Depois de atravessar o século 20 alargando avenidas, escavando túneis e construindo elevados para aumentar mais e mais a velocidade de seus carros e motocicletas, cidades em todo o mundo começam a trabalhar para acalmar o tráfego urbano. Primeiro foi Copenhague, ainda nos anos 1990, seguida por várias cidades na Europa. Em maio passado, foi a vez de Paris, que reduziu a 30 km por hora o limite de aceleração em todas as suas ruas, e estabeleceu várias zonas 20km/h nas proximidades de ciclofaixas e ciclovias.
Agora, Nova York anuncia o plano Vision Zero Action, que pretende reduzir a zero o número de mortes no trânsito urbano. Em 2011, a cidade contabilizava 249 acidentes com mortes, número baixo para os padrões brasileiros, mas considerado muito alto pela população local. Daí a decisão da prefeitura de alterar a sinalização, pavimentos, largura de ruas e de mudar as leis de trânsito, estabelecendo o limite de 25 milhas por hora (pouco mais de 40 km/h) em todas as vias da metrópole. Com a redução de velocidade, as chances de mortes em acidentes caem drasticamente. "A missão primária de qualquer governo é proteger a vida de seus cidadãos", afirma o texto de apresentação do projeto.
O anúncio de Nova York coincide com o lançamento do projeto Rede Vida no Trânsito em Florianópolis, que quer transformar a cidade em uma referência em educação, respeito e gentileza no trânsito até 2020. A meta é desacelerar o trânsito, um dos mais violentos do país, segundo o médico Leandro Pereira Garcia, um dos articuladores da Rede, e com isso reduzir as mortes na capital catarinense.
A medida é bem-vinda e poderia ser estendida a todas as cidades brasileiras. Dados da OMS indicam que a taxa de mortes em atropelamentos é de 10% no caso de veículos trafegando a 30 km por hora e que essa taxa eleva-se a 90% em velocidades acima de 60km/h.
Os tais “acidentes” acontecem a todo momento nas ruas e avenidas do Brasil. Basta circular a pé pelas calçadas de qualquer capital para ver as cicatrizes deixadas em postes, árvores, defensas metálicas e placas de sinalização. O espetáculo é aterrorizante.
Se queremos cidades mais humanas, a primeira medida é desacelerar o carro, a moto, a correria da vida. Acorde mais cedo, caminhe, pedale, dirija devagar.