Acabo de chegar de uma viagem pela Europa de mais de vinte dias. Nesse período visitei dezenas de cidades francesas, algumas cidades holandesas e a capital dinamarquesa, Copenhague. Pedalei em todas as cidades que passei e em algumas delas utilizei o transporte público. Para meus deslocamentos entre as cidades usei trem, ônibus, bicicleta e avião.
Retornei a São Paulo na segunda-feira (22), pelo aeroporto de Guarulhos, no vôo que pousou de manhã cedinho. Pouco antes das 7h30 entrei num ônibus com destino ao metrô Tatuapé, de onde segui até a estação Sumaré.
Demorei 1 hora no ônibus lotado para chegar até o metrô, e mais uma hora de um metrô mais lotado ainda para chegar até o meu destino. Ou seja, duas horas para sair do aeroporto mais movimentado da América Latina até a região central da cidade mais populosa do hemisfério sul (a sétima do mundo) - uma distância de 25 km.
Durante o percurso, lembrei de como fiz meus trajetos para e do aeroporto pelas cidades que passei. Compare:
Paris-Nantes: No aeroporto Charles de Gaulle peguei um trem com destino a Nantes. O trem demorou exatamente 3 horas e 1 minuto (a pontualidade dos trens franceses é impressionante) para chegar a uma cidade a mais de 350 km de distância (quase a distância São Paulo-Curitiba).
Centro de Amsterdã-Aeroporto Shiphol: Peguei um ônibus até a Estação Central de Amsterdã e da lá um trem. O trem chegou praticamente dentro do aeroporto. Todo o trajeto de 20 km demorou cerca de 40 minutos.
Aeroporto de Copenhague-Copenhague: Peguei o metrô na última estação da linha M2 que fica dentro do aeroporto. Sete estações e 7 km depois desci a cerca de 300 metros do meu destino.
Copenhague-Aeroporto de Copenhague: Peguei um trem suburbano (como CPTM e Supervia) na estação Dybbolsbro até a estação central e de lá peguei outro trem para o aeroporto que, como o metrô, parou praticamente dentro. Todo o trajeto de cerca de 10 km demorou menos de 30 minutos.
Aeroporto e transporte de massa: no Brasil, falta conexão
A ineficiência e a pouca integração do transporte de massa com o aeroporto de Cumbica (Guarulhos) é uma situação que se repete em praticamente todas as cidades brasileiras. No outro aeroporto de São Paulo, Congonhas, localizado em plena área urbanizada da cidade, o metrô não chega e em horários de pico é possível demorar mais de 40 minutos no ônibus entre a estação São Judas do metrô (a mais próxima) e o terminal do aeroporto.
Em Brasília, capital do país, o segundo aeroporto mais movimentado do Brasil foi todo reformado, mas os pontos de ônibus foram deixados de lado; e nem metrô, nem BRT chegam até ele.
Apenas no Rio de Janeiro e Porto Alegre os aeroportos estão minimamente integrados com os transportes de massa. O BRT para o aeroporto do Galeão (Ilha do Governador-RJ) só começou a operar no ano passado. Na capital gaúcha, o monotrilho (aeromóvel), inaugurado em decorrência da Copa do Mundo, faz a integração do metrô com o aeroporto Salgado Filho.
Aguarde nos próximos dias os relatos finais deste giro de Yuriê César, do Mobilize Brasil, por três países europeus que se destacam pela mobilidade urbana: França, Holanda e Dinamarca.
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