Há quase dois anos, o carioca Leandro de Almeida Aquino Corrêa mantém o mesmo ritual nas noites de domingo a quinta-feira. Apara a barba, separa o terno que será trajado no dia seguinte e ajusta o despertador para soar às 5h15min. Ao acordar, dispara pela casa para engolir o café da manhã, tomar banho, escovar os dentes e se vestir em meia hora, no máximo.
Morador da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, em uma região próxima ao Parque Olímpico em obras, o advogado de 37 anos sabe que precisa sair antes das 6h, a fim de vencer em uma hora e 15 minutos o percurso de 38 km até o escritório, na Avenida Rio Branco, no Centro. Se perder o horário, Corrêa levará o dobro do tempo para chegar ao trabalho, pois dificilmente escapará da teia de engarrafamentos na região, um quadro caótico ampliado por obras de detonação de túneis e duplicação do Elevado do Joá, principal artéria no trânsito entre as zonas oeste e sul da cidade.
— Já o caminho de volta para casa, eu o considero o inferno na Terra — diz Corrêa. — Para fugir dos congestionamentos, costumo ficar até as 20h no trabalho. Ainda assim, levo cerca de uma hora e meia para chegar em casa — completa.
Circular no segundo município mais populoso do Brasil — são 6,4 milhões de habitantes — exige paciência e perseverança. Indagador pela reportagem de ZH, taxistas mal se arriscam a estimar o tempo que se leva para ir de um ponto a outro do Rio. Hoje, conforme os profissionais do volante, qualquer horário é hora do rush na capital fluminense.
Obras de Mobilidade Urbana
Mas uma série de projetos e obras de mobilidade urbana promete devolver o prazer de circular pela Cidade Maravilhosa — e também facilitar os deslocamentos de turistas brasileiros e estrangeiros durante a Olimpíada de 2016. As ampliações previstas na malha viária e no sistema de transporte coletivo até o primeiro semestre de 2016 serão vitais para garantir o acesso de visitantes aos palcos das competições.
Isso porque, diferentemente da Copa do Mundo, quando os torcedores convergiam basicamente para o Maracanã e à área de fan fest na orla, nos Jogos serão disputados 42 torneios mundiais em instalações espalhadas por quatro regiões da cidade. Quem quiser torcer em Copacabana pelas duplas brasileiras de vôlei de praia durante o dia, por exemplo, e depois acompanhar à noite o time de basquete dos EUA no Parque Olímpico da Barra terá de percorrer 29 km.
Para vencer essa distância sem cozinhar no trânsito, até agosto 2016 será possível combinar os serviços das futuras Linha 4 do metrô e dos BRTs (ônibus com grande capacidade de passageiros) dos corredores expressos Transoeste e Transolímpica. Esse último corredor, por sinal, conectará os espectadores com ingressos para competições no Parque Olímpico e em Deodoro, duas áreas que concentrarão as disputas de mais de 60% das modalidades nos Jogos. Conforme a Secretaria Municipal de Obras do Rio, a estimativa é de redução de 54% do tempo de viagem nos 26 km que separam as duas regiões da zona oeste da cidade.
No total, o Rio contará com 150 km de faixas seletivas de BRTs. A expectativa é de que parte da população passe a deixar o carro na garagem. As autoridade projetam aumento de 18% para 63% no uso do transporte de alta capacidade.
— A rede de mobilidade que o Rio se prepara para entregar até 2016 é muito mais ampla do que o que o carioca se acostumou com o passar do tempo, porque é uma rede que integra modais — observa o secretário municipal de Transportes do Rio, Rafael Picciani. — O final dessas obras (no trânsito) e a entrega desses novos serviços de transporte melhorarão muito as condições de deslocamento da cidade.
Linha 4 do Metrô
Em obras desde junho de 2010 e previsão de conclusão em 2016, a nova linha de trens subterrâneos terá 16 km de extensão e ligará Ipanema, na zona sul do Rio, e a Barra da Tijuca. Serão seis estações ao longo do trajeto. A expectativa é de que a Linha 4 transportará mais de 300 mil pessoas por dia — em média, cerca de 800 mil usuários se deslocam diariamente nas outras duas linhas de metrôs cariocas. Conforme o governo fluminense, responsável pela execução da obra, serão retirados das ruas de 2 mil veículos por hora nos horários de pico depois que a linha entrar em operação. O investimento é de R$ 8,8 bilhões.
Transolímpica
Com 26 km de extensão, o corredor ligará duas regiões olímpicas, Deodoro e Barra da Tijuca. A previsão é de que a Transolímpica transportará 70 mil pessoas diariamente. A faixa exclusiva para ônibus articulados será integrada com os BRTs Transoeste e Transcarioca, já inaugurados, e com a malha ferroviária, em Deodoro. Com investimento de R$ 1,6 bilhão, deverá entrar em operação antes dos Jogos.
Transcarioca
É um dos dois corredores exclusivos para ônibus articulados hoje em operação na capital fluminense. Com 39 km de extensão, corta o subúrbio do Rio — passa por 27 bairros, conectando a Ilha do Governador (Aeroporto do Galeão) e a Barra da Tijuca. São 47 estações e cinco terminais no percurso. Segundo a Secretaria Municial de Transportes do Rio, cerca de 320 mil usam a Transcarioca, que entrou em funcionamento na Copa ao custo de R$ 1,7 bilhão. A estimativa é de redução de até 60% no tempo de viagem.
Viário do Parque Olímpico
O projeto prevê a duplicação de duas avenidas que conectam o Parque Olímpico, a Vila dos Atletas e o Riocentro. As vias receberão pistas laterais, permitindo que cada uma delas fique com cinco faixas em cada sentido. Está prevista também a criação de uma ciclovia. A obra complementa o corredor Transolímpica. Das 10 novas pistas, duas (uma por sentido) serão exclusivas para o BRT. Serão investidos R$ 514,3 milhões no viário, com previsão de conclusão em 2016.
Duplicação do Elevado do Joá
Considerado o principal legado viário dos Jogos, a duplicação do elevado deverá acelerar os deslocamentos de veículos entre a Barra da Tijuca e a Zona Sul, um dos grande gargalos para os motoristas hoje do Rio. Serão abertos dois novos túneis e duas novas pistas, construídos paralelamente aos já existentes. O projeto prevê também a implantação de uma ciclovia junto à faixa litorânea, entre a Barra e São Conrado. Será concluído em 2016, com investimento de R$ 458 milhões.
Veículo leve sobre trilhos
Sistema de transporte inspirado em modelo europeu, o VLT conectará a Rodoviária Novo Rio ao Aeroporto Santos Dumont, passando pelo centro financeiro. O bonde moderno será integrado a metrô, trens, barcas, BRTs, ônibus convencionais e ao Teleférico da Providência. Com o VLT, a ideia é desafogar o trânsito da região, reduzindo o fluxo de veículos. O bonde contará com seis linhas e 42 paradas, ao longo de 28 km, passando pelas principais atraçõs turísticas da região. A primeira linha será aberta em 2015 e as demais em 2016, com investimento de R$ 1,1 bilhão.
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