Não à toa, algumas das sociedades mais avançadas andam sob duas rodas. Onde o uso da bicicleta é consolidado, caso de Amsterdã e Copenhague, há bicicletários nas principais estações do transporte público e vias sinalizadas para ciclistas, pedestres e motoristas. As velocidades regulamentadas para as vias, onde os carros convivem com as bicicletas, são baixas ou moderadas. Pesquisa da Prefeitura de Copenhague, considerando turismo, tempo de deslocamento, necessidade de investimento em infraestrutura e saúde pública, revelou que, a cada quilômetro percorrido por uma bike, a cidade ganha o correspondente a R$ 0,40, enquanto em cada quilômetro rodado de carro ela perde R$ 0,25.
Outro estudo, do Instituto de Ciências de Saúde Ambiental norte-americano, revela uma economia de US$ 24 para cada gasto com a construção de ciclovias. Na Europa, algumas escolas vêm adotando programas de incentivos para as crianças irem para as aulas caminhando ou pedalando. A iniciativa tenta inverter a estatística, que mostra que o número de crianças que vai a pé ou de bicicleta para a escola diminuiu de 50% para 15%, enquanto o número de crianças obesas triplicou. Enfim, a tendência das grandes cidades é ter cada vez menos facilidades para veículos particulares e cada vez mais integração entre os modos de transporte, destacando os não motorizados e os coletivos.
Para a urbanista Janaína Amorim Dias, especialista em mobilidade urbana sustentável e em arquitetura da paisagem, como o transporte coletivo não abrange toda a cidade, é interessante que as viagens possam ser completadas a pé ou de bicicleta, sendo essa última usada ainda para percursos maiores. Os sistemas de bicicletas compartilhadas também permitem que as pessoas usufruam desse modo de transporte sem a necessidade de ter uma bicicleta ou se preocupar com onde deixá-la. “Para apoiar a mobilidade ativa, é importante incentivar práticas de caminhadas e ciclismo nas ruas. Fechamento de via no fim de semana, liberando o espaço para as pessoas se exercitarem, tem tido sucesso em muitas cidades do Brasil”, diz.
Sidney Maurício de Moura, de 27 anos, aderiu à bicicleta por necessidade. Em 2012, teve que vender carro e moto e passou a fazer o trajeto de ida e volta para o trabalho no pedal. Detalhe: ele mora em Santa Luzia e trabalha na Savassi, no restaurante da família. Hoje, pedala 60 quilômetros por dia, gastando uma hora para ir e 50 minutos para voltar. “Não gostava de andar de ônibus, sempre fui independente no meu deslocamento. A bike me permite essa liberdade. E tem também a questão da saúde. Emagreci 13 quilos sem mudar em nada a alimentação. Hoje, durmo melhor e tenho mais disposição. Apaixonei-me pela bicicleta, tanto que já comprei carro e moto de novo, mas continuo usando a bike para ir pro trabalho”, comenta.
ESTRUTURA
Sidney tem sorte de poder guardar a magrela no trabalho, assim como ter um vestiário para banho. As longas distâncias e a temperatura da capital impedem os belo-horizontinos de fazer o que é muito comum na Europa, em que engravatados circulam de bicicleta numa boa, já que é difícil ficar suado em temperaturas tão amenas. Segundo Janaína, para atrair um número maior de pessoas a usar a bicicleta como modo de transporte, é importante o incentivo desse veículo em curtos ou médios deslocamentos. “Um bom começo é a integração de bairros com o transporte coletivo. E, paralelamente à implantação de vias cicláveis, é preciso colocar bicicletários em pontos-chave da cidade, como terminais, estações e pontos de transporte coletivo.
O bicicletário é um sistema fechado e mais seguro, com vagas para estacionar as bicicletas, diferentemente do paraciclo, que é simplesmente um local para amarrar a bicicleta. “Os paraciclos podem ser eficientes em áreas comerciais, locais movimentados, onde o tempo em que a bicicleta fica parada é menor. No caso de BH, uma opção seria estacionamentos para bicicleta em regiões como Savassi, Centro e área hospitalar, para atrair os deslocamentos dos bairros do entorno. As pessoas acessariam esses locais com descida na ida e pegariam subidas na volta para casa, que é mais interessante”, sugere a especialista. Também é bom que as empresas criem incentivos, como vestiários e espaços para os funcionários guardarem as bikes.
BICICLETÁRIO
Tramita na Câmara Municipal de Belo Horizonte projeto de lei que pretende tornar obrigatória a instalação de bicicletários em diferentes estabelecimentos públicos e privados: agências bancárias, estações de metrô, escolas, hospitais, centros de saúde, supermercado, shoppings centers e sedes de órgãos públicos. Os estabelecimentos que ainda não têm bicicletários teriam 12 meses para se adaptar à norma caso ela seja aprovada. O texto recebeu parecer de constitucionalidade na Comissão de Legislação e Justiça no início de dezembro, mas, antes de ser discutido e votado em plenário, ainda precisa concluir tramitação nas comissões de mérito da Câmara. A proposta é do vereador Pelé do Vôlei.
DICAS PARA PEDALAR NO MEIO URBANO
» Pesquise a melhor bicicleta para o uso que pretende. Algumas pessoas apenas pedalam como transporte e lazer na cidade, outras adicionam a prática esportiva, como as trilhas e treinos nas estradas. Quando o bolso permite, algumas pessoas têm duas bicicletas, uma para o dia a dia na cidade e outra para as trilhas/estradas. Isso acaba poupando o equipamento esportivo, que, normalmente, é mais caro.
» Antes de pedalar para o trabalho, comece com trajetos próximos de casa (ir à padaria, à academia) e aumente aos poucos. Em um ou dois fins de semana, faça o trajeto de casa até o local de trabalho, ou outro destino cotidiano, para entender como é a distância e quais as características do trajeto. Assim, identificam-se as melhores rotas, como evitar algum morro ou vias mais perigosas.
» Mantenha a bicicleta com a manutenção em dia. A bike utilizada na cidade é bem mais econômica que manter um carro, claro, mas é necessário manter uma “agenda” de revisões, especialmente antes e depois dos períodos chuvosos, que causam maior desgaste. Também é importante aprender procedimentos básicos, como trocar/remendar câmaras de pneus.
» Pedale com conduta segura. Fique visível, indicando seus movimentos no trânsito, e use equipamento de proteção individual conforme sua necessidade. Para evitar acidentes do tipo “não te vi”, use piscas e adesivos e coletes refletivos. Para reduzir os danos de alguns acidentes, adote luvas, óculos e capacete. Esses itens não são mágicos: o ciclista deve sempre ter atenção máxima ao ambiente que o cerca.
» Busque dicas na internet. Há vários grupos de ciclistas em BH, com ampla diversidade de atividades. Confira: www.bhemciclo.org/grupos-de-ciclistas-em-belo-horizonte
Fonte: Vinícius Mundim Zucheratto e Figueiredo, voluntário do Bike Anjo BH
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