A retirada de 160 ambulantes não cadastrados da Avenida Conde da Boa Vista, na última quinta-feira (29), expôs a moradores e visitantes do Centro do Recife as mazelas escondidas pela profusão de tabuleiros fincados no chão. Sem as barracas, ficaram mais visíveis os buracos nas calçadas, a fiação desordenada, as paradas de ônibus pichadas e com os tetos quebrados, além das paredes sujas das edificações.
Na manhã de sexta-feira (30), 24 horas após a remoção dos camelôs que atuavam no trecho entre as Ruas José de Alencar e do Hospício, as estudantes Dandara Taís Lopes de Siqueira e Leilany Lavínia Lopes da Silva levaram um susto com a fachada do Edifício Pedro Higyno. O prédio, localizado na esquina da Conde da Boa Vista com a Rua Gervásio Pires, encontra-se com as paredes externas cobertas por propaganda eleitoral suja e rasgada.
“A gente nunca tinha notado isso antes. Não dava para ver porque esse trecho da calçada era muito tumultuado. Tinha muito tabuleiro e muita gente circulando. Agora dá para ver como a fachada está precisando de uma limpeza”, declaram as estudantes. “Chegou a hora de arrumar a avenida, a prefeitura precisa consertar as calçadas, que estão cheias de buracos, eu tropecei num deles”, diz Dandara.
Passageiros do transporte coletivo apontam as condições precárias dos abrigos de ônibus da Conde da Boa Vista, com o teto quebrado, fiação exposta, placas com o indicativo das linhas destruídas e a coberta usada como depósito de tralha. “Desde que iniciaram a construção dos novas paradas, abandonaram as antigas. O serviço não termina e nós ficamos nessa situação”, declara Fausto Albino.
A comerciária Tatiana Souza trabalha numa loja da Conde da Boa Vista, perto de uma tampa quebrada de esgoto. “Qualquer pessoa pode cair nesse buraco, é um perigo”, alerta. Ainda nas proximidades da Gervásio Pires, pedestres se assustam com as gambiarras de fios, na calçada.
“Isso não é seguro, pode provocar um acidente”, diz a dona de casa Nilda Gomes, apontando dois canos fincados no chão para levar fios à rede aérea. Um deles está arriando sobre a calçada. “Agora, a gente vê os problemas na rua. Mas a prefeitura deveria arrumar um lugar para os camelôs, eles têm família e não podem ficar sem trabalho.”
A Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife (Emlurb) disse que, por enquanto, não há nenhuma ação programada para a Avenida Conde da Boa Vista. Só permanecem na via os camelôs cadastrados pela prefeitura.
Na sexta-feira (30), um dia após o reordenamento do comércio informal na avenida, ambulantes não se conformavam com a ação da prefeitura. Um deles, que se identificou como Ronaldo, lamentou o “critério injusto” para remoção dos camelôs. “A prefeitura impede gente da cidade de trabalhar na Conde da Boa Vista, mas não tira pessoas de outros Estados e Países”, declara o comerciante.
Ele se referia a Rosa da Silva Costa, 75 anos, uma das ambulantes retiradas no dia 29. “Eu trabalho três dias, de quinta-feira a sábado. Nos outros dias, fico em casa produzindo as mercadorias. Preciso desse dinheiro porque sou viúva, recebo um salário mínimo de pensão e ajudo meus filhos pobres”, conta Rosa da Silva.
"Até o fim deste ano (2015), as calçadas do Centro estarão livres para o pedestre circular e esperamos executar a ação com normalidade diz o secretário de Mobilidade e Controle Urbano, João Braga"
Os camelôs que ocuparam a recepção da Câmara de Vereadores, no Centro do Recife, após a retirada dos comerciantes, deixaram o prédio às 8h da sexta-feira (30), com a promessa de uma reunião na próxima terça-feira, dia 3 de fevereiro, para discutir o destino da categoria. “Ficou acertado um encontro às 10h, na Câmara, com a Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano. Até lá, não haverá mais mobilizações”, diz o presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Comércio Informal do Recife, Severino Souto.
Secretário de Mobilidade da cidade, João Braga informa que o ordenamento da Boa Vista continua em fevereiro. Após o Carnaval, o trabalho chegará à Avenida Guararapes, em Santo Antônio. “Até o fim deste ano (2015), as calçadas do Centro estarão livres para o pedestre circular e esperamos executar a ação com normalidade”, afirma João Braga.
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