A poluição atmosférica, inimigo invisível e ameaçador, vai produzir 250 mil mortes nos próximos 15 anos no país, 25% delas somente na cidade de São Paulo. É o que indica um estudo da Universidade de São Paulo (USP). Mais: de imediato, as únicas medidas que podem ser tomadas para mitigar o problema dependem da consciência dos cidadãos, já que em termos de políticas públicas e governança, as iniciativas contra a poluição, como a expansão dos corredores de ônibus e ciclovias, contemplam o médio e longo prazos.
“Ajuda a enfrentar o problema deixar o carro em casa e usar o transporte coletivo. Andar a pé, combater o sedentarismo, a obesidade. Não é só a poluição, tem outros aspectos positivos, você pode dar carona, estacionar o carro em algum lugar e pegar o transporte coletivo. Fora do enclausuramento do carro, você interage com as pessoas, distrai, o tempo passa mais rápido”, afirma Mariana Matera Veras, pesquisadora científica no Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da USP, para quem a cultura do automóvel precisa ser encarada de forma mais crítica, permitindo enfrentar essa situação.
No caso de cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, o problema é que a poluição – leia-se, concentração de material particulado em suspensão no ar – provém em 90% de veículos motorizados. Segundo a pesquisa da USP, feita para o Instituto Saúde e Cidadania, além das mortes, um milhão de pessoas serão hospitalizadas por causa da poluição, demandando gastos de saúde da ordem de R$ 1,5 bilhão.
Para Mariana, buscar alternativas ao automóvel “é uma medida de consciência do cidadão. E isso porque as pessoas não acreditam que a poluição faça mal, não vêem o ozônio, o dióxido de carbono e os efeitos para a saúde são de longo prazo. A falta de informação, a sedução do automóvel tornam difícil a luta contra o problema”.
Oito milhões vitimados pela poluição
O tema da poluição atmosférica voltou à baila nesta terça-feira (26) por conta da divulgação de uma nova resolução da Organização Mundial de Saúde (OMS), aprovada na 68ª Assembleia da instituição, em Bruxelas. A resolução alerta para as graves consequências do problema, que vitima cerca de 8 milhões de pessoas por ano no mundo.
Desse total, 3,7 milhões morrem por problemas relacionados ao lançamento de poluentes na atmosfera, enquanto 4,3 milhões são vítimas de ambientes fechados mal ventilados, o que inclui uso de fogão a lenha, queima de material orgânico, comum na Índia, entre outros países, para aquecimento de ambientes, e a síndrome de edificações doentes – em geral, escritórios sem manutenção de sistemas de climatização.
Esta é a primeira vez que a assembleia debate a questão da poluição. A resolução destaca o papel-chave dos governantes para ampliar a consciência sobre o problema e reduzir os custos que recaem nos sistemas de saúde. A resolução também alerta para a necessidade de integração e cooperação entre diferentes setores da economia na perspectiva das políticas públicas para a saúde. E também fala da importância de promover os sistemas limpos de iluminação, cozimento e aquecimento para promover a qualidade do ar no interior das casas, o que afeta sobretudo regiões mais pobres.
Segundo a pesquisadora da USP, no que se refere ao Brasil “falta incluir a saúde nas políticas públicas, pois não temos o costume de considerá-la no planejamento econômico”. Mariana diz que, por exemplo, quando uma estrada é desviada e passa por dentro de um bairro, uma obra relativamente comum nas cidades, é preciso verificar o impacto da saúde da população afetada. “Isso devia fazer parte como um relatório de impacto, pois reflete como você faz a interação entre os setores da economia e a saúde”. Ela destaca que há países em que em qualquer processo de obra ou projeto tem esse tipo de avaliação.
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