos servidores que antes utilizavam o transporte coletivo ou até mesmo iam a pé tivessem que utilizar o automóvel e desperdiçar cerca de 2h por dia nos deslocamentos. Mesmo com 3,5 mil vagas de estacionamento, ainda há uma lista extensa de espera por uma vaga de estacionamento com mais de 1,5 mil funcionários. Através de um recente termo de cooperação com o WRI Brasil Cidades Sustentáveis, o Governo de Minas Gerais iniciou um projeto de gestão de demanda que visa estimular hábitos mais sustentáveis por parte dos servidores.

 

Para Raphael Rodrigues, Diretor de Desenvolvimento Institucional do CEBDS, as “empresas têm a obrigação de ter políticas muito claras para incentivar a mudança de hábitos”. Vivemos em um período onde o nível de individualidade das pessoas é muito grande e isso se reflete inclusive nos transportes em que a maioria dos deslocamentos em automóvel é realizado com um único ocupante. Tanto o setor público, quanto o privado têm responsabilidade em incentivar as medidas de gestão de demanda e devem se unir para melhorar a mobilidade urbana das cidades, concluiu Raphael. A EMBARQ Brasil agora é o WRI Brasil Cidades Sustentáveis.

 

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