Andar de ônibus em Ribeirão Preto pode ser também um bom motivo para se dedicar à leitura. Pelo menos é o que busca uma nova lei que foi promulgada esta semana pela prefeita Dárcy Vera. De autoria do executivo e do vereador Saulo Rodrigues, o Plano de Leitura nos Ônibus consiste no empréstimo de livros aos passageiros para leitura durante as viagens dentro do município. As obras vão estar à disposição das pessoas nos próprios veículos.
O objetivo, de acordo com a lei, é garantir à população de Ribeirão o acesso à literatura brasileira, especialmente aos clássicos. O texto estipula ainda que vão poder ser firmadas parcerias públicas, privadas e junto à sociedade civil para obtenção dos livros. O plano será implementado na próxima licitação pela prefeitura junto ao consórcio Pró Urbano, operador do transporte público na cidade, ou na renovação contratual entre as partes.
Entre escritores e editores da cidade, as opiniões se dividem. Para Matheus Arcaro, autor de “Violeta Velha e Outras Flores”, todo programa de incentivo à leitura é importante, mas é necessário conhecer a qualidade das obras. “Pelo que vi do plano, esse problema parece minimizado, porque há ênfase no acesso à literatura brasileira, especialmente aos grandes clássicos. Assim, equacionados os problemas de execução, creio que o programa tem tudo para contribuir para uma Ribeirão mais humana”, diz.
Estratégia
O escritor e dramaturgo Lucas Arantes é menos otimista. Apesar de elogiar programas que visam “espalhar livros pela cidade”, ela acha que os ônibus, “que não possuem nem cobradores e diariamente alguém sofre acidentes dentro deles”, não são a melhor estratégia para isso. “Se o Estado ouvisse a sociedade civil, descobriria que a Editora Coruja [de Ribeirão] possui um projeto intitulado “Árvore de Livros”, muito mais potente que este, pois cria pontos fixos de doação e troca de livros”, comenta.
O Árvore de Livros também tem como objetivo levar para toda a comunidade livros de domínio público e boa qualidade para serem lidos e utilizados, sem custos. Lau Baptista, proprietário da Coruja, afirma que o projeto chegou a ser apresentado aos vereadores municipais, mas simplesmente “não andou”. De qualquer forma, o editor tem uma opinião positiva sobre o Plano de Leitura nos Ônibus. Ele dá como exemplo, programas parecidos, como os que já existem em Curitiba nos famosos “tubulões”, que servem de pontos de ônibus, e nas linhas férreas do Rio de Janeiro. Mas faz uma ressalva.
“Preferia que esses livros fossem escolhidos pela população e que a implantação não fosse algo que vem de cima. Mas que venham os livros e que nossos ônibus possam melhorar, para que os leitores consigam ler durante a viagem também”, conclui.
Plano tem 90 dias para regulamentação
O secretário municipal da Cultura, Alessandro Maraca, afirma que o Plano de Leitura nos Ônibus tem 90 dias para ser regulamentado. Durante esse período, ele deve se reunir com representantes do PróUrbano, da Transerp (Empresa de Trânsito e Transporte Urbano) e do Instituto do Livro para definir a implementação.
Maraca diz que pretende interligar o projeto Agentes de Leitura - parceria entre município e Ministério da Cultura que ainda não teve início, mas já selecionou pessoal - ao Plano de Leitura. “É um plano bem-vindo, porque sou a favor de qualquer ação que incentiva a leitura”, afirma.
Visão
Por outro lado, há quem acredite que ler em algum veículo em movimento pode causar problemas à visão. O oftalmologista Marcelo Jordão diz que não. “Mal não faz, mas existem pessoas que não conseguem ler dentro de algum veículo, como eu, por exemplo. Mas isso tem a ver com outros fatores, como nosso labirinto, por exemplo”, explica, referindo-se ao órgão responsável pelo nosso equilíbrio.
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