Expansão de ciclovias impulsiona negócios envolvendo bicicletas em SP

Mercado cresce junto com espaços para pedalar e número de bicicletas. Negócios vão de bike cafés até venda de banhos na capital paulista

Notícias
 

Fonte: Último Segundo  |  Autor: Aretha Martins  |  Postado em: 20 de janeiro de 2015

Fabio Samori é dono do Aro 27

Fabio Samori é dono do Aro 27

créditos: Aretha Martins

 

Estima-se que 300 mil bicicletas circulem diariamente por São Paulo durante a semana. Aos finais de semana, o número passa para 550 mil. Os números apontados pela Abraciclo (Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicleta e Similares), mostram um crescimento e tendem a aumentar.

 

Isso se explica tanto em função da população cada vez mais simpática às bikes, quanto das políticas públicas da gestão municipal. A avenida Paulista, por exemplo, já está em obras para a inclusão de uma ciclovia. Está pronto o cenário para os negócios que envolvam bicicleta se multipliquem pela cidade.

 

“Vejo um mercado crescente. O ciclismo é visto como uma atividade que não traz lesões e ajuda a manter a forma. Além disso, tem a questão do estilo de vida. A sociedade precisa de alternativas para o transporte e a bicicleta tem se mostrado eficiente”, analisa Erick Azzi, consultor que trabalha com bicicletas desde 1992.

 

Os novos negócios seguem a tendência da mudança de vida das pessoas. “Tem gente que já pedala aos finais de semana e também aqueles que encaram a bicicleta como uma filosofia. É em torno desses núcleos que dá para ganhar dinheiro”, orienta Marcelo Sinelli, consultor do Sebrae. De olho nesse público, empresários sem medo de arriscar abriram bike cafés, mudaram o status das entregas com bicicletas e chegam até a vender banhos.

 

 
Aro 27 foi o primeiro lugar em São Paulo a oferecer o serviço de banho e estacionamento, mas o maior lucro do negócio ainda vem do café. Foto: Divulgação
 
No serviço de park and shower, o usuário paga R$ 17 para tomar um banho e estacionar a bike por um dia. Há também planos que vão de cinco dias ao contrato anual. Foto: Divulgação
 
O Ciclo Urbano é mais um bike café, mas o lucro maior vem da oficina e dos produtos da bicicleta. Foto: Divulgação
 
Rodrigo Gonçalves, economista e ciclista, abriu o Dress me Up em abril de 2014. Foto: Aretha Martins/iG
 
Dress me Up também oferece banhos, estacionamento e serviços de oficina para bicicleta. É o chamado bike point. Foto: Aretha Martins/iG
 
Banho e estacionamento avulsos custam R$ 25. O plano mensal sai por R$ 250 e por R$ 300 ainda está incluso manutenção e descontos em peças. Rodrigo tem 17 mensalistas. Foto: Aretha Martins/iG
 
Mais recente bike café de São Paulo é o King of The Fork. O nome faz referência ao King od the Mountain, o rei da montanha, em inglês. Foto: Aretha Martins/iG
 
Os donos Camila e Paulo se conheceram por causa da bicicleta. Ela é arquiteta e morou em Londres e ele é designer. Foto: Aretha Martins/iG
 
O KOF é um restaurante com a pegada de bicicleta. Lá, por exemplo, no lugar dos jogos de futebol, são transmitidas as principais corridas de bike do mundo. Foto: Aretha Martins/iG
 
As roupas da Velô são vendidas em alguns pontos de São Paulo, como o Aro 27. Foto: Aretha Martins/iG
 
Carbono Zero Courier é uma das empresas de entrega com bicicleta em São Paulo. Começou com 2 ciclistas e R$ 60 mil. Cresceu e hoje já em mais de 40 funcionários. Foto: Divulgação
 
 
Bicicletaria + café + conveniência 
Unir café e bicicleta é uma prática comum na Europa e, aos poucos, vem ganhando espaço por aqui, principalmente na região de Pinheiros. Fabio Samori inaugurou o Aro 27 em junho de 2013, pouco depois do Las Magrelas, que fica a menos de 2 km de distância. Em junho de 2014, Camila Romano e Paulo Filho abriram o King of the Fork, entre um estabelecimento e outro.
 
