Felizes, satisfeitos pela nova conquista, os ciclistas que passaram ontem pela longa faixa vermelha na Paulista também notaram algumas limitações que ficarão evidentes no uso cotidiano da pista. Assim, pensando em mobilidade e no uso intensivo que a obra certamente terá, anotei algumas observações para ajudar arquitetos e engenheiros nos futuros projetos.
PONTOS POSITIVOS
Qualidade da obra
É possível notar a elevada qualidade da obra realizada, com pavimento e sinalização perfeitos.
Pavimento de concreto pigmentado
Mesmo molhado, o piso não deixa a ciclovia escorregadia. Além disso a tonalidade do vermelho não ficou muito agressiva.
Exemplo para a cidade
A nova ciclovia está na avenida mais importante e conhecida de São Paulo, o que vai proporcionar visibilidade muito maior para a bicicleta e evidenciar a existência de uma demanda reprimida.
Também fica claro que caso as vias cicláveis continuem a ser construídas de forma "tímida", buscando atrapalhar o mínimo possível os automóveis, elas nunca serão boas e suficientes para a demanda necessária da bicicleta nas cidades.
PONTOS A MELHORAR
Largura
A ciclovia é estreita em diversos pontos, o que impossibilita a ultrapassagem. Desta forma, o fluxo de ciclistas que farão usos diferentes da mesma via poderá gerar alguns pontos de conflito. Por exemplo, ciclistas que usam as bikes para transporte pedalam a uma velocidade média de 15 a 20 km/h, que pode ser alta para os iniciantes ou turistas a passeio. E como a nova ciclovia vai atrair muita gente, de vários pontos do país, é provável que o tráfego se torne desconfortável para a sua principal função, a mobilidade.
Rampas
Algumas rampas estão fora do padrão aceitável para uma ciclovia com a qualidade geral da obra. E nas áreas de passagem de pedestres, essas rampas são divididas por um perigoso anteparo vertical, de concreto, que poderá gerar alguns acidentes sérios.
Paradas frequentes
Em seus 2,7 km de extensão, a ciclovia conta com 35 semáforos, 22 para pedestres e 13 em cruzamentos. Assim, são paradas possíveis a cada 77 metros, em média. E como os semáforos serão sincronizados com a velocidade de 50 km/h ou 40 km/h, é provével que os ciclistas enfrentem muitos sinais vermelhos, desestimulando o uso da via. O ciclista experiente, que já pedala na Paulista, pode preferir continuar pedalando fora da ciclovia para fugir dos conflitos gerados com os outros usos e para evitar muitas paradas.
Conflitos com pedestres
Mesmo no dia da inauguração, sem veículos na pista, notamos um casal de idosos que ficou retido na travessia da faixa de pedestres, bem no meio da ciclovia. Ajustes nos tempos semafóricos podem minimizar esses conflitos, especialmente nos horários de maior circulação de pedestres.
Comportamento do motorista
Quando uma via para bicicleta é implantada, é muito comum que a nova obra reforçe a ideia de que as outras pistas são exclusivas para automóveis. Nesses casos, em várias cidades, percebe-se o aumento de motoristas que "alertam" ciclistas para que eles pedalem apenas na ciclovia. Na Paulista, isso poderá ocorrer de forma ainda mais agressiva.
Soluções: ampliar faixa e criar "onda verde"
Uma solução para evitar conflitos entre bicicletas, carros e pedestres seria reduzir a velocidade geral da avenida e criar uma "onda verde" voltada especialmente para os ciclistas. Ou seja, se o ciclista pedalar em uma velocidade-padrão ele encontrará todos os sinais abertos. No entanto, em uma ciclovia estreita, essa alternativa pode gerar ainda mais conflitos entre experientes e novatos ou turistas.
A solução mais abrangente seria, é claro, alargar a ciclovia, o que exigiria retirar espaço dos automóveis.
Sobre a Paulista aberta
Foi incrível a quantidade de pessoas que pedalaram, caminharam, patinaram, andaram de skate, patinete e brincaram na Paulista. Ouvimos muitos comebtários sobre como era bom estar ali e de que a ocupação deveria acontecer mais vezes. Cremos que até já passou a hora de a Paulista inteira ser fechada aos carros, não só aos domingos, mas permanentemente, todos os dias, como se fez na grande avenida de Bogotá.
As pistas da avenida deveriam ser reservadas apenas aos moradores e à circulação de carros com idosos e pessoas com deficiência, além do transporte coletivo e veículos de serviço ou emergência.
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