Nesta semana, líderes do G7 (EUA, Alemanha, Canadá, França, Itália, Japão e Reino Unido) deram sinais de que pretendem reduzir o uso de combustíveis fósseis até 2050 e bani-los completamente até 2100. Anunciada na semana do meio ambiente e recebida com desconfiança, a notícia é promissora e aumenta as chances de um acordo global sobre o tema durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP 21, que acontece em Paris entre novembro e dezembro.
Numa primeira olhadela, o prazo parece longo demais. Segundo especialistas, as reservas de combustíveis fósseis passíveis de exploração em todo o planeta totalizam hoje 1,294 x 1012 barris de petróleo, 1,92 x 1014 m3 de gás natural, 728 giga toneladas de carvão e 276 giga toneladas de lignito, um outro tipo de carvão.
Se extraídos e utilizados para movimentar veículos, acionar usinas elétricas e outros sistemas que processam energia, essas substâncias devem liberar algo como 2.900 giga toneladas de CO2 para a atmosfera. E isso é o triplo do limite calculado pelos especialistas em clima para que a elevação da temperatura se mantenha em 2o Celsius até o ano de 2050. Os números foram publicados em 2012 pelo jornalista Bill McKibben no artigo Global warming’s terrifying new math, e confirmados no ano seguinte pelo Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC).
Os dados acima servem para lembrar que o Mobilize Brasil trabalha pela mobilidade urbana sustentável, ou seja, para estimular todas as formas de transporte que possam continuar a ser utilizadas sem prejuízo ao ambiente, incluindo o ar, água, solo e aos seres que vivem nas cidades. Buscamos alternativas para reduzir o uso de veículos automotores e ampliar o espaço para pedestres, cadeirantes, ciclistas e outros modos de mobilidade ativa. Mas, numa escala mais global, contribuímos para baixar as emissões de gases de efeito estufa. Quando deixamos o carro na garagem estamos colaborando para um possível e necessário saneamento da economia mundial. É uma pequena e silenciosa revolução a cada passo, a cada giro do pedal da sua magrela.
Assim, quando você sai a pé, de metrô ou de bicicleta para ir ao trabalho, também está colaborando para evitar o derretimento de geleiras da Antártida ou das neves dos Andes, de onde vêm as águas do rio Amazonas, que gera umidade para a Região Sul, que evita a formação de tornados, e assim por diante.
Não por acaso, o Mobilize esteve presente no Velo-City, evento da European Cyclists Federation, neste ano realizado em Nantes, França, cidade que está se reinventando com a bicicleta. De lá o colaborador Yuriê César nos mandou um breve, mas interessantíssimo relato sobre o encontro, que reuniu cerca de quatro mil ativistas e pesquisadores. “Em Nantes várias ruas foram devolvidas às pessoas e o automóvel passou a ser um mero veículo tolerado. Com toda certeza, nenhuma cidade brasileira está próxima de se tornar a Nantes de hoje”, concluiu Yuriê, que promete mandar notícias de outras cidades europeias. Aguardem.
Ps.: A propósito, por estes dias a atmosfera aqui de São Paulo está “porcamente” poluída e ninguém fala em ações práticas para fiscalizar as emissões dos veículos ou reduzir a taxa de motorização da cidade. Pelo menos durante este período mais seco do ano. Alô, prefeito, alô governador!