Velo-City, evento anual da European Cyclists Federation (ECF), reuniu na semana passada em Nantes, na França, os principais planejadores e promotores da mobilidade por bicicleta da Europa. Vários participantes de outros países não europeus também participam do evento graças a sua qualidade e organização.
Neste ano, o evento bateu o recorde de público, o recorde de participantes na Vélo Parade com mais de quatro mil ciclistas e o recorde de brasileiros presentes. Foram 12 trabalhos apresentados pelos mais de 40 brasileiros presentes entre os mil e quinhentos participantes de todos os países.
A participação brasileira no evento demonstra o quanto o cicloativismo vem crescendo e se organizando no Brasil nos últimos anos, graças aos Fóruns Mundiais da Bicicleta, aos workshops promovidos pela associação Transporte Ativo, à União de Ciclistas do Brasil e ao crescente número de novas entidades e grupos promotores da bicicleta.
O Velo-City é uma bela oportunidade para conhecer muitas pessoas e realidades da bicicleta mundo à fora. E para ter a certeza de que, por mais atrasado que o nosso país esteja nas políticas públicas de promoção à bicicleta, o trabalho desenvolvido pelos ativistas locais é de alta qualidade.
Brilho nos olhos
Em um ambiente dominando por entusiastas da bicicleta, a surpresa do André Dizikus, coordenador da Habitat/ONU resumiu bem bem o que a bicicleta representa. Ao iniciar sua fala na última conferência do Velo-City, Dizikus assumiu que nunca havia estado tanto tempo em meio ao mundo das bicicletas e que ele viu um sorriso e um brilho nos olhos de cada uma das pessoas presentes. Que em dezenas de conferências em que ele já esteve presente nunca havia presenciado algo parecido, que deveríamos passar a avaliar o sucesso e a felicidade das nações a partir do número de pessoas que pedalam.
A próxima edição do Velo-City será realizada no final de fevereiro de 2016 em Taipei, na China. Infelizmente o evento vai coincidir com a realização do Fórum Mundial da Bicicleta que acontecerá em Santiago do Chile e que é praticamente ignorado pelos europeus (como foi possível perceber ao conversar com dezenas de participantes do Velo-City).
Engravatados
O cicloativismo europeu, ao menos das grandes entidades e federações nacionais presentes, é bem diferente do brasileiro e latino-americano. Eles vivem praticamente de seus associados e patrocinadores, enquanto, por aqui, o voluntariado e a vaquinha para realizar as ações predominam.
Em muitos casos, os europeus são quase como consultores do poder público ao invés de ativistas que precisam lutar para descontruir o status quo dominante para conseguir poucas migalhas para a mobilidade por bicicleta. Essa diferença na atuação se reflete no público do Velo-City, composto por muitas pessoas engravatadas e mais velhas do que as presentes nos fóruns de bicicleta sul-americanos.
Destaque à parte do Velo-City é a sua cidade sede. Enquanto os FMBs acontecem em cidades em que o cicloativismo é forte mas o poder público não realiza as ações necessárias para promover a bicicleta, o Velo-City acontece sempre em uma cidade que muito já fez e que está no caminho certo. Nantes não é diferente.
A cidade de Nantes se reinventou nos últimos anos. Várias ruas foram devolvidas às pessoas é o automóvel passou a ser um mero veículo tolerado. A cidade é o inteiramente ciclável, praticamente todas as ruas possuem sinalização mostrando que a bicicleta está presente. Existem bicicletários em todos os destinos e a bicicleta é permitida até no contra fluxo de várias vias. Com toda certeza, nenhuma cidade brasileira está próxima de se tornar a Nantes de hoje.
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