Belo Horizonte encontrou caminhos para se mover em 2014 e deu sua maior cartada dos últimos tempos na tentativa de melhorar a vida de quem todo dia enfrenta congestionamentos, filas duplas, excesso de veículos e transporte coletivo de má qualidade. Ao longo do ano, a capital viu suas ruas e avenidas mudarem de sentido, passarem por obras e abrirem espaço para modais até então inexistentes ou ainda sem expressividade no cenário urbano. O BRT foi o carro-chefe de 2014 e veio seguido de uma outra promessa: a bicicleta. Inaugurado em maio, o sistema Move – de ônibus articulados em pistas exclusivas – alcançou, entre avanços e atropelos, a malha de 23 km no Hipercentro e em dois corredores com destino à Região Norte.
BH também ganhou 37 estações de bicicletas compartilhadas, para aluguel, e mais 15 km de ciclovias, 25 km a menos do que o planejado. Mesmo sem bater a meta, chegou a uma malha de 74 km e viu mais ciclistas invadirem a paisagem da cidade. Foi o bastante? Ainda não. Especialistas e gestores públicos apontam desafios que a metrópole tem pela frente e falam da importância dos “presentes” que a população não recebeu neste aniversário de 117 anos de Belo Horizonte.
Com mais 200 mil carros nas ruas em 2014 – o que fez a frota chegar a 1,63 milhão de veículos – o BRT foi uma iniciativa importante para a capital implantar uma das metas que almeja para o futuro: uma rede de transporte com sistemas diferentes integrados. Mas para alcançar esse objetivo tem uma longa tarefa. “Belo Horizonte precisa aumentar o número de linhas troncais no modelo BRT, além de ampliar o sistema de metrô e investir em outras alternativas, como o monotrilho”, defende o engenheiro civil e mestre em transportes Silvestre de Andrade Puty Filho. Atualmente, 18 itinerários troncais ligam terminais de integração à Região Central ou a outras estações.
O “dever de casa” para o novo ano incluiu ainda promessas feitas no passado: concluir as obras do programa Corta Caminho é uma das principais. Com as vias 710, planejada para interligar as avenidas Cristiano Machado e Andradas, passando pela José Cândido da Silveira, e com a 210 – que liga a Via do Minério, Avenida Tereza Cristina e Avenida Úrsula Paulino – a expectativa é desafogar a área Central. “O Centro de BH já não é mais detentor de todos os empregos e serviços e, por isso, não há necessidade que todas as viagens passem obrigatoriamente por essa região”, explica Silvestre.
Na prática, o que se vê nas ruas é que a mobilidade de fato deu novos passos, mas ainda não embalou. Os corredores do BRT estão livres para os ônibus do Move e permitem deslocamentos com redução de até 50% no tempo de viagem para os 480 mil passageiros que aderiram à modalidade. O problema é que isso só ocorre nos trechos de pista exclusiva. O BRT ainda não se tornou atraente o bastante para fazer com as pessoas deixem o carro em casa e congestionamentos ainda são percebidos nas pistas de trânsito misto, onde carros, motos, caminhões e ônibus do sistema convencional disputam espaço. “O automóvel particular é muito atraente porque é um transporte porta a porta, ágil, sem baldeação, com o conforto de viajar sentado, no ar-condicionado e ouvindo música. E o problema não é ter um carro. A questão é que é preciso dar preferência no dia a dia para o transporte público. O BRT vem para corrigir esse conceito de que o sistema é precário e ruim”, diz Silvestre, reforçando a necessidade de integração do Move com novas alternativas de transporte.
BIKES NAS RUAS
O programador web Daniel Mariz, de 31 anos, já deu a sua contribuição para BH avançar em mobilidade. Desde janeiro trocou o carro pela bicicleta e, diariamente, percorre cerca de cerca de 40 km, 20 deles entre sua casa, no Bairro Floresta (Leste), e o trabalho, no Santa Lúcia (Centro-Sul). De lá pra cá, em cima das duas rodas, perdeu 10 kg e ganhou agilidade no trânsito. “Descobri que de bicicleta gastava menos tempo do que de carro por causa dos congestionamentos. Atualmente, tudo o que faço é de bike”, disse enquanto passava pela ciclovia da Avenida Olegário Maciel, no Bairro de Lourdes (Centro-Sul).
