Em um período em que as fabricantes de motocicletas reajustam ou reduzem os seus planejamentos fabris, as fabricantes de bicicletas instaladas na Zona Franca de Manaus (ZFM) comemoram o crescimento produtivo. Investimentos no cuidado com a saúde, em paralelo com o lazer e respeito ao meio ambiente, justificam a escolha do cliente pelo transporte das bikes seja no modelo convencional ou ainda, no elétrico. Os Indicadores de Desempenho da Suframa mostram que no período de janeiro a março deste ano o segmento mecânico, no qual as indústrias de bicicletas estão inclusas, apresentou crescimento de 12,21% com faturamento de R$ 1 bilhão.
O gerente da empresa Sense Bike, Joel Silva, conta que a unidade está instalada no PIM há um ano com registro de ascensão produtiva. O investimento feito na empresa local foi de R$ 40 milhões. Ele afirma que enquanto algumas empresas aderem às férias coletivas, a fábrica de bicicletas adota o sistema de horas extras para conseguir atender aos pedidos nacionais.
A indústria inicia o terceiro mês de produção de bicicletas nos modelos convencionais; e ainda o segundo lote de bicicletas elétricas. No segundo semestre de 2014 a empresa registrou as primeiras duas mil bicicletas elétricas e a meta é de até o final deste ano produzir mais quatro mil peças, também elétricas. A projeção para a produção dos modelos convencionais é de produzir, até o final do ano, 1,5 mil unidades.
Silva considera que a preocupação no cuidado com a saúde, o que também está atrelado ao lazer, tem impulsionado o mercado do transporte de duas rodas, no caso, as bicicletas. Ele ainda avalia que o mercado teria maiores condições de desenvolvimento e adesão dos clientes se as cidades apresentassem um projeto de ciclofaixas viável à locomoção dos ciclistas “As ciclofaixas só retiraram os pedestres das ruas e os transferiram às calçadas, sem melhores condições de locomoção. Se essas áreas fossem melhor planejadas, com certeza haveria mais crescimento, um impulso ao mercado das bicicletas”, cita. “É uma alternativa ligada à saúde e também é um hobby”, completa.
De acordo com o gerente, a expectativa é de que até o final deste ano o quadro funcional conte com o dobro de colaboradores que compõem o quadro funcional atual, que reúne 38 pessoas diretamente e mais cinco funcionários terceirizados. A empresa opera com uma linha de produção. “Estamos contratando. A crise está aí sim, mas não vamos pensar nela e sim em crescimento. Este é um mercado que está em ascensão e exige um produto de maior qualidade. Existem pessoas que investem valores estimados entre R$20 mil e R$30 mil na compra de uma bicicleta”, comenta.
A fábrica produz três modelos de bicicletas elétricas, com previsão para um novo modelo até o mês de dezembro. Na categoria convencional é possível encontrar quatro modelos fabricados de cada aro, nos números 26 e 29, que também devem receber novos modelos ainda neste ano. “A ideia é que do total produzido entre 5% e 10% seja absorvido pelo comércio local”, disse o gerente. As demais produções são enviadas aos pontos de distribuição localizados em São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Espírito Santo e Santa Catarina. A partir destas unidades as bicicletas são distribuídas para todo o país.
Bicicleta como alternativa
Para o diretor executivo da Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo), José Eduardo Gonçalves, a adesão ao uso da bicicleta está ligada à alternativa de mobilidade urbana. Ele avalia que na tentativa de fugir dos congestionamentos as pessoas buscam soluções para um transporte mais rápido e acessível. “A bicicleta se tornou uma alternativa à mobilidade urbana diante dos crescentes problemas de trânsito das médias e grandes cidades. Para distâncias de até cinco quilômetros, nas áreas urbanas mais densas das cidades, há estudos que constatam que a bicicleta é o meio de transporte mais rápido, podendo chegar a uma velocidade entre 12 km/h e 15 km/h. Além disso, o modal contribui para a saúde do usuário, e ainda apresenta baixa perturbação ambiental e maior flexibilidade, requer menor investimento em infraestrutura, entre outras vantagens”.
Gonçalves ainda esclareceu que houve queda nos volumes de negócios tanto entre as fabricantes de motocicletas como de bicicletas. Ele explica que no segmento de motos a retração é resultado da dificuldade de obtenção de crédito por parte dos consumidores. Já no segmento das bicicletas o motivo é a mudança no perfil do consumidor, que segundo ele, opta cada vez mais por produtos de maior valor agregado. “Aumentaram a qualidade e os valores dos produtos (bicicletas), ao mesmo tempo em que reduziram as quantidades. No segmento de motos, a retração resulta da dificuldade de obtenção de financiamento pelos consumidores e dos impactos do cenário macroeconômico, em que se destacam a inflação elevada e o risco à empregabilidade”, avalia.
Leia também:
No RJ, passa a valer lei que especifica roubo de bicicleta como crime
Muito mais do que uma ciclovia
Um breve olhar crítico sobre a nova ciclovia paulistana