Maceió possui um pouco mais de 40 quilômetros de ciclovias e ciclofaixas e tem como meta atingir cerca de 60km em 2016 para, segundo estudos da Superintendência Municipal de Transporte e Trânsito (SMTT) realizado em 2007, cerca de 100.000 bicicletas. Boa parte dessa centena de milhar de usuários de bicicleta como meio de transporte são de bairro mais afastados do Centro de Maceió, em especial da parte alta da cidade. É mais comum vê-los dividindo as vias de tráfego com os automóveis logo nas primeiras horas da manhã e no final da tarde.
Contudo, não é raro flagrar veículos automotores transitando pelas ciclofaixas, espaço exclusivo para bicicletas. Ao ciclista, desprovido da segurança de um cockpit, resta torcer para não ser atropelado por um motorista desrespeitoso e apressado. São 16 pontos com espaço exclusivo para as bikes na capital alagoana, mas a cidade possui 30 pontos com volume de ciclistas. O estudo realizado serviria de base para identificar os locais onde a instalação das ciclovias e ciclofaixas é mais urgente e o planejamento para fazê-lo chamado de Plano de Não Motorizados.
“Este plano nunca aprovado e está no aguardo do Plano Geral de Mobilidade Urbana para Maceió, que está em fase final de desenvolvimento pelo Governo do Estado”, diz a SMTT. Esse mesmo estudo apontou que em alguns trechos, a bicicleta representa 53% do tráfego de veículos. O jornal Folha de S. Paulo publicou uma tabela com quilometragem de ciclovias e ciclofaixas de 24 capitais brasileiras. Maceió aparece em posição mediana. A cidade com mais espaços para o tráfego de bicicletas é o Rio de Janeiro com 380km e sua meta até 2016 é chegar a 450km. São Paulo apareceu em segundo lugar com 205km com meta de atingir 400km, mas até o final desse ano.
Boa Vista, capital Roraima, não possui nenhum quilômetro de ciclovia ou ciclofaixa construída. As capitais nordestinas com mais vias exclusivas para bicicletas são Fortaleza e Salvador, com 116,4km e 101,1km, e metas até 2016 de 216,6km e 350km, respectivamente.
Bicicleta para fugir do trânsito e para melhorar a saúde
O cinegrafista Gerson Barros começou a utilizar uma bicicleta como meio de transporte há três anos. Ele não conseguia chegar a tempo em seu local de trabalho por causa do trânsito, principalmente na Avenida Fernandes Lima. “Acredito que cerca de 15% dos trabalhadores que precisam passar pela Avenida Fernandes Lima usam a bicicleta como meio de transporte. O congestionamento é muito grande e estressante”, comenta.
Barros diz que nunca foi atropelado, mas que já foi forçado a subir na calçada. “Um ônibus uma vez me deu uma imprensada. Mesmo na faixa azul, onde penso que deveria ter mais civilidade no convívio com as bicicletas, os motoristas não respeitam muito”. O cinegrafista faz parte de uma centena de milhares de pessoas que utilizam as bicicletas para se deslocar e não apenas como atividade de lazer. Porém, mesmo para utilizar o equipamento dessa forma é preciso saber se a condição física permite.
O educador físico e fisioterapeuta Lucas Freire diz que é preciso identificar se o postulante a ciclista possui algum tipo de problema nas articulações, como o joelho, nesse caso, o uso da bicicleta deve ser evitado. Contudo, ele explica, “pedalar é uma atividade muito mais natural do que possa parecer. Trata-se de um exercício em que a pessoa transporta o seu peso corporal, utilizando-se de uma bicicleta, não sobrecarregando músculos e articulações nem a coluna vertebral. No entanto, é bom frisar que, na prática comum do ciclismo, muitas dores e desconfortos manifestados pelos usuários da bicicleta estão diretamente relacionados à falta de informação e ajustes ergonômicos da bicicleta”.
Gerson Barros afirma que seu condicionamento físico melhorou depois de começar a usar a bicicleta como meio de transporte. “Estou mais disposto. Mas quero destacar que já frequentava uma academia antes de pedalar. Mesmo assim senti falta de ar e minha pressão subia. Fui ao médico e ele me disse que isso era parte da adequação ao novo esforço”. Freire diz que indivíduos que não praticam atividade física conseguem ter excelentes benefícios à saúde usando a bicicleta como meio de transporte. “Já indivíduos treinados, além de usarem a bicicleta como meio de transporte, deverão programar tempos diários de treino além do fato de ir ao trabalho ou à faculdade, por exemplo”.
Mais cuidados
Lucas Freire orienta que é preciso escolher o veículo certo para começar a pedalar. Isso evita lesões e desconfortos. “Um dos principais cuidados é em relação à altura do quadro da bicicleta, que deve ser proporcional à altura do ciclista. Se você tem 1m50 de altura, por exemplo, o ideal é um quadro de 14 polegadas. Se a altura é 1m60, ele deve ser de 16 polegadas e assim sucessivamente”.
A altura do selim e a distância do guidão também devem ser levadas em conta. O educador físico. Tudo isso, diz, ajuda a prevenir qualquer tipo de lesão, inclusive na coluna vertebral. “O indivíduo deve colocar o banco medindo três dedos abaixo da crista ilíaca Antero – superior, o osso da bacia. E a distância entre o banco e o guidão deve ser medida com o braço, com o cotovelo apoiado no selim e o dedo indicador no centro do guidão. Essa distância vai garantir o conforto para os ombros e as costas, além do equilíbrio do centro gravitacional do corpo”.
Holanda é considerada o melhor país para uso de bicicletas
Uma empresa de consultoria em infraestrutura da Dinamarca, chamada Kopenhagenzie, publicou um índice em 2011 elegendo as cidades com melhores condições para usar a bicicleta em seu dia a dia. No topo da lista está Amsterdã, capital da Holanda. Até mesmo em ruas estreitas, a cidade possui ciclovias e ciclofaixas e aos carros resta apenas espaço de uma faixa para trafegarem. Além disso, o transporte público, através dos metrôs e balsas, está integrado ao uso das bikes.
Contudo, Amsterdã enfrenta problemas para guardar tantas bicicletas. A Holanda possui quase uma bicicleta por habitante. Uma a cada duas pessoas que vão a escolas ou universidades usam bicicleta. Um a cada quatro holandeses vai para o trabalho pedalando. São cerca de 30 mil quilômetros de ciclovias e ciclofaixas. Esses dados são da União Nacional dos Ciclistas daquele país.
Só para comparar, São Paulo possui 205km de ciclovias e ciclofaixas e possui cerca de 11,2 milhões de habitantes. A Holanda possui cerca de 16 milhões de habitantes. Mas a capital paulista, mesmo não tendo uma população muito menor que o país europeu, tem menos de 1% de ciclovias que os holandeses. Em 2012, São Paulo tinha 186km de ciclovias e ciclofaixas. O aumento em pouco mais de dois anos foi significativo. Porém, não sem resistência de moradores dos bairros mais ricos e da imprensa local.
Parte da linha de raciocínio vem dos problemas para trafegar e estacionar os veículos automotores. Parte do discurso é que, por causa desse problema, faltou planejamento. Algo que é semelhante às reclamações, mais fortes no início, sobre a implantação da faixa azul na Avenida Fernandes Lima, em Maceió. Mesmo sendo uma via exclusiva para ônibus e não para bicicletas, o tom das reclamações era o mesmo. Da falta de lugar para trafegar e estacionar ao planejamento. E, tendo em vista a frequente presença de carros e motos nas ciclofaixas da cidade, esse pensamento se repete em relação ao espaço exclusivo para os ciclistas.
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