A Autoridade da Região da Grande Londres conta, desde o início deste ano, com o programa Mini Holanda, uma iniciativa que busca replicar a infraestrutura e cultura do ciclismo da Holanda nos municípios da periferia da capital inglesa. A ação conta com a implementação de novas ciclovias e tem como objetivo trazer mais pedestres e ciclistas para as ruas, melhorando, assim, a vida na cidade.
Segundo explicam, a decisão de iniciar este programa na periferia se deve ao fato de que mais da metade dos trajetos de bicicleta em Londres tem origem nessas regiões, o que é visto como uma grande oportunidade de adaptá-las ao ciclismo urbano. Este programa é liderado pelo prefeito Boris Johnson e faz parte de um projeto de longo prazo, denominado “Visão para o Ciclismo”, que considera integrar a bicicleta como sistema de transporte oficial.
Veja, a seguir, o plano de Londres para integrar a bicicleta na cidade.
A visão do município de Londres sobre o ciclismo urbano
O prefeito de Londres, Boris Johnson - membro do partido conservador – tem um jeito de fazer política que, segundo explica a coluna de Max Hastings, editor do jornal The Daily Telegraph, vem sendo bem recebida pelos habitantes, pois é mais próxima e, em certa medida, mais atualizada. Seu estilo alcançou maior visibilidade internacional durante os Jogos Olímpicos de 2012, evento que organizou e que lhe rendeu o título de político britânico mais respeitável.
Desde que assumiu seu segundo mandato em 2012, Johnson, que vai para o trabalho de bicicleta, tem liderado iniciativas que buscam melhorar a qualidade da vida urbana, como o Masterplan de Ciclovias de US$ 1,51 bilhões e a criação de Zonas de Baixa Emissão, um imposto que se somaria ao das Zonas de Congestão que regulamenta a tarifação viária.
Tomando estas iniciativas como referência, pode-se notar que o plano Visão para o Ciclismo impulsionado por Johnson reflete em sua maneira de fazer a cidade. Neste sentido, este plano tem como objetivo que a bicicleta seja incorporada à rede integral de transportes de Londres e que seja valorizada como um elemento cotidiano e confortável.
Isso será alcançado através de quatro objetivos. Primeiro, que a cidade possua ciclovias “ao estilo holandês”, isto é, separadas dos automóveis e confluindo com as vias de ônibus, metrô e trem, proporcionando rotas mais tranquilas para os ciclistas. Segundo, investir nos cruzamentos mais perigosos, tornando-osmais seguros e, com isso, fazendo que os ciclistas sintam que pertencem ao espaço público.
O terceiro objetivo deste plano é “normalizar” o ciclismo para que todos se sintam confortáveis ao se transportar de bicicleta, deste modo espera-se que até 2020 o número de ciclistas duplique.
A quarta e última meta consiste em oferecer lugares melhores para todos, o que, para o ciclismo, significa que através da construção de novas ciclovias podem ser criados corredores verdes que, por um lado, revitalizam certas vias subutilizadas e, por outro, oferecem aos cidadãos ruas mais verdes e seguras, sem a presença predominante dos automóveis.
Mini Holanda em três municípios
Dentro do plano Visão para o Ciclismo encontra-se o programa Mini Holanda, que foi anunciado em março e começou a ser implementado nas primeiras semanas de outubro nos municípios de Einfield, Kingston e Waltham Forest.
A escolha destes municípios, entre os 32 que formam a Grande Londres, não foi ao acaso. Na realidade, cada um deles criou um concurso municipal para reunir as melhores estratégias para se converter em lugares mais agradáveis para os pedestres e ciclistas e, assim, obter um financiamento de 30 milhões de libras esterlinas, pouco mais de US$47 milhões.
Einfield apresentou a necessidade de redesenhar seu centro, construir vias para bicicletas que conectem os principais destinos - que até agora estão segregados - e três estacionamentos para bicicletas, além de rotas verdes.
Kingstom considerou criar um estacionamento para bicicletas na praça adjacente à estação de trens homônima e construir mais ciclovias que possam ser parte da Riverside Boardway do rio Tâmisa, um projeto que pretende criar uma tora para ciclistas na orla do rio.
Já Waltgam Forest propôs o desenvolvimento de uma ciclovia ao longo da Lea Bridge Road e a criação de Zonas 30.
As propostas e o interesse dos municípios em participar deste programa demonstra, segundo Chris Boardman, assessor de políticas de ciclismo, que “entendem o que é uma visão de uma verdadeira nação ciclista. Quase metade dos lares de Londres não possui um automóvel e cerca de um quarto das viagens realizadas até o centro da cidade agora são feitas de bicicleta, assim, parece lógico que a infraestrutura e os recursos para esse meio de transporte reflitam isso”.
“Estavam fazendo escândalo por quê?”
Nestes três municípios o programa está em fase de testes, fechando temporariamente algumas vias de automóveis e abrindo-as para os ciclistas e ônibus. Alguns moradores reclamaram que não foram informados sobre o fechamento, outros alegam que se mover de taxi tem se mostrado mais difícil e outros são céticos e dizem que irão avaliar seus efeitos após um tempo.
Mas de acordo com um artigo do jornal The Guardian, quem se desloca com crianças diz que se sente mais seguro sem os automóveis ao redor e que, além disso, muitos cidadãos foram levados a refletir sobre as viagens que geralmente realizam de carro e que poderiam ser feitas de bicicleta.
Os comerciantes também afirmam que há mais pessoas caminhando, mais clientes nos estabelecimentos e que não tiveram problemas com as entregas dos produtos, como alguns disseram que teriam.
Diante das opiniões negativas sobre o plano, Paul Gasson, membro do grupo Campanha Ciclista em Waltham Forest, de um dos municípios escolhidos, assegurou que o Mini Holanda será bom para todos, pois irá reduzir o congestionamento e a poluição ambiental. Da mesma forma, referiu-se a este plano como quem o vê após alguns anos de sua implementação; ele acredita que no futuro dirão: “estavam fazendo escândalo por quê?”.
Via Plataforma Urbana. Tradução Arthur Stofella, ArchDaily Brasil.
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