Mais da metade dos acidentes de trânsito com vítimas registrados em Belo Horizonte acontece em cruzamentos. É o que aponta pesquisa divulgada ontem pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). De acordo com o levantamento, que analisou in loco 668 acidentes entre julho de 2012 e junho de 2014, 61% dessas ocorrências aconteceram em interseções de ruas da capital. Realizado em parceria com a Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans), o estudo vai agora embasar campanhas educativas na cidade.
“As interseções são lugares especiais no trânsito, onde acontecem mais conflitos, já que vários veículos fazem conversões e se cruzam em suas trajetórias. Por isso devem ser local de tratamento especial, tanto no que diz respeito a projetos de engenharia e campanhas educativas, quanto de atenção dos próprios pedestres e motoristas”, alerta o pesquisador da UFMG Ronaro Ferreira, que também é funcionário da BHTrans e realizou seu projeto de mestrado no Programa de Pós-Graduação da Promoção da Saúde e Prevenção da Violência da Faculdade de Medicina.
Por dois anos, o pesquisador acompanhou o trabalho de uma equipe de sete profissionais que analisou in loco os acidentes de trânsito com vítima atendidos pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) na capital. Os dados foram obtidos por meio de entrevistas com vítimas e testemunhas dos acidentes, além de análises dos ambientes e veículos. A intenção era recolher informações mais detalhadas do que as que normalmente são apresentadas nas ocorrências oficiais, para entender as reais causas dos acidentes na cidade.
Imprudência. Entre os resultados, destaca-se o fato de 77% das ocorrências estarem relacionadas ao comportamento dos condutores. “Uma das coisas que chamou a atenção foi o baixo número de causas ligadas a problemas do pavimento da rua ou da avenida. Existe uma grande especulação no país de que a má qualidade das vias provoca acidentes, mas pela análise que a gente fez isso não chegou a 5%”, afirma Ferreira.
Conforme a pesquisa, o fator mais comum aos acidentes foi a desatenção. “A pessoa, seja condutor ou pedestre, adota um comportamento que é inseguro. Ela se coloca em risco ao forçar a ultrapassagem, avançar o sinal, andar muito próximo ao outro veículo e, no caso do pedestre, atravessar fora da faixa, desatento ou digitando no celular”, explica o pesquisador.
Para ele, o problema da falta de concentração no trânsito precisa ser trabalhado com todos os públicos, tanto pedestres quanto condutores de automóveis e de motocicletas. “O que a pesquisa vai ajudar a ter mais claro é o conteúdo que deve ser dirigido (nas campanhas educativas) a cada grupo da sociedade”.
Segundo Ferreira, as campanhas já estão sendo pensadas pela BHTrans, mas ainda não há um cronograma definido para sua realização.
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