 
“A zona oeste é um lugar de efervescência cultural e com a bike não foi diferente. Tem uma grande concentração de pessoas que usam a bicicleta por aqui. E a gente se conhecia antes mesmo de montar os negócios e sempre batalhamos pela bike”, explica Fabio Samori. “Acho que a gente vai se complementando e não se engalfinhando”, continua.
 
 
Cada empreendimento tem o seu estilo e une diversos serviços. E esqueça a ideia de bicicletaria como uma oficina escura ou cheia de graxa. Aqui, os negócios oferecem serviços e também espaços de convivência e contam com um ar descolado.
 
 
O Aro 27, por exemplo, teve investimento de R$ 350 mil e já abriu com café, oficina e o conceito de park and shower (usuário paga uma taxa para estacionar a bike e tomar um banho. Local oferece armários, toalhas e sabonete líquido). “Estou nos 85% de retorno do investimento, mas vai se completar antes dos dois anos que a gente imaginava. Comparando o faturamento bruto dos meses, a gente sempre passou de 100% de crescimento”, afirma Samori.
 
 
Apesar de ter serviços para a bicicleta e ter sido o primeiro da cidade oferecer os banhos, o que rende mais no Aro 27 é a alimentação, com aproximadamente 70% do negócio, segundo Samori.
 

Bicicletas estacionadas em frente ao King of the Korf, mais recente bike café de São Paulo

Bikes estacionadas em frente ao King of the Fork, mais recente bike café de SP. Foto: Aretha Martins/iG 


Com um investimento um pouco menor, de R$ 130 mil, nasceu o King of The Fork. O foco de Camila Romano e Paulo Filho foi criar um espaço para convivência entre ciclistas. O KOF, como já foi apelidado, é um restaurante com cardápio enxuto, com sanduíches e produtos artesanais, e aposta no café. “Quando se fala em pedal, não combina muito ir a uma choperia. Se você anda ou viaja de bicicleta, o café é como se fosse um doping legal. E acho que funciona bem como um ponto de encontro de duas culturas, de quem gosta de café e de quem anda de bicicleta”, explica Camila.

 

Há também o bike café onde a parte de alimentação é um complemento, como Ciclourbano. O negócio nasceu em 2009 como comércio on line de bicicleta e, em 2011, foi ampliado para loja física. No local foi feita uma bicicletaria e também um café. Os produtos e serviços são voltados para quem pedala na cidade e precisa de uma bike diferente de quem faz trilhas ou esporte. O crescimento dos ciclistas em São Paulo e o envolvimento com essa cultura da bike propiciaram o negócio.

 

O maior giro de negócios ainda vem das bicicletas propriamente ditas. Segundo Leandro Valverdes, um dos donos, a venda de peças e bikes representa 60% do negócio, enquanto a oficina rende de 20% a 25% e o restante fica com alimentação. “Fomos os pioneiros nesse espaço de convivência”, fala Valverdes. “Meu lucro não vem do café, mas ele complementa e me ajuda com os negócios da bike”, comenta. A área é usada como uma alternativa para os clientes esperarem os consertos nas bicicletas, por exemplo.

 

Banho também é negócio 

A ideia dos donos dos bike cafés é ter um espaço para o ciclista e, sem dúvida, conquistar outros públicos. Não é preciso ter uma bicicleta para entrar em um desses lugares. Como não é preciso ser ciclista para virar cliente do Dress me up. O local também tem o conceito de park and shower, como o Aro 27, e foi inaugurado em abril de 2014, próximo à Avenida Berrini.

