Com 6.700 vagas para bicicletas, 200 km de ciclofaixas instaladas, 35 PLs (Projetos de Lei) em andamento na Câmara Municipal e um governo determinado a mudar a cultura da cidade, São Paulo segue rumo à consolidação da bicicleta como meio de transporte. Porém, o caminho ainda é longo no que diz respeito às alterações de cunho estrutural e, principalmente, no que diz respeito à mudança cultural dos moradores de São Paulo.
A vereadora Juliana Cardoso (PT) é a autora do PL que prevê desconto no IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) às empresas que derem condições mínimas para que os funcionários usem bikes, como a criação de bicicletários e vestiários. Juliana afirma que o maior desafio é o cultural e que a melhora da infraestrutura tem papel fundamental para aumentar o número de adeptos das bicicletas.
— A sociedade está em processo de aceitação, mas quando ela aceitar, automaticamente a então novidade se incorpora no dia a dia da população. E criar condições para a chegada de novos ciclistas é de extrema importância para dar visibilidade e ajudar os moradores de São Paulo a entenderem que têm agora mais uma alternativa de transporte, que é mais saudável e, muitas vezes, mais rápido. De acordo com cicloativistas consultados pelo R7, esta é a primeira vez na história da cidade que um governo dá ouvido aos apelos e pedidos deles para ajudar a transformar a bike em meio de transporte.
Entre as ações mais recentes da Prefeitura de São Paulo está a abertura de um processo de licitação para instalar 8.000 novos paraciclos pela cidade, que, geralmente, acomodam mais de uma bicicleta. Assim, número de vagas poderá triplicar nos próximos anos.
Cultura do medo
"Não andamos de bicicleta para chegar mais rápido, e sim para chegar melhor", afirma o cicloativista Missaki Idehara, um dos coordenadores da ONG Bike Anjo, que ensina voluntariamente pessoas a andarem de bike pela cidade. Idehara engrossa a lista de clicloativistas que acreditam que as maiores barreiras que a consolidação da bicicleta como meio de transporte enfrenta são culturais e de infraestrutura.
— As pessoas desconhecem as regras relacionadas às bicicletas. Fizemos na ONG uma pesquisa informal com jovens que estão tirando a carta de motorista. Mesmo na fase de estudar o assunto, que faz parte do aprendizado no CFC (Centro de Formação de Condutores), não há conhecimento relevante sobre a legislação das bicicletas, como usar os equipamentos de segurança e onde pode ou não trafegar. Mesmo sendo um meio de transporte e lazer democrático, que não precisa de habilitação para ser conduzido e nem tem idade limite para se aventurar, o uso da bike ainda esbarra no preconceito e é boicotado pela cultura do medo.
De acordo com Hamilton Takeda, diretor do Ciclo BR e coordenador do SOS Ciclofaixa, que presta serviços de mecânica aos usuários de bicicleta nas ciclofaixas de lazer, os problemas em relação à falta de educação dos motoristas e da segurança é uma realidade que, aos poucos, começa a mudar.
— Tenho 42 anos e ando de bicicleta desde os 12, quando fiz minha primeira viagem de bike com destino a Bertioga. Falo com propriedade que as coisas estão mudando. O governo do Fernando Haddad (PT) foi o primeiro a escutar os ciclistas. Antes disso tomamos muitas portas na cara. O início de grandes mudanças sempre é marcado por resistência. É uma mudança cultural que exige tempo.
A resistência que Takeda fala é aquela que vem da própria população que, segundo o diretor, quando vê mais um personagem nas ruas tende a usá-lo como agente colaborador para a piora do trânsito de veículos.
— Não sou contra o uso do automóvel, mas ele deve ser usado com inteligência, como no dia em que for fazer a compra do mês ou levar alguém ao médico. Quem trabalha até 5 km do trabalho deveria aposentar o carro e aproveitar os benefícios que pedalar promove, como a melhora da saúde e do condicionamento físico.
Cicloativistas concordam que as ciclovias e ciclofaixas da cidade são uma forma de incentivar o uso da bicicleta, principalmente na parte da população que tem medo de se aventurar pelas ruas da cidade. Segundo os ativistas, as ciclofaixas aumentam a sensação de segurança.
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