O jornalista Eduardo Silva, do site Mobilidade Sampa, enviou como colaboração ao Mobilize a entrevista a seguir, realizada por ele com Márcia Grosbaum, gerente de projetos urbanos, estudos urbanísticos e de arquitetura da empresa Jorge Wilheim Consultores Associados.
Márcia Grosbaum é arquiteta e urbanista graduada pela FAU-USP; especialista em Desenho e Gestão do Território Municipal pela PUCCAMP em 2003; mestra em Habitat pela FAU-USP. Leia suas opiniões sobre mobilidade urbana em São Paulo e no país:
Que alternativas poderiam ser propostas, a médio e longo prazos, para melhorar a situação do sistema de mobilidade urbana na cidade de São Paulo?
Quando se fala em mobilidade urbana, logo se pensa nos carros. Imagine que 60% do espaço das ruas é ocupado por veículos que levam apenas 20% das pessoas (CNT, 2002). Enquanto que a grande maioria dos que circulam na nossa cidade é composta por pedestres, ciclistas e passageiros de transporte coletivo, em geral circulando por espaços não adequados. Assim, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, deu os primeiros passos, que já resultaram em mudança dos índices de eficiência do sistema: com a recente implantação das faixas exclusivas, por exemplo, os ônibus já estão 68,7% mais rápidos, segundo a CET (FSP, 9/9/2014). E a rede de ciclovias em fase de implantação é uma proposta de baixo custo que oferece mais um modal aos paulistanos, que poderão circular com segurança pela cidade.
O que cada cidadão poderia fazer para melhorar a mobilidade urbana de onde vive?
Aproveitar este momento de melhoria dos sistemas de ônibus e bicicleta e experimentar esses meios de transporte. Deixar seu carro em casa contribuirá para a melhoria do trânsito, redução da poluição, economia de gastos, e poderá até se revelar uma experiência agradável. Buscar acompanhar e participar dos planos públicos que regem nossa vida na cidade.
Flexibilizar os horários das empresas poderia ser uma boa solução para melhorar o trânsito nas grandes cidades brasileiras?
Sim, mas este tipo de medida, assim como o rodízio de veículos em São Paulo, é apenas paliativo, causando um alívio no trânsito por um tempo. As mudanças devem ser estruturais. É preciso compreender a necessidade de se explorar os diferentes modais para circular numa cidade da complexidade de São Paulo.
Que cidades, dentro ou fora do Brasil, conseguiram planejar para melhorar sua mobilidade urbana? Dê alguns exemplos.
Curitiba, Bogotá, Nova York, Copenhague e Amsterdã são cidades com sistemas de mobilidade integrados, e que priorizam o pedestre e o ciclista. Um estudo da prefeitura de Copenhague concluiu que, a cada quilômetro rodado por um automóvel, a cidade perde 25 centavos, considerando aspectos como a poluição gerada e a manutenção do sistema viário, enquanto que a cidade ganha 40 centavos por cada quilômetro pedalado, pois isso a torna uma cidade mais verde e mais saudável.
Em São Paulo, o Metrô está construindo o restante das estações da Linha 4-Amarela: Higienópolis-Mackenzie, Oscar Freire, São Paulo-Morumbi e Vila Sônia. Por que essas obras andam tão lentamente?
É uma questão de prioridade. O governo do estado não tem priorizado a quantidade nem a qualidade dos investimentos no metrô.
Conforme nos relatou um usuário da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), há poucas escadas rolantes na estação Brás. Por que essa desatenção com as pessoas?
Um problema assim nos remete novamente à primeira pergunta: ocorre é que não temos a tradição de priorizar os cidadãos usuários do sistema de transporte quando este é projetado. Apenas isso.
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Muito calor no transporte público em São Paulo!