Pedro Guedes é arquiteto, tem 30 anos e, até seus 26, nunca tinha pensado que seu meio de transporte diário viria a ser a bicicleta. Como no clássico de Toquinho, “A bicicleta”, é ela que o acompanha “entre ruas, avenidas, na beira do mar” pelo Recife. No início, causava estranhamento e curiosidade entre amigos e familiares – a capital pernambucana ainda nem sonhava em abrigar ciclofaixas de sucesso aos domingos e feriados ou nem mesmo o projeto Bike PE. Mas hoje, com sete bicicletas na garagem do apartamento que divide com a namorada, Pedro não se vê dono de um carro num futuro próximo e nem pensa em adotar outro meio para se deslocar pela cidade.
Tudo começou em 2011, quando morou seis meses em Barcelona em função de seu mestrado e passou a experimentar outras maneiras de se viver a cidade e deslocar pelas ruas. No Brasil, o ônibus ou o carro de sua mãe eram os únicos meios que usava no dia a dia. Pedro voltou ao Recife e foi morar no Pina com a namorada, Sabrina, uma gaúcha que conheceu na Espanha. Os dois começaram então a se deslocar pelo bairro de Boa Viagem de bike e, quando se mudaram para o Parnamirim, os horizontes se expandiram: a bicicleta, que até aquele momento não os levava até onde precisavam no dia a dia, se tornou companheira de todos os trajetos.
“Se você tem um carro disponível, tudo é desculpa para usá-lo. Calor, escuridão... E isso não faz muito sentido se você sair do contexto do Recife”, diz o arquiteto, que também é um dos fundadores da Associação Metropolitana de Ciclistas do Grande Recife, a Ameciclo, e integrante da Bicicletada.
Hoje em dia, não há engarrafamento, chuva, sol, noite ou distância que faça Pedro e Sabrina usarem um carro: o raio de alcance da bicicleta aumentou consideravelmente. A feira? Também realizada sob duas rodas. Para isso, o casal adquiriu uma bicicleta de carga que os leva até o supermercado e ao mercado de Casa Amarela, onde gosta de comprar frutas e legumes.
Ser ciclista em tempo integral trouxe a Pedro uma maior consciência ambiental. “Tem isso de você querer fazer tudo de uma forma melhor também. Organizei com o pessoal do meu prédio para fazermos coleta seletiva de lixo, por exemplo. A bicicleta, para mim, foi a porta de entrada para fazer as coisas melhores”, ressalta. Para além de seus próprios estilos de vida, Sabrina e Pedro acabaram influenciando amigos e colegas de trabalho que, de quebra, adotaram também a bicicleta como meio de transporte. Como incentivo, o casal se propõe a acompanhar os novos adeptos da bike em seus primeiros trajetos.
Os dois trabalham no Bairro do Recife – Pedro na Serttel, empresa que desenvolve tecnologias de mobilidade urbana; e Sabrina no Parque Capibaribe, iniciativa de promoção de diretrizes urbanas entre o Rio Capibaribe e os espaços urbanos. O trajeto, que de automóvel seria feito em quase uma hora por causa do trânsito intenso, dura só 22 minutos. E a conversa entre os dois, brinca o arquiteto, é temática. Nas férias passadas, inclusive, eles viajaram para Nova Iorque e, por três semanas se deslocaram...de bicicleta, claro. Bikes, inclusive, que trouxeram na mala ao voltar ao Recife.
E assim foi também durante a Copa do Mundo, no ano passado. Os dois foram pedalando até a Arena Pernambuco, em São Lourenço da Mata, assistir a uma partida. “Fomos inclusive muito mais rápidos que nossos amigos que foram de carro. Apenas quarenta minutos de trajeto”, relembra.
Desde que começou a pedalar diariamente, Pedro contabiliza os quilômetros que percorre pelas ruas da capital pernambucana. “Só no ano passado foram 5 mil quilômetros”, relembra. Em relação à falta de ciclovias na cidade, o arquiteto é categórico. “Acho que chegamos a um ponto em que todo mundo que andaria de bicicleta no Recife sem ciclovia já anda.” O desafio agora, para ele, é instalar ciclovias para atrair cada vez mais adeptos da bike no dia a dia.
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