Procurada por quem busca qualidade de vida, a cidade de Santos, no litoral paulista, talvez por isso mesmo sofra hoje com o aumento dos carros e o pesadelo da falta de mobilidade urbana. Sua frota está em 1,4 veículos por habitante, e cresce a taxas de 3 a 4% ao ano, segundo dados da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET).
Para tentar resolver os congestionamentos que travam a cidade, a Prefeitura, por meio da CET, decidiu implementar um maior controle do estacionamento de carros nas vias públicas centrais. Mas nem todos acataram a ideia. Entre os moradores e comerciantes contrários à medida, um grupo está contra a proibição de estacionar seus carros na Avenida Washington Luís (Canal 3). Marcos Denari, à frente do movimento, escreveu ao Mobilize pedindo que apurássemos o que ele considera ser uma "medida unilateral da prefeitura". O temor é que, com todas as faixas tomadas pelo tráfego dos carros, a via se torne mais barulhenta e até hostil aos que por lá caminham.
Como as vias são públicas, Denari reconhece que o meio-fio não devia ficar ocupado por veículos parados. Mas acha isso justificável, ante a total falta de estrutura para atender aos motoristas.
Já a CET, por sua vez, explica que a via do Canal 3 tem sete metros de largura, não pode ser alargada (os canais são tombados pelo patrimônio) e não comporta mais esta fila de carros estacionados dos dois lados, durante todo o tempo, inclusive nos horários de rush. Procurado pelo Mobilize, o órgão declarou que liberar a faixa de estacionamento tem como objetivo "favorecer a fluidez do tráfego, principalmente do transporte coletivo", inclusive para o embarque e desembarque dos passageiros nos pontos.
"No trecho em questão há 350 vagas de estacionamento que deverão ser suprimidas; em contrapartida, a medida beneficiará cerca de 1.300 veículos que transitam, por hora, em cada sentido de direção da avenida, além de 11 mil usuários que utilizam o transporte coletivo diariamente", declarou o órgão, por meio de nota. "A meta da CET é favorecer a coletividade, e não os interesses individuais", completa o texto, criticando a postura dos motoristas e comerciantes dessa via.
Impasse
Duas reuniões entre CET e moradores e comerciantes da Washington Luís já foram feitas desde outubro, sem que se chegasse a um acordo. A CET diz que nem mesmo a proposta de reduzir pela metade o horário da proibição em ambos os lados da via (inicialmente, a interdição ocorreria o dia todo, das 7 às 20 horas) foi aceita pelo grupo. Já os que protestam queixam-se de que "a Prefeitura não apresentou nenhuma alternativa consistente, que traga benefícios a médio e longo prazos", diz Delari.
Segundo ele, há o risco de que, sem a presença dos motoristas que ali deixam seus carros e seguem a pé, o local pode ficar esvaziado destes pedestres, "aumentando o risco de assaltos, e o aumento excessivo de veículos pode piorar a fluidez nas ruas transversais". A reivindicação do grupo é que a proibição de estacionamento só aconteça depois que a prefeitura tiver resolvido o problema da falta de vagas no bairro.
Amanhã, terça-feira (11), um novo encontro CET/motoristas e comerciantes está marcado; a expectativa, de parte a parte, é terminar este impasse.
Leia a mensagem do leitor Marcos Denari e, a seguir, a resposta da Prefeitura (CET):
"(...) Estou à frente de um movimento contra a CET e a Prefeitura de Santos que em 15 dias comunicou pelo jornal que iria proibir o estacionamento de veículos durante todo o dia na avenida mais arborizada aqui da cidade, a Avenida Washington Luís, para que esta avenida vire uma via expressa.
Os primeiros a se manifestarem foram os comerciantes e logo a seguir os moradores da avenida e cercanias. Agora, tomando conhecimento sobre o problema de Mobilidade Urbana, me dei conta de que um dos pontos mais defendidos é o de que as vias são públicas e devem servir para o tráfego de automóveis, e não para veículos estacionarem. Porém, no caso de Santos, nossa realidade é a de que temos uma frota de veículos muito alta, não temos estacionamento suficiente nem particular e muito menos municipal e não há terrenos para a construção de novos estacionamentos, mesmo que desejássemos.
