As acirradas discussões em torno da instalação de ciclovias, assim como da cobrança das sacolas plásticas em São Paulo, parecem questões menores diante da crise econômica e política atual; mas, de fato, são estas questões que ocupam espaço importante no debate sobre nosso futuro.
Trata-se, basicamente, do acirramento da barbárie ou da busca de uma cidadania mais efetiva que venha a harmonizar o convívio e a qualidade de vida nos centros urbanos brasileiros. Vejamos o caso das bicicletas na capital paulista:
Ciclovias e a ocupação do espaço público
Assim como o plástico entrou em nossas vidas sem qualquer reflexão mais aprofundada sobre seus pontos favoráveis e contrários, o automóvel desde o início do século passado foi visto como uma maravilha da modernidade. Ao longo dos anos representou um grande sonho de consumo e a sua popularização obrigou os gestores públicos a adaptar as cidades para o "deus carro" ocupar espaços cada vez maiores.
Hoje, no entanto, a realidade nas cidades brasileiras é de caos: veículos motorizados demais para ruas de menos; congestionamentos infernais; poluição atmosférica em níveis alarmantes e enormes gastos do poder público com obras viárias para dar vazão a uma realidade sem futuro.
E por falar em realidade, ela se impõe ao deixar bastante claro que é impossível continuar baseando a gestão do transporte em carros particulares. Transporte público eficiente, calçadas efetivamente transitáveis e ciclovias são caminhos para transformar esse panorama. Até aqui essa gestão foi simplesmente “da cidade para os carros”; agora, começa-se a entender que temos que migrar para uma visão mais civilizada, como “a cidade para as pessoas”.
A recente inauguração da ciclovia na icônica e simbólica Avenida Paulista, centro financeiro do país, foi cercada de polêmicas, ainda mais que agora se estuda fechar a via aos domingos para lazer dos paulistanos. As ciclovias da capital paulista têm recebido inúmeras críticas, pois dizem estar sendo feitas sem planejamento.
Não vou entrar no mérito de que algumas parecem mesmo ter sido feitas às pressas e, claro, caso não estejam de acordo devem ser revistas. O que chamo a atenção é para a revolta de alguns quanto a pura existência desses novos espaços, tão comuns nas elogiadas cidades europeias.
Muitas dessas críticas soam como pura indignação, pois subtraem (e isso nem sempre é verdade) espaços antes ocupados por veículos ou que agora precisam ser também compartilhados por bicicletas.
“Se já não bastassem os corredores de ônibus, agora mais essa de ciclovias”, parecem dizer certos pensamentos corriqueiros nem sempre externados de maneira clara.
A questão de fundo vai muito além de sacolas e bicicletas, mas da construção de uma cidadania mais efetiva. No entendimento de como devemos conviver em sociedades cada dia mais complexas e adensadas. As responsabilidades passam pelo uso correto dos materiais e seus respectivos descartes, bem como na ocupação civilizada do espaço público. Tudo isso para que, um dia, possamos ter orgulho de viver em cidades brasileiras mais humanas.
Sobre a polêmica das sacolas plásticas, acesse o link da Carta Capital e leia o artigo na íntegra.
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