A tragicomédia chamada “VLT de Cuiabá” ganhou outro capítulo recentemente. No trecho que liga o bairro do CPA ao aeroporto, na Av. Historiador Rubens de Mendonça, próxima ao bairro Bosque da Saúde, na capital, máquinas e homens trabalham para finalizar obras temporárias – de caráter paliativo – de drenagem e paisagismo. Canaletas para o escoamento de água empoçada e o uso de tapetes de grama podem até fazer parte do projeto, mas possivelmente terão que ser destruídos para a implantação dos trilhos.
Em 2012 o trecho em questão sofreu uma importante intervenção quando teve seu canteiro central desmanchado para uma futura implantação dos trilhos do VLT, que até hoje não aconteceu.
Com a justificativa da chegada da Copa do Mundo, realizada em 2014 e que contou com Cuiabá como uma das cidades-sede, um acordo firmado entre o consórcio VLT Cuiabá-Várzea Grande e o Tribunal de Contas do Estado (TCE) refez o trabalho paisagístico que havia sido destruído, apenas na época dos jogos, “para os turistas”, e que com a chegada da via de utilização do modal seriam removidos – pela segunda vez.
Agora, desde as primeiras semanas de outubro, o consórcio vem realizando serviços de “drenagem”, de modo a evitar acúmulo de água no que restou do canteiro central da via.
Um dos motivos que impedem a absorção e dispersão das chuvas foi a retirada das árvores e da própria grama que faziam parte da paisagem de um dos cartões-postais da capital e que também auxiliava no escoamento das precipitações, uma vez que elas estavam no caminho dos trilhos do meio de transporte que ainda não foram construídos.
A Avenida Historiador Rubens de Mendonça, popularmente conhecida como Av. do CPA, é uma das mais importantes vias de utilização dos cuiabanos que se deslocam para trabalhar ou estudar e o principal meio de acesso ao Centro Político Administrativo, local onde se encontram as principais representações institucionais e de classe de Mato Grosso, como o Palácio Paiaguás, sede do governo estadual, o Tribunal de Justiça e o Ministério Público.
Em contato com o Consórcio VLT Cuiabá-Várzea Grande, a equipe do Circuito apurou que as obras vêm sendo feitas em virtude do período chuvoso, que aumentará a demanda de drenagem urbana. Entretanto, a assessoria admitiu que a implantação de canaletas de escoamento é apenas solução “temporária”.
Intervenção é feita por conta de atrasos
O VLT, uma das maiores propagandas feitas pelo governo estadual e desejado pela população da Baixada Cuiabana, cuja gestão é de responsabilidade da Secretaria Extraordinária da Copa (Secopa-MT) é uma das obras de preparação dos jogos da Copa mais caras do país. Ao custo de R$ 1,477 bilhão no total, e que já teve mais de R$ 900 milhões consumidos dos cofres públicos, tem um projeto de qualidade duvidosa, que possui ações que não fazem parte de um trabalho de planejamento convencional.
A opinião é do doutor em engenharia de transportes e professor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) Luiz Miguel de Miranda. De acordo com o especialista, as obras de paisagismo e de implantação de canaletas de escoamento estão sendo feitas para não perder a camada de terraplenagem, no entanto ele afirma que essas e outras ações não fazem parte de um projeto convencional de engenharia, e que com o andamento dos trabalhos eles serão removidos.
“Estão fazendo esse trabalho para não perderem a camada que ali esta. É claro, porém, que esse tipo de serviço não faz parte de um projeto convencional de engenharia, e posteriormente serão removidos”, diz ele.
O professor chama a atenção ao possível aumento de recursos necessários para o andamento da edificação, uma vez que essas intervenções, por não serem parte de um projeto convencional de engenharia, podem deixa-la mais cara, “pois tudo tem um custo”, diz ele. Para o docente da UFMT, esse tipo de solução paliativa ocorre pois num planejamento adequado, “não se leva em conta os atrasos que podem ocorrer”, característica das obras de infraestrutura para a Copa realizadas pelo governo estadual.
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