A nosso ver, esta medida unilateral da prefeitura traria algum resultado imediato, mas provavelmente em pouco tempo também iria ser inútil, porque por ser uma avenida arborizada e muito bonita, todos iriam optar por trafegar por esta avenida trocando seu antigo caminho. Esta medida nos parece incentivar ainda mais as pessoas a saírem de cada de carro para usar este novo e liberado trajeto. Além do mais este escoamento de 1 km que a prefeitura deseja ampliar vai levar ao entupimento das ruas transversais que não comportam este tráfego, ou seja, iriam acelerar por 1 km e logo a seguir, parar novamente.
O ganho de alguns poucos minutos iria prejudicar todo um bairro, além de tirar perto de 500 vagas que ao longo do dia acabam permitindo o estacionamento de 3.000 veículos, sem oferecer nenhuma alternativa para estes veículos estacionarem, e transformando uma avenida arborizada e segura em uma via expressa de duas pistas onde o fluxo de automóveis aumentaria imensamente em detrimento do morador, levando perigo a todos, principalmente idosos e crianças, e ainda levando a longo prazo um extenso prejuízo a toda vegetação.
Outro aspecto levantado é o da experiência de algumas pessoas que nos relataram que passaram pelo mesmo problema em seus bairros: depois que as ruas que utilizavam para caminhar a pé para ir ao trabalho tiveram a proibição de estacionamento de veículos, os pedestres que antes entravam e saiam dos carros sumiram. Com isso estas calçadas ficaram praticamente desertas e passaram a ser de grande atrativo para trombadinhas assaltantes de pedestres. Assim, estas pessoas que antes iam trabalhar a pé passaram a fazer estes trajetos de carro com medo de serem assaltadas.
Nós aqui do bairro do Gonzaga e Boqueirão consideramos esta medida da proibição do estacionamento ao longo da av. Washington Luís muito pobre para tantos transtornos que irá trazer aos moradores do bairro e pela dimensão do problema de mobilidade urbana que Santos apresenta. Ao mesmo tempo a Prefeitura não está nos apresentando nenhuma alternativa consistente e que venha trazer benefício a médio e longo prazo."
Nota da CET:
"A cidade de Santos (SP) desde 2009 vem implementando medidas que procuram favorecer a fluidez viária e sobretudo priorizar o transporte coletivo. São faixas exclusivas e preferenciais para o transporte de massa; alteração de sentido de circulação das vias, tornando-as mão única; além de restrições ao estacionamento de veículos em ruas e avenidas com grande movimentação, especialmente naquelas que servem como rotas de ônibus.
Todas as medidas vêm ao encontro da lei federal de mobilidade urbana, pautada pela priorização do transporte coletivo e não poluente sobre o individual motorizado. E os resultados obtidos com as medidas de engenharia de tráfego estabelecidas até então foram positivos, com redução no tempo de percurso dos ônibus e demais veículos em torno de 40%.
A Av. Washington Luiz, que liga orla da praia (ponto residencial e turístico) à região central (onde há a maior concentração comercial e de serviços), por ser considerada uma das vias mais importantes da cidade, também passou a ser objeto de estudo da CET-Santos há pelo menos três meses.
A via tem pouca largura (7 metros) e trânsito intenso durante praticamente todo o dia. Quando os ônibus efetuam parada para embarque e desembarque de passageiros, havendo veículos estacionados à esquerda, os demais que estão em movimento também necessitam parar.
Para resolver estes problemas da mobilidade no Canal 3, a empresa desenvolveu projeto para proibir o estacionamento de veículos, desde o início da manhã e até o fim de tarde.
No trecho em questão há 350 vagas públicas que devem ser suprimidas; em contrapartida, a medida beneficia cerca de 1.300 veículos que transitam, por hora, em cada sentido de direção da avenida, além de 11 mil usuários que utilizam o transporte coletivo diariamente.
Como órgão municipal de trânsito, que trabalha para a população, a meta da CET é favorecer a coletividade, e não os interesses individuais. Não haverá qualquer alteração urbanística ou de paisagismo. Os canais santistas são tombados e não há a mínima possibilidade de alargamento da via, por estes motivos as intervenções no estacionamento se mostram necessárias.
A CET não tem dúvidas de que o projeto desenvolvido é o melhor para favorecer a mobilidade, pois foi feito com base em estudos de campo e contagens de veículos, em diversos dias e horários. Ainda assim a empresa reuniu-se, por duas vezes, com um grupo formado por moradores e comerciantes da Av. Washington Luiz, a fim de apresentar os estudos e ouvir as reivindicações da comissão."
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