Pedestres convivem com risco de atropelamento na periferia de BH

Caminho entre os limites de BH e Nova Lima não oferece nenhuma segurança a quem faz trajeto a pé. EM flagrou várias cenas de perigo aos pedestres

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Fonte: Estado de Minas  |  Autor: Jefferson da Fonseca Coutinho  |  Postado em: 10 de março de 2015

Sem passeio adequado, pedestres se espremem entre

Sem passeio adequado, pedestres se espremem

créditos: Cristina Horta/EM/D.A.Press

 

É preciso fôlego, coragem e boa sorte para vencer a pé os limites entre Belo Horizonte e Nova Lima, na região metropolitana. O traçado de asfalto em ponto dos mais nobres dos dois municípios – entre os bairros Belvedere e Vila da Serra – é desafio diário para centenas de pedestres que se arriscam na Via Stael Mary Bicalho Motta Magalhães. Não há passeio, faixa de segurança ou qualquer outro cuidado aparente com quem não está motorizado. O Estado de Minas esteve no trecho e flagrou cenas seguidas de risco iminente de atropelamento. Para os cidadãos, passantes do lugar, um total desrespeito à vida.

 

O caminho perigoso é o trajeto mais curto para muitos dos trabalhadores do Bairro Vila da Serra, que dependem das linhas de ônibus com ponto de embarque e desembarque no BH Shopping. Caso de Valéria Cássia da Silva, de 43 anos, moradora do Nova Suíça, na capital. Há dois anos e meio a analista se vê obrigada a “caminhar entre os carros” para ir e voltar do trabalho em Nova Lima. “Temos que contar com a boa vontade e com o bom senso dos motoristas, que passam colados na gente. Não tem faixa de segurança, calçada… não tem nada”, critica.

 

O passeio estreito, que vem de Nova Lima, termina do nada, ao avançar em Belo Horizonte, sob elevado de trilhos de linha férrea desativada. No asfalto, sem acostamento, mal cabe uma pessoa entre a faixa de sinalização e os veículos maiores na pista apertada. O homem de azul, apressado, quase é atropelado ao atravessar a Alça Sul. Paulo Otávio Peixoto, de 26, é estudante de engenharia. “O trânsito na região é péssimo. Deixo o carro em casa e ganho mais de uma hora a pé. Mas tenho que encarar isso”, diz.

 

Fernanda Mazala também deixa o carro em casa por causa do tráfego difícil no Vila da Serra e no Belvedere. A analista sênior não considera cruzar o trecho de ônibus porque, segundo ela, as duas linhas disponíveis – 4110 e 2104 – ficam presas em engarrafamentos frequentes e “chegam a demorar uma hora e meia para atravessar uma distância muito curta. Sem falar nos 30, 40 minutos entre um horário e outro”. Para Fernanda, ainda que seja complicado, caminhar é a melhor opção.

 

Belchior Eduardo, de 20, auxiliar administrativo, reclama da sinalização, iluminação e faixa de pedestre. “Quando chove é mais complicado. O barro se espalha. É difícil. Escorrega e não tem lugar pra gente passar”, comenta. Revoltado, emenda: “Isso é o Brasil. Brasileiro aceita tudo calado, né!? É só ver o que acontece com a corrupção… É o país da tolerância. Os políticos perderam o respeito. Já tem muito tempo que isso tá desse jeito e ninguém faz nada”, lamenta.

 

Maria Auxiliadora e Vaneça Francisca encaram juntas a travessia. Uma na frente, a outra atrás, porque elas não cabem lado a lado na maior parte do caminho. Para as duas amigas, a construção da Alça Sul – que faz a ligação da BR-356 à Via Stael Mary Bicalho Motta Magalhães – “ajudou um pouco”. “Os carros têm que parar. Ficou menos perigoso. Antes, era muito mais difícil”, diz Maria, que há nove anos corta o pedaço a pé. Vaneça chama a atenção para o entulho jogado às margens da via. “Olha só o tanto de lixo que eles jogam”, aponta.

 

Intervenções Aprovadas

Procurada, a Prefeitura de Nova Lima, por meio da Secretaria de Comunicação, reconhece o absurdo da falta de estrutura na Via Stael Mary Bicalho Motta Magalhães, explica que o ponto em questão está além de seus limites e se oferece para, “em parceria com a Prefeitura de Belo Horizonte”, ajudar a resolver o trecho pela segurança dos pedestres. Já a BHTrans enviou nota esclarecendo que “o trecho indicado se trata de rodovia e todas as intervenções no local foram aprovadas, implantadas e supervisionadas pelo DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) e pelo DER-MG (Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais)”

 

Ameaça continua em trilha alternativa

Não muito longe do trecho do perigo – na Via Stael Mary Bicalho Motta Magalhães –, há uma trilha via propriedade particular. Alternativa, mas não menos perigosa. Na parte alta, entre a Rua da Passagem, em Nova Lima, e a Rua Rodrigo Otávio Coutinho, em Belo Horizonte, os desafios são outros: mato, barro, pedras, escuridão e bandidagem. O trajeto é uma aventura e, além de coragem e preparo físico, exige roupa apropriada. Para muitos, é preciso também companhia. Izabela Prado Gomes, de 25, só encara o caminho acompanhada de algum colega de trabalho.

 

Para a enfermeira, sozinha, melhor enfrentar os carros da Via Stael Mary Bicalho Motta Magalhães. Izabela e o colega Daniel Arthur Sales de Oliveira, de 32, mostraram ao EM os pontos mais críticos da trilha nas costas do Hospital Vila da Serra. Logo depois dos trilhos da linha férrea desativada, entre cercas de arame farpado, vem a parte mais complexa da travessia: uma descida em abertura estreita de barro e mato. “À noite é ainda mais perigoso. Quando a gente trabalha até as 20h fica complicado. Não tem luz nenhuma. Temos que usar a luz do celular”, conta Izabela.

 

Santa Aparecida Rodrigues, de 35, diz que o atalho para a Rua Rodrigo Otávio Coutinho é a única alternativa para que ela possa chegar a tempo em sala de aula. “Se não passar por este caminho não consigo pegar o ônibus a tempo para chegar à escola. Tenho medo, mas não tem outro jeito. Quando dá, procuro descer acompanhada. O outro caminho, pelo asfalto, nem pensar”, diz Santa, que para chegar na trilha alternativa encara até buraco no barranco próximo à Rua da Passagem.

 

Drogas

Lauro William de Souza, de 26, comenta que “a quebrada”, além de perigosa, é ponto para usuários de drogas. “Depois do estacionamento, tá tudo abandonado. Todo dia vejo gente fumando maconha aqui. Só passo nessa quebrada quando está claro. Tem o ônibus 2104, mas ninguém aguenta esperar. Na firma, ninguém tem coragem de cortar o caminho por aqui. Doido lá, só eu mesmo”, diverte-se. (JFC)

 

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