Comerciantes contra ciclovias mudam de ideia, diz cicloativista dos EUA

Em Portland, que está entre as melhores cidades para andar de bicicleta no mundo, população dizia que bikes não teriam sucesso

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Fonte: ZH Porto Alegre  |  Autor: Laura Schenckel  |  Postado em: 22 de outubro de 2014

Ciclovias estimulam o consumo

Ciclovias estimulam o comércio

créditos: NYC Department of Transportation/ Divulgação

 

A contrariedade de moradores e comerciantes na implantação de ciclovias não é um sentimento restrito a Porto Alegre. Elly Blue, moradora de Portland, no Estado de Oregon, nos Estados Unidos, estava acostumada a escutar essa frase:

"Aqui não é Amsterdam, então não espere muito". Sempre ouvi isso. Não vai funcionar aqui. É algo que as pessoas adoram dizer.

 

A percepção desse sentimento e de que ele pode dificultar o trabalho de instalação das vias exclusivas aos ciclistas a motivaram a escrever o livro Bikenomics, ainda sem tradução para o português. Em Toronto, no Canadá, em mais da metade do tempo previsto para a implementação do plano cicloviário da cidade, foram construídas menos de 20% das ciclovias sobre a pista de trânsito, em parte, por causa da forte oposição do comércio local.

 

Ao saber da proposta do vereador João Carlos Nedel (PP) para que as ciclovias não tirem espaço dos veículos motorizados e da dificuldade nas últimas duas reuniões sobre implantação de ciclovia na Capital, Elly Blue afirmou que as reações são similares nos Estados Unidos (confira, abaixo, uma entrevista com a cicloativista):

 

"Os comerciantes costumam superestimar quanto de seus negócios são gerados a partir de pessoas que estacionam perto de suas lojas, e também como as ciclovias podem aumentar as receitas dos estabelecimentos comerciais. Geralmente, eles mudam de ideia depois, ao ver os benefícios econômicos das ciclovias e uso de bikes."

 

As dificuldades de Porto Alegre são similares, inclusive, às de Nova York, que promoveu uma revolução no trânsito de 2008 para cá. Em setembro, o gerente de projetos de mobilidade da EPTC, Antônio Vigna, assistiu a uma palestra de Janette Sadik-Khan, que chefiou o departamento de trânsito de Nova York, e ficou abismado em como as dificuldades são parecidas, apesar das diferenças entre as duas cidades.

 

"O que me impressionou foram os fatos se repetindo, tudo muito semelhante, as dificuldades dos técnicos de lá e a reação da implantação por parte das comunidades", conta o arquiteto da EPTC.

 

Após ser construído o trecho de ciclovia na Erico Verissimo, que ligará a Avenida Ipiranga à ciclovia da José do Patrocínio, a EPTC vai fazer uma nova pesquisa de percepção de comerciantes e moradores. A primeira foi feita durante a implantação do trecho da José do Patrocínio, para captar a percepção no momento anterior ao uso. Em Porto Alegre, por enquanto, com todos os trechos concluídos, a cidade tem menos de 25 quilômetros de ciclovia, de um total de 497 quilômetros previstos no Plano Diretor Cicloviário.

 

"O percurso por automóvel muitas vezes não permite a parada em algum local que se queira parar. A bicicleta permite isso. Lojas de ruas deveriam tratar o modal com muito carinho e atenção, pois podem ser as grandes beneficiadas com a implantação das ciclovias. Em Nova York, o comércio aumentou em mais de 30%. São números impressionantes", comenta Vigna.

 

Confira a entrevista com Elly Blue, moradora de Portland, no Estado de Oregon, Estados Unidos, e autora de Bikenomics:

 

A contrariedade de comerciantes e moradores muda com o tempo?
Normalmente, sim. Mas se há um embate muito forte isso pode dificultar o processo de aceitação. O mais fácil seria oferecer maneiras atraente e proativas de adotar a cultura da bicicleta, como a instalação de paraciclos.

 

Comerciantes de algumas vias de Porto Alegre ainda reclamam que as ciclovias não estão sendo usadas. Isso ocorreu também em outras cidades?
É preciso levantar dados e apresentá-los. Quantas pessoas andavam nesta via antes da ciclovia? E quantas andam agora? É muito difícil para as pessoas julgar o trânsito e as mudanças. A nossa visão facilmente interfere nisso.

 

Quais são as estatísticas mais convincentes em relação aos comerciantes?
Quando uma rua tem ciclovias não é só mais seguro como se torna um ambiente melhor para caminhar e comprar. Há diversos exemplos em que no primeiro ano, as receitas dos estabelecimentos comerciais aumentou em, pelo menos, o dobro.

 

Quais são os argumentos mais convincentes para os moradores de uma região?

Quando se instala uma ciclovia em uma rua, se cria mais segurança aos pedestres, aos motoristas e aos ciclistas. Isso ocorre porque os motoristas andam em uma velocidade que oferece maior segurança e ficam mais atentos.

 

Quais são os principais argumentos contra a implantação de ciclovias?
Muitos falam de áreas com relevo e clima como fatores que impediriam o uso de bicicletas, mas isso não é verdade. Uma das melhores cidades para se andar de bicicleta nos Estados Unidos é Minneapolis, que é bem fria e tem gelo no inverno, e as pessoas andam de bicicleta. San Francisco e Pittsburgh têm muito relevo e, apesar disso, há muitos ciclistas lá. Houston, no Estado do Texas, está crescendo como uma cidade propícia para as bikes, e tem verões bem quentes.

 

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