 

Dress me Up conta com mesinhas como tema bicicleta e uma área de convivência

Dress me Up: mesinhas com o tema bicicleta e uma área de convivência. Foto: Aretha Martins/iG 

 
Com o banho, conquistou um público diferente no final do ano. “Consegui trazer clientes pensando nas confraternizações. Tem muita gente que vem de fretado e trabalha na região e mora longe. Então lançamos o seguinte: ‘Você está indo para a festa da empresa? Tome um banho aqui e vá curtir’. O movimento foi excelente e foram mais de 50 banhos nesse pacote”, conta Rodrigo Gonçalves, um dos sócios do Dress me up. Além disso, ele aproveita o espaço em frente à loja para convidar food trucks para o almoço e ainda aluga salas no segundo andar para eventos e reuniões.
 
 
“Somos um bike point e temos serviços de manutenção, banho, estacionamento e venda de peças e acessórios”, define Gonçalves. “O mercado de bicicleta está crescendo e nunca se falou tanto de bike quanto ultimamente. Meu maior movimento ainda é da parte da bicicletaria, da manutenção. O estacionamento e o banho acabam como um plus”, completa.
 
 
Com que roupa eu vou? 
Além da sacada e vender banhos, há a expansão - óbvia até - de marcas de roupas especializadas para os bikers. Nada de bermudas de ciclistas com almofadinhas no bumbum ou feitas em lycra. A ideia é fazer roupas com cara de dia a dia adaptadas para o pedal.
 

Quem trabalha com isso é a Velô, que lançou a primeira coleção em agosto de 2014. As peças, 23 no total, vão de tornozeleiras, que ajudam a prender a calça para que ela não encoste na corrente, a blazer social e vestidos. Uma blusa, por exemplo, conta com uma cava um pouco maior para dar conforto, e a calça tem bolsos e um recorte no joelho para ajudar no movimento. Além disso, há a preocupação com a tecnologia. São usados tecidos com fator de proteção UV 50, bacteriostáticos (que previnem a proliferação de bactérias e, assim, o mau cheiro) e poliamida, que seca mais rápido do que o algodão.

 

“Ninguém fala que você está com roupa de ciclista, mas você tem o conforto, está prontinha para subir na bike e chegar alinhada onde precisa”, resume Claudia Pereira Weingrill, uma das sócias da Velô e quem cuida da modelagem. 


Entrega saudável

O movimento em torno das bicicletas ganha força. “As pessoas moram em São Paulo, com o trânsito caótico e buscam alternativas. A bike atua na questão ambiental, por não poluir, na mobilidade e em uma relação mais saudável com a cidade. As pessoas viram na bicicleta esse elemento transformador”, define Daniel Guth, consultor de mobilidade urbana e diretor da Ciclocidade (Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo). 

 

Seguindo a linha ecologicamente sustentável, empresas de entregas e serviços com bicicletas também crescem em São Paulo. Já são mais de 30 em atividade na capital paulista.

 

Uma delas é a Carbono Zero Courier. Os irmãos Danilo e Rafael Mambretti começaram o negócio em 2010 com desejo de empreender e ter algo que fizesse bem ao planeta. Por que não trocar os serviços de um motoboy por um ciclista? A empresa começou com dois bikers e hoje conta com mais de 40.

 

“No começo nossos preço era 30% menor que o do motoboy e nosso público era da galera da bicicleta. Era um cara que pedalava e tinha um negócio, um dono de agência de publicidade. Hoje, nosso público cresceu e nosso preço é o mesmo do motoboy”, explica Rafael.

 

Leia também:

Na Holanda, bicicletas quase barram o tráfego de carros 

Com bike elétrica ou normal, Europa estimula uso da "magrela" nas ruas

Ônibus do DF devem ganhar suporte para bicicleta

Comentários

Nenhum comentário até o momento. Seja o primeiro!!!

Clique aqui e deixe seu comentário