É correta e corajosa a iniciativa da cidade de São Paulo de reduzir a velocidade do tráfego nos principais corredores de trânsito da cidade. A experiência foi implantada no dia 20 passado, nas avenidas Marginais e desencadeou uma violenta campanha por parte da grande mídia e de algumas lideranças políticas da capital paulista.
Basta um breve passeio a pé em qualquer avenida mais movimentada de qualquer capital do país para notar as cicatrizes, centenas delas, em placas de sinalização, postes, árvores e gradis de proteção ao longo dessas vias. São sinais inequívocos de acidentes que ocorrem todos os dias, envolvendo veículos e pessoas.
Vamos aos números:
No Brasil, todos os anos, cerca de 45 mil pessoas morrem em acidentes de trânsito, o que resulta em uma taxa de 22,6 mortes por cem mil habitantes, bem acima da de países que têm o dobro de veículos por habitante, como a Alemanha, com 6,6 mortes por cem mil. A taxa brasileira é superior, ainda, à de dois países vizinhos, Chile e Argentina, ambos com cerca de 12 mortes por cem mil habitantes.
Especialistas de todo o mundo sabem que a redução de velocidade é a melhor forma de evitar acidentes. E é por isso que tantas cidades ao redor do mundo têm desenvolvido políticas para acalmar o trânsito e reduzir velocidades.
A proposta de São Paulo, portanto, não é nenhuma novidade. Nova York, por exemplo, tinha 269 mortes no trânsito em 2011 e desde então tem trabalhado para zerar essas fatalidades. Trata-se de proteger vidas e evitar os gastos com hospitalização, seguros e outras despesas, todas pagas pela sociedade. Todos ganham com isso.
A iniciativa também é coerente com as discussões realizadas durante a elaboração do Planmob, o Plano de Mobilidade Urbana, exaustivamente debatido com a comunidade. Nas plenárias finais, em abril passado, os vários grupos foram unânimes em recomendar a redução da velocidade em todas as avenidas e ruas da cidade. É fácil compreender: a 40km/h o motorista ou motociclista consegue prever um possível acidente e frear a tempo de evitá-lo.
E o que perdem os motoristas?
Em horários de pico, as tais avenidas expressas ficam absolutamente engarrafadas e a velocidade não passa mesmo da média de 15 km/h.
Nos horários noturnos ou nos finais de semana, quando é possível pisar mais fundo no acelerador, um motorista que chegasse a São Paulo pela rodovia Castello Branco (oeste) e percorresse os 25 km até a rodovia Ayrton Senna, no trecho final leste da Marginal do Tietê a 90 km/h levaria cerca de 17 minutos de viagem. Com a mudança para 70 km/h, o tempo sobe para 22 minutos, ou apenas cinco minutos a mais. Na pior situação, se optar pela pista local, onde a velocidade baixou de 60 km/h para 50 km/h, o tempo sobe de 25 para exatos 30 minutos, também cinco minutos a mais.
Há ainda a polêmica das multas, do excesso de radares e da sensação de contenção que os motoristas sentem quando trafegam a 50 km/h nas largas pistas das Marginais. Fiscalizar e punir é função do poder público e cabe ao cidadão respeitar as leis e normas de convivência no meio urbano.
Quanto às pistas, seria recomendável um projeto para reduzir a largura visual da via, por exemplo, utilizando recursos de paisagismo. Mas, a longo prazo, com a melhoria do sistema de transporte público da Região Metropolitana, o ideal seria a retirada das pistas e a retomada das margens dos rios Tietê e Pinheiros para o lazer dos paulistanos. Em lugar de congestionamentos, teríamos (teremos?) jardins, passeios, uma linha de trem, tram ou ônibus e uma ou duas pistas reservadas aos veículos das pessoas que queiram desfrutar do futuro parque, seus barcos e atracadouros.
* Originalmente publicado no site ArqFuturo
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