Piso reto e falta de buracos atrai corredores para ciclovias de São Paulo

O piso liso de ciclovias não atrai só bicicletas. Skatistas e corredores começam a usar essas pistas para treinar

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Fonte: Folha de São Paulo  |  Autor: Rafael Balago  |  Postado em: 24 de agosto de 2015

Corredora na ciclovia compartilhada na Sumaré

Corredora na ciclovia compartilhada da avenida Sumaré

créditos: Rodrigo Dionísio/Folhapress

 

"Corro em ciclovias como a da Sumaré, mas não na Faria Lima, porque há muitas bikes. É questão de bom senso", diz Silvia Stuchi, 30, uma das criadoras do grupo Corrida Amiga, que promove o uso da corrida como meio de deslocamento urbano."A ciclovia é apenas uma calçada boa."

 

"Correr em um piso firme e sem desníveis é prazeroso. O cimento permite correr mais rápido que no asfalto, pois ele absorve menos o impacto", explica Marcel Sera, 30, fisioterapeuta. "No entanto, se exercitar em terreno irregular fortalece mais os músculos."

 

Para ciclistas, é preciso cuidado ao desviar. Enquanto uma pessoa correndo atinge, em média, 9 km/h, uma bike alcança facilmente 20 km/h. Um dos momentos perigosos é quando o corredor dá meia-volta sem olhar para trás.

 

Em 2014, de 538 mortes por atropelamento na cidade, apenas duas foram causadas por bicicletas. Na semana passada, um ciclista atropelou um homem de 76 anos nas proximidades da ciclovia do Minhocão. Ele morreu em decorrência dos ferimentos.

 

Em ciclovias criadas em canteiros centrais, há espaço para passar com a bicicleta sobre a grama para desviar de corredores. Já nas pistas que ficam entre grades e faixas para carros, como na rua Vergueiro, invadir o espaço dos automóveis pode ser a única opção.

 

Edna Camilo, 51, passou a correr na ciclovia da avenida Eliseu de Almeida, no Butantã, para fugir das calçadas ruins. Há dois meses, um homem a bordo de uma bicicleta a empurrou ao ultrapassá-la. Ela caiu e machucou o ombro. "Precisarei fazer oito meses de fisioterapia", conta Edna, gerente de terraplanagem. "Foi um caso excepcional. Os ciclistas normalmente me respeitam e continuo a correr lá."

 

O designer Jorge de Almeida, 37, mora na Paulista e tentou correr na ciclovia, mas desistiu. "Tem que parar muito por causa dos semáforos. Melhor ir ao Ibirapuera", avalia.

 

O compartilhamento de espaço entre corredores e bicicletas vem de longa data. Em São Paulo, antes da criação das ciclovias, era comum que as bicicletas usassem as pistas de caminhada no canteiro central de avenidas como Pedroso de Morais, Edgar Facó e Sumaré. Nos últimos meses, a gestão Fernando Haddad reformou e pintou várias dessas faixas de vermelho, oficializando seu uso por bikes.

 

O caso da avenida Sumaré é emblemático. Em 2014, foram instaladas placas indicativas de que o trecho é compartilhado entre ciclistas e pedestres. A turma a pé está em vantagem. A sãopaulo pedalou na ciclovia na noite de segunda (17) e cruzou com 141 pessoas correndo ou andando pelas pistas, contra dez bicicletas.

 

"Para evitar conflitos, muitas vezes percorremos a Sumaré pelo asfalto", conta Teresa D'Aprile, líder do grupo ciclístico Saia na Noite. "Deveria haver mais sinalização e campanhas sobre o compartilhamento da via", defende.

 

O decreto municipal que regulamenta as ciclovias autoriza seu uso por skatistas e patinadores, mas não por pedestres. Entretanto, não há punição prevista para quem correr ou caminhar nessas faixas. De acordo com a CET, os guardas orientam os pedestres a evitar essas vias, mas não têm poder para retirá-los de lá.

 

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