Semana passada participamos da grande manifestação realizada por ciclistas de São Paulo, de várias cidades brasileiras e de algumas mundo afora, todos em defesa do programa de implantação de ciclovias desenvolvido na capital paulista. Foi uma grande festa, com milhares de pessoas que pedalaram e caminharam, lado a lado, no leito da avenida Paulista. E o melhor foi o anúncio, no meio do protesto, de que a Justiça havia reconsiderado a posição anterior, dandosinal verde para a continuidade das obras. Então, Vai ter Ciclovia, sim senhor.
Simbolicamente, a ocupação da avenida apontava a perspectiva de que em breves anos as cidades brasileiras aprendam a usar os carros com mais racionalidade e abram espaço para pedestres, cadeirantes e ciclistas. Daí, ciclovias, calçadas caminháveis, sinalização adequada e uma integração desses sistemas de transporte aos trilhos urbanos e corredores de ônibus em construção por todo o país.
Inevitável, também, lembrar que na tarde da mesma sexta-feira da bicicletada o ar de São Paulo estava irrespirável, com muita poeira, forte cheiro de fumaça, gasolina e óleo. Assim, apesar da festa e da vitória alcançada, envenenamo-nos todos.
Dados do Laboratório Experimental de Poluição Atmosférica da Faculdade de Medicina da USP mostram que mais de 4 mil pessoas morrem anualmente na capital paulista por causa dos efeitos da poluição do ar. E, segundo o médico e professor Paulo Saldiva, que coordena o laboratório, a condição do ar piorou a partir de 2006, em função de dois fatores: a paralisia do trânsito e o aumento da frota de veículos. O remédio, indicado pelo próprio médico, são políticas públicas que privilegiem o transporte coletivo.
Respiração à parte, ciclistas e pedestres que circulam pelas ruas brasileiras reclamam também do ruído - ronco de motores, buzinas e sistemas de som - que tomaram conta de todos os espaços urbanos, dia e noite. Essa cacofonia pode até ter uma certa força estética, mas eu prefiro mesmo é evocar a imagem da velha canção de Paulinho da Viola: Silêncio por favor, enquanto esqueço um pouco a dor no peito...
Marcos de Sousa (Editor do Mobilize Brasil)