Pelo menos três vezes por semana, o analista de sistemas Fernando Castro, de 32, usa sua bicicleta para ir do Bairro Floresta ao trabalho, no Santo Agostinho (Centro-Sul). Fernando aprendeu na prática a lição que a BHTrans tenta ensinar aos belo-horizontinos: integrar modais. “Quando não venho com minha bicicleta, pego um ônibus e volto de bicicleta compartilhada”, disse, referindo-se ao sistema de bicicletas compartilhadas. A modalidade, inaugurada em junho, conta com 37 estações e 370 bikes. A meta é chegar a 40 terminais e 400 bicicletas até o fim do ano. “Não tenho medo, mas as rotas de bicicleta em BH não têm conexão. Isso pode inibir muita gente de usar a bike como meio de transporte”.
Expansão do metrô só no papel
Enquanto carros engarrafam a cidade, a população adere ao BRT e ciclistas se acostumam com os trajetos sobre duas rodas, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) prepara estratégias para colocar em prática o conceito de rede de transportes. Além do desafio de desafogar os corredores do Move – retirando linhas convencionais e integrando-as ao BRT –, precisa reduzir congestionamentos nos grandes cruzamentos das pistas exclusivas. Mas o grande pacote para ampliar o BRT – com o corredor Amazonas, inicialmente, e para construir mais 150 km de ciclovias integradas ao metrô e às estações do Move – não poderá ser comemorado em 2015, somente em 2016. Enquanto isso, a ampliação das linhas de metrô da capital também não saiu do papel este ano. E pior: sem prazo para ser expandidas.
Também integrante da lista de novas medidas, o projeto Complexo Vilarinho prevê a construção de três viadutos na Região de Venda Nova, no trevo de entrada para os 44 bairros do Vetor Norte da Grande BH, mas sem prazo para ser executado.
Os viadutos serão construídos nas avenidas Vilarinho, Pedro I, Doutor Álvaro Camargos e Rua Padre Pedro Pinto e são a grande aposta da PBH para abrir caminho para o Move e destravar o acesso ao aeroporto de Confins. De acordo com o secretário de Obras e Infraestrutura de Belo Horizonte, José Lauro Nogueira Terror, “é cedo para falar de prazo”. “Mas pretendemos realizar dentro do mandato do prefeito Marcio Lacerda”, disse. Apesar dos desafios, o presidente da BHTrans, Ramon Victor Cesar, afirma que todo o planejamento que está sendo feito levará à melhoria da mobilidade nos anos futuros. E fala dos avanços: “O sistema BRT criou um novo padrão de transporte, com pagamento antecipado e ônibus articulados com ar-condicionado e sistema eletrônico. Além disso, inaugura a vantagem de embarque em terminais com possibilidade de baldear para diversas regiões da cidade, pagando uma única tarifa.”
TRENS DE SUPERFÍCIE
Em 2014, foram concluídos os projetos básicos de engenharia do metrô para reforma e ampliação da linha 1 (Vilarinho/Novo Eldorado) e para implantação das linhas 2 (Barreiro/Nova Suíça) e 3 (Lagoinha/Savassi). Mas, para o início das obras, ainda sem prazo, a Metrominas aguarda a realização do convênio para transferência da administração e dos bens patrimoniais do Metrô de Belo Horizonte da CBTU para sua responsabilidade, no caso das linhas 1 e 2, ambas de superfície. Para o terceiro ramal, o projeto está sendo analisado pela Caixa Econômica Federal (CEF) para que, posteriormente, o governo federal assine um convênio de liberação dos recursos prometidos. A obras da linha 1 estão estimadas em R$ 1,1 bilhão e para a linha 2, o valor é de R$ 1,4 bilhão. Já a linha 3 (subterrânea), o valor estimado é de R$2,4 bilhões para construção, implantação de linha e estações.
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