Ciclovia carioca: rede em expansão
O Rio de Janeiro ficou na lanterninha de um estudo que comparou as malhas cicloviárias de Nova York, Londres, Copenhague, Bogotá e da Cidade Maravilhosa. A conclusão é do arquiteto Alziro Neto, que fez a pesquisa para o mestrado profissional em Engenharia Urbana e Ambiental da PUC/RJ.
Os aspectos levados em conta na análise foram clima; relevo do lugar; segurança; o papel do carro no meio urbano; e infraestrutura. Entre esses, apenas o clima do Rio é favorável para os ciclistas. Sem a chuva recorrente de Londres ou Copenhague, por exemplo, os que andam de bicicleta por aqui têm mais conforto e praticidade. Em todos os outros quesitos, porém, a cidade dificulta a vida dos amantes das “magrelas”.
"O espaço para os carros no Rio é bem maior do que o destinado ao ciclista. E a malha cicloviária foi construída de forma descontinuada: ela começa numa rua e logo é interrompida, depois continua na calçada, de repente muda de lado da via. É confuso e perigoso. A isso, somam-se a falta de infraestrutura para interligar as bicicletas a outros meios de transporte, o relevo que espreme a cidade entre o mar e muitas montanhas, e a falta de segurança pública. Isso explica porque o Rio tem a pior ciclovia entre essas cinco cidades", diz Neto.
Segundo o arquiteto, uma lei de 2007 que institui a política de incentivo ao uso da bicicletas no Rio compila uma série de boas ideias, mas com poucas diretrizes. Neto afirma, ainda, que é um erro a Prefeitura do Rio colocar a ciclovia a cargo da Secretaria de Meio Ambiente, em vez da pasta de Transporte. Isso, de acordo com ele, confirma que o governo vê a bicicleta apenas como opção de lazer, e não como veículo.
A visão da prefeitura
Para a Secretaria de Meio Ambiente, entretanto, a decisão sobre qual pasta é responsável pelo tema tem a ver com especificidades culturais do Rio. "Aqui, os carros sempre imperaram, então o modo que encontramos para enfrentar isso foi não vincular as ciclovias à Secretaria de Transporte, que tem uma visão voltada apenas para veículos motorizados. Nós conseguimos, nos últimos seis anos, quase extinguir os estacionamentos para carros no Centro, dando mais espaço para bicicletas. Seria muito difícil fazer isso, por exemplo, dentro da Secretaria de Transporte, que cuida dos estacionamentos. Temos planos, também, de permitir que ciclistas entrem nos ônibus com suas bicicletas, mas não dá para fazer tudo correndo. A academia faz teses sem considerar as dificuldades práticas", alfineta o secretário de Meio Ambiente, Carlos Alberto Muniz.
Bogotá, um exemplo
No estudo comparativo de Neto, é mostrado como Londres conseguiu, entre 2000 e 2012, duplicar o número de viagens diárias de bicicleta entre a periferia e o centro da cidade, chegando a mais de 540 mil. Isso foi graças à criação das Barclays Cycle Superhighways, as superciclovias que conectam a periferia ao centro e ajudaram a reduzir os congestionamentos e a aliviar a superlotação no transporte público.
Um exemplo parecido vem de Bogotá, na Colômbia, onde o sistema integrado de ciclovias, o "CicloRuta", conecta os cidadãos às principais vias de BRT, parques e centros comunitários. Quando o projeto começou, em 1998, apenas 0,2% da população se locomovia por meio de bicicletas. Esse número passou para 4% em 2007.
"Ao escolher as cidades que eu estudaria, não quis me restringir a capitais de países desenvolvidos. Por isso, incluí Bogotá, que começou a pensar na bicicleta como meio de transporte nos anos 90 e já alcançou uma infraestrutura razoável", conta Neto.
Ao construir mais ciclovias e destinar praças para pedestres, algumas dessas cidades conseguiram, ainda, diminuir drasticamente o número de casos de morte de ciclistas. Nova York, por exemplo, reduziu o número de acidentes em 73% entre 2000 e 2011. Ao mesmo tempo, o número de pessoas que trocaram o carro pelas bicicletas subiu 183%. Já no Rio, mais de 15 mil ciclistas morreram entre 2000 e 2010, vítimas de colisões com carros e ônibus.
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